Em homenagem aos dez anos de PE, realizamos entrevistas com três formandos do curso de Comunicação Social – Produção Editorial. Os convidados são Fabio Rücker Brust (da primeira turma), Alexandra Martins Vieira e Marina Judiele Dos Santos Freitas (da turma de 2019). Ainda, a fim de homenagear outros alunos que fizeram parte desses dez anos escolhemos mais nove formandos para responderem a pergunta: “Como surgiu o tema do seu TCC?”. As respostas podem ser encontradas no perfil do curso no Instagram, na série de publicações chamada “PE pensa, PE faz”.
Entrevistado: Fabio Rücker Brust
Título: “A prática da autopublicação: O papel do autor-editor e as novas possibilidades de publicação”, orientado pela Prof.ª Dr.ª Marília de Araujo Barcellos – 2014.
Como surgiu o tema do trabalho?
Desde o começo eu sabia que queria fazer um trabalho sobre uma das coisas de que eu mais gosto: ser escritor. Mas eu não tinha ideia de que maneira transformar um trabalho de final de curso em um trabalho relacionado à escrita… a minha primeira ideia envolvia fazer a produção efetiva de uma das minhas histórias, transformando-a em livro, mas faltava distanciamento para essa ideia funcionar. Relacionando as duas coisas, cheguei à possibilidade de estudar a autopublicação como um todo – que era, afinal, o que eu estava disposto a fazer: me autopublicar! Então, como uma espécie de pesquisa que serviria para a minha própria publicação posterior, o TCC surgiu como uma maneira de me envolver mais nesse meio.
Em seu trabalho você apresenta algumas ferramentas e plataformas que podem ser utilizadas na autopublicação (como Bubok, Clube dos autores, Kindle Direct Publishing e Kobo Writing Life). Você já tinha contato com alguma das plataformas citadas em sua pesquisa? Qual delas despertou mais o seu interesse na época?
Na época, eu usei uma lista disponibilizada por um site específico de autopublicação e pesquisei cada uma dessas plataformas para entendê-las melhor. Eu conhecia algumas delas, como o Clube de Autores e o KDP, e já tinha ouvido falar de outras, como a plataforma da Kobo. A que mais me interessou foi a da Amazon, Kindle Direct Publishing, pois é uma das mais utilizadas. Como muitas das autopublicações acontecem por meio de publicações digitais como e-books, fazia sentido focar mais no KDP porque ele tem conexão direta com o Kindle (já tá até no nome), que é o leitor digital mais famoso e difundido pelo mundo inteiro. Hoje, entretanto, a situação já mudou, com várias outras possibilidades e plataformas, como a publicação no Wattpad ou financiamento coletivo. Esse é um campo que está sempre em movimento – como tantos outros da Produção Editorial –, então nada está escrito na pedra. Isso significa que todos os dias temos a oportunidade de conhecer mais e descobrir mais.
Quais disciplinas mais colaboraram para o desenvolvimento do projeto? Quais DCGs indicaria para quem quiser seguir nessa linha?
Apesar de ser difícil de admitir isso, já que nunca foi minha praia, as disciplinas teóricas ajudaram bastante na hora de escrever o trabalho, não há como negar. Todos os trabalhos escritos, todas as longas horas estudando ABNT e tudo o mais acabaram facilitando bastante na hora de efetivamente escrever o TCC, fazendo com que o processo fosse menos penoso. Por outro lado, todas as disciplinas mais práticas também ajudaram bastante, principalmente na definição de temas (não só da minha parte, como da parte de meus colegas), de interesses e focos. Não é fácil decidir o que abordar em um trabalho tão aprofundado e importante, e com a quantidade de opções disponíveis às vezes pode até parecer impossível. Fazendo uma reflexão sobre nossos gostos e interesses ao longo da graduação inteira, das DCGs de que mais gostávamos, porém, foi mais fácil de identificar um tema e um assunto, uma abordagem, um ponto de vista… então, de uma maneira geral, todas as disciplinas acabam nos ajudando a produzir o trabalho final de uma maneira ou outra. Vai depender de cada um o quanto cada uma vai ser útil ou não.
Durante a graduação, participou de algum projeto ou foi bolsista?
