Título:
Um continente literário: cartografias do horror nos romances brasileiro e hispano-americanos contemporâneos
Classificação principal: Pesquisa
Coordenadora: Renata Farias de Felippe – 1372231
Resumo: O projeto proposto pretende dar continuidade às atividades de pesquisa iniciadas em 2015 pelo projeto “Romance, um monstro de muitas patas”, cujo objetivo era o de discutir os contornos e a relevância do gênero romanesco no âmbito das literaturas brasileira e hispano-americanas contemporâneas. Se o título do projeto primeiro remonta a célebre afirmação de Julio Cortázar, para quem o romance seria “una cosa impura, muonstro de muchas patas y muchos ojos”, a máxima nos parece redimensionada na contemporaneidade, já que as “monstruosidades” de muitas das manifestações romanescas recentes ultrapassam o aspecto formal do gênero e passam a ser, reiteradamente, abordadas pelos romances latino-americanos publicados na última década. O projeto atual pretende abordar as “monstruosidades” dos/nos romances brasileiros e hispano-americanos contemporâneos a partir de uma ótica específica: tratando-os como possíveis desdobramentos do denominado boom latino-americano setentista, período no qual o cerceamento político e expressivo encontrou no fantástico um viés preponderante. Se nas décadas de 1960 e 1970 a abordagem ficcional se dava, sobretudo, pelo fantástico, muitas das manifestações romanescas dos últimos dez anos parecem atravessadas pelo horror, traço que não apenas evoca inúmeras tradições fabulatórias como permite a abordagem das “novas” urgências de ordem cultural e política. Assim, o trabalho de pesquisa proposto envolverá tanto uma análise de cunho arqueológico (no sentido foucaultiano), quanto a consideração de textos clássicos e recentes da crítica literária latino-americana (sobretudo, a crítica voltada para as formas romanescas e para os gêneros ficcionais). A amplitude da proposição e os inúmeros desdobramentos que a envolvem permitem entrever o caráter extensivo do projeto, o qual exigirá um intenso trabalho analítico bem como um vasto levantamento da fortuna crítica que o estudo compreende. A princípio, os escritores que movimentam as proposições expostas são o brasileiro Joca Reiners Terron, os mexicanos Guadalupe Nettel e Mario Bellatín, as argentinas Mariana Enriquez e Samanta Schweblin. Escritores cujas marcas autorais são tão peculiares quanto distintas entre si, suas respectivas ficções delineiam uma espécie de “continente literário”, de território simbólico que Terron, ficcionalmente, definiu – no romance Noite dentro da noite (2017) – como “um imenso cemitério indígena” (2017, p. 376). Atentas à reiterada presença do horror e da violência nas manifestações literárias mencionadas, as análises porvir tratarão as possíveis relações entre as reincidências em questão e as tensões (históricas, culturais, sociais) contemporâneas.