Cerca de oito meses após os eventos climáticos extremos de maio de 2024, prosseguem na UFSM os projetos que têm relação com os impactos ambientais decorrentes. Muitos estudos que já estavam em andamento foram impactados e passaram por mudanças. Um deles é o programa de monitoramento hidrossedimentológico na bacia experimental do Rio Guarda Mor.
O Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Erosão e Hidrologia de Superfície (GIPEHS) da UFSM trabalha na busca de soluções para os problemas relacionados ao escoamento superficial e à erosão em bacias hidrográficas no Rio Grande do Sul. Atualmente, o grupo trabalha com a bacia experimental do Rio Guarda Mor, com o propósito de monitorar e modelar o planejamento de práticas de conservação do solo e proteção dos recursos hídricos.
O professor coordenador do grupo, Jean Paolo Gomes Minella, do Departamento de Solos do Centro de Ciências Rurais (CCR), explica que o trabalho desenvolvido nesta bacia é “entender e descrever o impacto da atividade humana, especialmente a agrícola, nos recursos hídricos, ou seja, como a ocupação humana no espaço afeta o comportamento dos rios e a qualidade da água, especialmente a produção de sedimentos”.
Minella explica que para desenvolver este trabalho precisa ser monitorada a chuva e, a partir dela, a transferência de energia, de sedimentos e de água. “Essas medidas são feitas a cada cinco minutos, a chuva, a vazão, os sedimentos, agroquímicos, fertilizantes e tudo que sai da bacia é medido em intervalos com alta frequência temporal. Trazemos essas amostras para o laboratório, e aqui fazemos a análise de quanto sedimento tem na água, como isso varia ao longo dos meses do ano, em função dos tipos diferentes de chuva. Assim, tentamos entender esse fenômeno, essa bacia hidrográfica”, relata.
Neste trabalho são utilizados equipamentos automáticos que ficam submersos na água, realizando a medição do nível do rio e a quantidade de sedimentos. Além dos equipamentos, a equipe de monitoramento, composta por alunos de graduação, pós-graduação e professores da Universidade, vão a campo, principalmente quando chove, para acompanhar desde a elevação do nível do rio até quando o rio voltar ao normal, para coletar amostras e verificar o funcionamento dos equipamentos.
Reestruturação com apoio do CARE/UFSM
Com o evento extremo das enchentes de maio do ano passado, os equipamentos que ficam submersos no rio tiveram danos devido ao volume de pedras, troncos e à turbulência da água. Ainda assim, a maior parte dos equipamentos não foi perdida porque o grupo estava fazendo a medição e, ao perceber a magnitude do evento, retirou-a da água e conseguiu salvá-la.
Mas o coordenador ressalta que equipamentos mais sofisticados e modernos melhorariam os trabalhos do grupo. “Os equipamentos modernos permitem a medição, principalmente da velocidade da água, estando fora do rio, sem a necessidade de estarem submersos, sofrendo o impacto das pedras e dos troncos. São equipamentos muito úteis em rios de montanha, como é o Rio Guarda Mor”, afirma Minella.
Além da reestruturação envolver um projeto de compra de equipamentos de monitoramento mais modernos, o Comitê de Apoio para Eventos Extremos e Emergências (CARE), que tem o objetivo de unir grupos técnico-científicos a fim de apresentar projetos e soluções possíveis para o enfrentamento da crise climática, auxiliou na reconstrução da seção de monitoramento, que sofreu erosão de margem e deposição de cascalho no fundo do leito. Assim, três meses após as enchentes, o grupo já conseguiu voltar a trabalhar, restabelecendo as medições de vazão, concentração de sedimentos e parâmetros de qualidade de água decorrentes dos estragos do evento climático.
A reestruturação do programa de monitoramento hidrossedimentológico na bacia experimental do Rio Guarda Mor em consequência de eventos climáticos extremos é um dos projetos vinculado ao CARE com o objetivo de aprimorar o monitoramento para melhor compreender a dinâmica hidrológica de pequenas bacias rurais, visando recomendar estratégias de conservação do solo e da água na escala de bacia.
Bacia abrange municípios da Quarta Colônia
A bacia hidrográfica do Rio Guarda Mor é uma sub-bacia do Rio Soturno, localizada na Quarta Colônia, envolvendo os municípios de Ivorá, Silveira Martins, Júlio de Castilhos e São João do Polêsine. Tem uma área de contribuição de 19.5 km², característica do rebordo do planalto, com elevada diversidade geológica e de solos.
O GIPEHS busca contemplar a população próxima ao Rio Guarda Mor com ações efetivas de monitoramento e planejamento da bacia, buscando conciliar as atividades agropecuárias desenvolvidas na área com um projeto de conservação do solo e água a ser instituído na bacia, para fazer frente à nova configuração de uso e manejo adotado pelos agricultores.
Impactos no sistema fluvial do Rio Jacuí e Lago Guaíba
O GIPEHS também realizou uma proposta de projeto de pesquisa ao perceber que, após o evento extremo das enchentes, houve uma grande mobilização de sedimentos para dentro dos rios, que chegaram ao Lago Guaíba. O projeto é para medir os grandes depósitos de sedimentos que ocorreram desde o Rio Jacuí – onde está a bacia do Rio Soturno, que possui a bacia do Rio Guarda Mor – e chegam até o Guaíba.
Segundo o professor, com base nas características químicas desses sedimentos, poderá se identificar o potencial poluidor do material depositado. “Todo esse material que foi depositado dentro do Jacuí, ao longo dos anos, vai remobilizar poluentes para dentro do corpo de água, causando problemas de eutrofização, uma série de aspectos negativos para a qualidade da água. Então, nesse estudo, o primeiro objetivo é identificar a origem dos sedimentos, ou seja, quais são as grandes bacias que contribuíram para a maior quantidade de sedimentos presentes ao longo do Rio Jacuí até o Lago Guaíba, e também avaliar o potencial poluidor dele, sendo fundamental para a gestão dos recursos hídricos”, relata.
Texto: Milena Gubiani, acadêmica de Jornalismo, estagiária da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista
Fotos: Arquivo do GIPEHS