Sim, eu fiz um pouco de tudo durante a graduação! Sempre que aparecia uma oportunidade, eu estava lá – principalmente para as que envolviam prática. Nunca fui muito da parte teórica, então, apesar de serem muito interessantes, as bolsas de pesquisa não eram para mim. Mas eu tive a oportunidade de trabalhar na Editora Facos, na Editora UFSM, na pE.com, na diagramação da segunda edição da revista O QI (que era uma bolsa, também!), e todas elas foram muito importantes para me trazer até onde estou. De maneira geral, testei um pouco de tudo: fiz diagramação de revistas, de livros, edição de vídeos, produção para web, alguma coisa de roteiros… e no final das contas consegui definir do que eu gostava. O espaço do curso é de experimentação, eu diria, o que significa que temos a chance de nos meter no que quer que nos apeteça e descobrir se, afinal, aquilo é para nós ou não. Foi o que aconteceu comigo, pelo menos.
O que você está fazendo atualmente?
Trabalho como freelancer para editoras, autores e empresas, fazendo diagramação, identidades visuais, ilustrações, edição de vídeos, capas… um pouco de tudo o que aprendi ao longo da graduação e do que veio depois, também. Descobri que o trabalho à distância é algo que funciona muito bem para mim – alguém a quem ficar sentado dentro de um ônibus por horas a fio até chegar ao trabalho nunca fez muito sentido, mas que já apreciou esse tipo de experiência, também. Sou feliz de ter parceiros de trabalho competentes e interessantes, clientes que valorizam meu trabalho e um interesse sempre crescente em coisas novas.
Além disso, apliquei na prática várias vezes o conhecimento que adquiri com o TCC, publicando meus próprios livros de maneira independente com diferentes níveis de sucesso – e tive até a chance de agradecer pessoalmente pela contribuição de alguns dos autores que entrevistei e que admiro até hoje!
Entrevistadas: Alexandra Martins Vieira e Marina Judiele Dos Santos Freitas
Título: “Relicário de Caetano: Criação de narrativa e livro-objeto em defesa de Capitu”, orientado pela Profª. Drª. Sandra Depexe – 2019.
Como surgiu o tema do trabalho?
A ideia para a criação de “Relicário de Caetano” como projeto experimental de final de curso surgiu a partir da concepção do livro “Zodíaco 187”, na disciplina de Projeto Experimental de Edição de Livros no 5º semestre ministrada pela professora Marília Barcellos. Zodíaco 187, era um livro do gênero policial investigativo, com conceito interativo, onde o leitor, no papel de detetive, poderia manipular os objetos e elementos extras da história para resolver o mistério. A partir da experiência positiva que tivemos com o projeto, decidimos que queríamos explorar mais esse formato de livro para narrativas diferentes e a partir daí, sob a orientação da professora Sandra Depexe, desenvolvemos o Relicário, a fim de aprimorar os estudos de criação editorial.
Como foi o processo de desenvolvimento do produto/material? Abordar os recursos ou materiais utilizados no projeto (foto, vídeo, livro…)
Escolhemos trabalhar “Dom Casmurro”, como temática do nosso projeto, por ser uma obra popular da literatura brasileira e que continua bastante atual, mesmo passados mais de 100 anos de seu lançamento. Optamos por contar a história – que no original é narrada por Bentinho – a partir de um novo ponto de vista. Para isso, reescrevemos a narrativa, para que ela fosse contada por um novo personagem, Caetano, como uma maneira de proporcionar uma nova perspectiva que explorasse outros aspectos da história. Em “Relicário de Caetano”, a partir dessa nova abordagem e levando em consideração a liberdade da adaptação, quisemos inserir temáticas de representatividade como a LGBTQI+ e a representação negra à história. No campo gráfico, o propósito foi produzir um material exclusivo e utilizar referências gráficas marcantes da época em que transcorre o livro de Machado de Assis , entre 1857 e 1900, para que o leitor tenha uma experiência de imersão durante a leitura. Para isso, realizamos uma pesquisa sobre a época que o enredo original ocorre, tanto para a melhor construção da história quanto para a inspiração do design gráfico do livro, com o objetivo de que assim, o leitor se sentisse inserido na narrativa, seu contexto e época. Assim, através de três diários escritos pelo personagem Caetano, suporte principal para se guiar na história adaptada, há a presença de outros elementos – jornais, cartas, bilhetes, notícias, fotos, perfumes, grãos de café – remetem ao livro original, se encontram reunidos em uma caixa e se conectando à narrativa de Dom Casmurro de modo sensorial. Consideramos assim, a importância de apresentar um livro-objeto inspirado em Dom Casmurro, como uma maneira de incentivar o consumo da literatura nacional, por meio da integração entre um formato tradicional de livro e a interatividade.
