No último sábado (10 de setembro), tivemos a participação especial do pesquisador e artista multidisciplinar Ilan Manouach, conhecido por seu livro conceitual Katz (Cinquième Couche, 2011) e seu sistema tátil para narrativas pensadas para cegos Shapereader. Na conferência apresentada ao Grupo de Pesquisa Oficinas, Quadrinhos, Tradução (GPOQT) e aberta ao público externo, Manouach discorreu sobre os resultados da sua recente pesquisa de doutorado em torno de quadrinhos conceituais e na era pós-digital.

Em sua conferência intitulada Estranging Comics: Towards a novel comics Praxeology (Estranhando Quadrinhos: Rumo a uma nova praxeologia dos quadrinhos) Manouach nos dá um panorama do objeto central de sua tese, que busca investigar de que forma as tecnologias financeiras, a inteligência artificial e a logística globalizada de exploração do trabalho remodelam a indústria dos quadrinhos.

O início de sua fala já nos dá o “tom” de sua abordagem a se perguntar “por que os quadrinhos são um objeto contemporâneo e o que isso significa?” Partindo do entendimento da filosofa Anne-Françoise Schmid, que define o “objeto contemporâneo” como uma entidade extralocal, interobjetiva e extradisciplinar, ou seja, um objeto que é massivamente distribuído no espaço e no tempo, que se desdobram além dos proverbiais epicentros globais de produção de quadrinhos e que envolvem uma variedade de topografias diferentes, tanto geográfica quanto digitais.

O “estranhamento” do título está ligado ao estranhamento produtivo em relação às formas, qualidades materiais e operacionais do meio que reconfiguram a lógica convencional dos quadrinhos ao entendê-lo como um “objeto contemporâneo”, abraçando o impacto cumulativo das transformações digitais, da inteligência artificial, e outras tantas formas de produção interdisciplinar, individual e coletiva, que articulam uma nova praxeologia (ciência da ação humana) dos quadrinhos.

A conferência, em inglês, teve tradução simultânea e consecutiva da coordenadora do curso, Maria Clara Carneiro e mediação de Guilherme E Silveira, professor, pesquisador, autor de quadrinhos e membro do GPOQT.

Texto do Vice-Líder do GPQOT, Valter do Carmo Moreira.