Nos últimos três meses, os futuros de soja em Chicago foram fortemente impactados pela guerra comercial que se estabeleceu entre Estados Unidos e China. Isto pode ser verificado na análise do comportamento de mercado dos principais contratos, entre os quais, os com vencimento em novembro/2018 (ZSX8) e janeiro/2019 (ZSF9), que passou a ser o principal direcionador de mercado (driver de mercado), com cerca de 285 mil contratos em aberto.
Observa-se que antes do início da guerra comercial, o mercado estava operando com forte suporte em US$ 10,00/bu e forte resistência em US$ 10,61/bu. Neste contexto, destaca-se que o conflito comercial entre EUA e China começou a ser precificado em 29/05/2018, já com fortes especulações sobre a possibilidade de retaliação chinesa, em decorrência da agressiva política estadunidense. Em 16/07/2018 consolidou-se uma perda equivalente a 21,30%, na ordem de US$ 2,2625/bu ou US$ 4,98/saca de 60kg.
Em 26/10/2018 a cotação dos futuros de soja com vencimento em jan/19 fechou em US$ 8,5775/bu, buscando romper o suporte de US$ 8,5275/bu, conforme é possível observar na Figura 1.
Figura 1. Futuros de soja com vencimento em janeiro/2018 na CBOT CME Group (Chicago/EUA)
Neste contexto, a pergunta que se faz é por que as fortes quedas em Chicago, que é a referência de preços internacionais para a soja em grãos, não resultou em significativas perdas para o produtor de soja da Região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul? A resposta reside na dinâmica de formação do preço, de modo que as elevações no Prêmio de exportação (remuneração adicional paga pelo importador para a soja destinada para o mercado internacional) e pelas elevações na taxa de câmbio. Portanto, apesar das fortes perturbações no mercado internacional, o produtor brasileiro foi blindado pela taxa de câmbio e pelo prêmio de exportações. Entretanto, estes movimentos chamam atenção para a necessidade de qualificação dos produtores na área de gerenciamento de risco.
Ao longo das últimas décadas, a eficiência dos agricultores proporcionou significativos aumentos nas produtividades dos principais produtos agropecuários. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a produtividade de soja mais do que duplicou no período 1980 – 2018. Ao incorporar os avanços da Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (DP&I), o produtor gaúcho proporcionou um verdadeiro salto tecnológico nas lavouras, mas no que se refere à comercialização da safra, muitos parecem estar utilizando as mesmas práticas do período em que o plantio direto era apenas uma notícia distante.
A globalização dos mercados trouxe consigo um novo desafio para a agricultura brasileira: a menor oferta no período de entressafra no Brasil passou a ser contrabalanceada pelo incremento da safra em outros países (principalmente no hemisfério norte) e, em função disto, os tradicionais ciclos sazonais de preços não estão acontecendo todos os anos. Do mesmo modo, a expressiva quantidade de produtos destinados para a exportação aumenta a influência da taxa de câmbio nos preços domésticos. Portanto, comercializar a produção e controlar o risco inerente a estas negociações passou a ser um desafio.
Estamos comercializando a safra da mesma forma como fazíamos antes do plantio direto e, em muitos casos, deixando de aumentar a renda ou perdendo oportunidades de investimento. É importante avançar em estratégias de comercialização assim como avançamos nos ganhos de produtividade. Sem isto, grande parte dos ganhos de eficiência na produção podem ser desperdiçados no momento da comercialização.
As estratégias de gerenciamento de risco se constituem como um instrumento a ser cuidadosamente analisado e perseguido, pois permite desmobilizar recursos, se proteger da queda nos preços e participar da alta. Uma gestão de risco profissionalizada exige que se aprenda a fazer hedge, seja para buscar a proteção de preços para soja da safra velha ou da safra nova. É possível, em operações no mercado futuro de soja, travar o preço e garantir uma margem de lucro.
No mercado de opções, as estratégias de risco consistem em se proteger da baixa de preços e participar da alta. Através do contrato de opções é possível aplicar o dinheiro obtido com a venda de soja no mercado físico na compra de opções na Bolsa. Se a bolsa parece distante de nosso produtor, em função de valores mínimos para negociação, o fechamento de negócios futuros com a cooperativa ou empresa cerealista também pode ser utilizado para travar o preço e garantir uma rentabilidade mínima. Portanto, o próximo e necessário passo é elevar a eficiência na área comercial, assim como na área de produção. Um curso básico de comercialização e gestão de risco na área de mercado agropecuário pode ajudar bastante para isso!
Prof. Dr. Nilson Luiz Costa
Publicado originalmente em Observador Regional.