Figura 1: Douglas Scheid fazendo o isolamento do fungo ectomicorrízico.
O Engenheiro Agrônomo, e atual mestrando², Douglas Scheid, desenvolve pesquisa sobre as contribuições dos fungos micorrízicos em áreas agrícolas, cultivadas com pastagem perene e de fragmentos florestais, contribuindo para o aumento sustentável e ecológico da produção madeireira, na região do Médio Alto Uruguai.
A avaliação dos fungos micorrízicos que proporcionam maior crescimento e desenvolvimento das plantas onde está associado, é importante para a definição do melhor fungo para a planta em questão, o que poderá beneficiar a produção agrícola e madeireira, explica Douglas.
O mestrando enfatiza que planejou desenvolver esta pesquisa porque os fungos micorrízicos arbusculares e ectomicorrízicos não tem sua diversidade conhecida na região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul: caracterizada pela presença de fragmentos de Mata Atlântica, povoamentos de espécies exóticas, eucalipto e pinus, além de intensa atividade agropecuária com grande produção de milho, soja, e leite, a partir de pastagem, muitas vezes, perenes com tifton.
Identificação dos fungos micorrízicos
A grande quantidade de ambientes diferenciados existentes gera elevada diversidade de organismos, até hoje pouco conhecidos. Conhecer a diversidade de organismos, como os fungos micorrízicos, possibilita o estabelecimento de soluções para alguns problemas, e ainda auxilia no aumento da produtividade das plantas inoculadas. Como a diversidade de organismos conhecidos e catalogados no Brasil é pequena, se confirma a necessidade da realização de pesquisas como esta.
Figura 2: Fotomicrografia de esporo de fungo micorrízico |
Estima-se que haja 1,5 milhões de espécies de fungos com capacidade de associarem-se com plantas, enquanto que as regiões tropicais ainda estão pouco amostradas. Conhecer a diversidade de fungos micorrízicos é importante, porque apresentam impactos nos ciclos dos elementos, tais como carbono, fósforo e nitrogênio, podendo definir a produtividade e estabilidade dos ecossistemas.
A diversidade de fungos micorrízicos arbusculares é muito grande, pois estes apresentam alta capacidade adaptativa a diferentes meios de crescimento. O número de espécies variam de acordo com o clima, latitude, ecossistemas, distúrbios no ambiente e solo, e a medida da abundância relativa a cada espécie, denominada equitabilidade.
O método utilizado para a identificação de fungos micorrízicos se dá por meio de caracteres morfológicos, pois permite que por meio da utilização de ferramentas simples e o uso de chaves de classificação, possa ser realizada a identificação de organismos vivos, permitindo a geração e a difusão de conhecimento a respeito de determinada espécie. Porém, a sistemática dos fungos micorrízicos arbusculares sofreu modificações nos últimos anos, principalmente com o avanço das técnicas de biologia molecular.
A identificação taxonômica dos fungos é indispensável, além da correta identificação, a capacidade de crescimento e produção de inóculo inicial é importante para permitir a utilização na produção das plantas. Assim, a seleção de isolados fúngicos de maior eficiência é de fundamental importância para programas de inoculação de mudas. Geralmente, os fungos ectomicorrízicos apresentam baixas taxas de crescimento, e este lento crescimento pode impedir a utilização destes isolados em maior escala, principalmente pelo acúmulo de metabólitos tóxicos.
A inoculação de fungos micorrízicos e a resposta das plantas
Figura 3: Teste de associação de planta arbórea com fungo micorrízico. |
Nesse caso, é necessário avaliar o crescimento, o desenvolvimento e a compatibilidade das plantas hospedeiras, utilizando parâmetros como altura das plantas, diâmetro do caule, porcentagem de colonização radicular, comprimento radicular colonizado, comprimento total do sistema radicular, matéria seca total e conteúdo de fósforo na parte aérea.
A inoculação com fungos micorrízicos no estágio de mudas, proporciona maior taxa de sobrevivência dessas mudas em campo. No entanto, a resposta ou eficácia da simbiose micorrízica depende de três importantes componentes: a planta, o fungo micorrízico, e o ambiente solo. É possível que a associação de espécies florestais com fungos que formam associações simbióticas mutualísticas, seja uma alternativa promissora para obter-se aumento de produtividade da madeira.
Espécies florestais para produção de madeira que possuem rápida taxa de crescimento, e elevada produção de massa verde ou seca, englobam plantas dos gêneros Eucalyptus e Pinus. O gênero Eucalyptus apresenta alta produção de fitomassa, e é adaptado às condições de clima do Brasil. As espécies do gênero Pinus têm sido utilizadas em grande quantidade nos reflorestamentos, para a produção de madeira para a indústria moveleira e construção de casas.
As espécies nativas têm grande importância na conservação da biodiversidade, principalmente na fauna, sendo importante a produção de mudas para recuperação de áreas degradadas, dando preferência às plantas leguminosas, que tem a capacidade de fixarem nitrogênio atmosférico,
como a soja, alfafa, e a bracatinga, que possuem uma diversidade de espécies arbóreas, bastante ampla no Brasil.
Além disso, as culturas agrícolas com ênfase nas pastagens têm grande importância na região, por permitirem a alta produção de leite, que são os principais alimentos fornecidos aos animais. Desse modo, o tifton (Cynodon sp.) é uma das forrageiras utilizadas em maior quantidade, possuindo alta capacidade de produção de massa, com alta qualidade nutritiva.
O principal objetivo da pesquisa, segundo Douglas Scheid, é determinar a diversidade de fungos micorrízicos na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, e seu potencial na produção de plantas forrageiras e mudas de espécies arbóreas.
O engenheiro agrônomo acredita que “a diversidade de fungos micorrízicos na região Noroeste do Rio Grande do Sul, poderá ser elevada pelo grande número de prováveis plantas hospedeiras existentes”, logo, a planta inoculada com os fungos micorrízicos apresentará maior produtividade pela maior absorção de água e nutrientes.
O mestrando espera que, em seu trabalho, os fungos micorrízicos arbusculares formem associação com forrageiras cultivadas na região, que o isolado obtido aumente a produção de massa e qualidade da forragem, e que a utilização de fungos micorrízicos na produção de mudas de espécies arbóreas aumente seu crescimento e a sobrevivência no momento do plantio a campo.
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¹Adaptado do projeto registrado na secretaria do Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Agricultura e Ambiente, intitulado: “Diversidade de Fungos Micorrízicos em fragmentos de Mata Atlântica e sua aplicação na produção de espécies arbóreas”, e de informações fornecidas pelo autor do projeto.
²Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Agricultura e Ambiente da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Texto e fotos: Alessandra Weiler