Artigo publicado originalmente no Jornal Tribuna da Produção, de 12/10/2018.
O mercado de soja em grãos no Brasil segue fortemente impactado pela força da demanda chinesa. Os estoques brasileiros estão baixando e isto tende a garantir uma pressão altista, mas a taxa de câmbio pode limitar as elevações ou, ainda, impor reduções nos preços domésticos.
Para 2019, a tendência é de que a demanda doméstica exercerá pressão altista, uma vez que os estoques projetados para o fim de 2018 (1,45 mi/t) são os menores desde 1999. Este é um fato positivo, pois acreditamos que o conflito comercial entre China e EUA tende a chegar ao fim no médio prazo, apesar das retóricas agressivas do presidente dos Estados Unidos, uma vez que as equipes de Xi Jinping e Donald Trump estão buscando alternativas para um acordo. Com certeza, está na mesa de negociações a busca pela recomposição das perdas do segmento sojícola nos EUA. No caso de solução negociada para o fim da Guerra Comercial, a tendência será de pressão baixista nos mercados de soja em grãos no Brasil.
Apesar dos patamares muito próximos ao máximo da história recente, existe espaço para ampliação nos preços, mas elevações de dois dígitos dependem fundamentalmente da taxa de câmbio, que neste momento (09/10/2018) exerce pressão baixista sobre o mercado.
A conclusão que se tira desta conjuntura é de que apesar das turbulências internacionais, as cotações no Brasil ainda se mantêm em patamares superiores a dez dólares por bushel e mesmo que a soja americana apresente vantagem econômica para o importador chinês,
pois está mais barata, este mostra-se alinhado com o governo e não voltará para Chicago até que as questões de natureza política se estabilizem. Por outro lado, a agroindústria processadora de soja não vive um bom momento na China, pois os surtos de gripe suína têm resultado em redução na demanda por farelo de soja e prejuízos para o segmento asiático.
Dadas estas condições, o cenário atual traz desafios para o produtor gaúcho e brasileiro: elevação nos custos de produção e incertezas sobre as cotações do grão em 2019. A recomendação continua sendo travar o preço dos insumos e minimizar a exposição ao risco.
No curto prazo, a eleição de Jair Bolsonaro tende a causar uma redução na taxa de câmbio e, por consequência, pressões baixistas sobre o mercado físico de soja em grãos no Brasil.
Portanto, se o objetivo é reduzir o risco da atividade econômica agrícola, é prudente que este momento seja aproveitado para travar os custos, mediante venda futura.
Apesar de a taxa de câmbio ter recuado logo após o primeiro turno, eleições são caracterizadas por incertezas e é possível que o mercado opere com taxas mais elevadas nas próximas semanas. Se isto ocorrer, esperar-se-á altas no preço do grão.
Por fim, a boa gestão de risco recomenda cautela no momento da comercialização, pois este é um mês propício para fortes oscilações cambiais.