Quais disciplinas mais colaboraram para o desenvolvimento do projeto? Quais DCGs indicaria para quem quiser seguir nessa linha?
Para desenvolver esse projeto experimental, precisamos entender o que é um livro. Desde seu surgimento, o livro, mais do que um objeto, é um retrato da história tanto documental como ficcional de si próprio e da sociedade na qual ele foi produzido. Com isso, a principal disciplina que nos auxiliou no desenvolvimento, foi “Projeto Experimental de Edição de Livros”, visto que foi nesta aula que tivemos a oportunidade de desenvolver pela primeira vez um livro, além de entender a sua concepção. Porém, outras aulas foram essenciais para o desenvolvimento e aprendizado sobre criação gráfica, como Design Editorial, Semiótica da Comunicação, Planejamento e Produção Gráfica e Produção Editorial para Revistas. Buscamos aplicar um projeto editorial que conciliasse os diversos conhecimentos adquiridos durante a graduação, principalmente aqueles que envolvem o desenvolvimento de um livro, que vão desde a criação de conteúdo e preparação de texto, até o desenvolvimento e execução da área gráfica.
Durante a graduação, participou de algum projeto ou foi bolsista?
Durante a graduação, Alexandra e Marina (Nina), sempre foram aquela duplinha que “ia em tudo que dava”. Nós duas participamos de vários projetos desde o 1º semestre. Entramos no grupo de pesquisa “Construção do feminino: do livro às redes sociais digitais”, ministrado pela nossa querida orientadora Sandra Depexe, e ali nos encantamos com diversas temáticas, especialmente pela pesquisa. Ao longo do percurso, fomos participando de outros projetos que envolviam o universo de PE, como: “Programa Universo da Leitura”, “Produção Editorial em ação: do autor ao leitor, da academia à sociedade”, “Projeto de Editoração “Meu Livro Aberto” – Versão Visibilidade LGBTQIA”, “Explorando processos editoriais”, entre outros tantos, que auxiliaram no nosso crescimento como produtoras editoriais. Também fomos bolsistas em diversos âmbitos, porém aquela oportunidade que mais nos incentivou, foi ser bolsista de iniciação científica. Alexandra trabalhou no projeto “Distinção em trends: consumo e classe social no Twitter”, também ministrado por Sandra Depexe. Já a Nina, foi bolsista no projeto “Romântica, Real e Ativa: Narrativas Pessoais e Interação Sobre a Maternidade nas Redes Sociais” no grupo Comunicação, Gênero e Desigualdades orientado pela professora Milena Freire. E foram nestes projetos que encerramos uma parte da nossa trajetória como PE, pois, a outra parte, continua com a gente: no papel de exercer nossa profissão como Produtoras Editoriais. Procuramos, por meio do olhar que o curso nos proporcionou, sempre pensar em novos caminhos para as aplicações de nossos conhecimentos, buscando o olhar diferenciado aos meios já consolidados e assim possibilitar uma gama de acessos e novas cores para experimentar o mundo que nos rodeia.
O que você está fazendo atualmente?
O que fazemos atualmente, é resultado das diversas áreas que tivemos contato durante a graduação, seja no âmbito dos projetos gráficos assim como na área de pesquisa. Desse modo, Alexandra Martins é mestranda da linha de Mídias e Identidades Contemporâneas do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e além de pesquisadora, trabalha com diagramação e produção gráfica de livros impressos. Já Marina Freitas (Nina) continua participando de projetos ligados à pesquisa de gênero e identidades e trabalha nas áreas de Design Gráfico e ilustração. De tanto abraçar o mundo de PE, hoje o universo editorial nos abraça de volta.
Texto: Ana Julia Rodrigues, Camila da Silva de Oliveira, Yohana Iensen Teixeira e Lisara Bitencourt Ineu