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Revitalização do Mural do Teatro Caixa Preta: o restauro da expressão artística no Campus

Alunos de Artes Visuais participam da revitalização do mural “500 Anos de Invasão da América”, com previsão de conclusão para final de 2024



“Nunca me puxaram a orelha por errar. Quero que vocês tenham a liberdade de fazer o que vocês acreditam ser melhor”. É com essas palavras que o pintor, desenhista, escultor e professor, Juan Humberto Torres Amoretti, descreve, para os alunos do curso de Artes Visuais da UFSM, a construção da sua carreira e, principalmente, a criação e execução do mural “500 Anos de Invasão da América” (1992). Após 32 anos do término do projeto original, a obra localizada no muro do Teatro Caixa Preta, que compõe o Centro de Artes e Letras (CAL), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), passa por um processo de revitalização, que realiza a repintura, com a orientação de seu autor.

Alunos de Artes Visuais pintam o canto inferior esquerdo do mural. (Foto: Laurent Keller/Agência de Notícias)

A iniciativa partiu, em um primeiro momento, da própria direção do Centro de Artes e Letras (CAL), e foi financiada em parte pelo próprio centro, pela Pró-Reitoria de extensão (PRE) e por fundos do Grupo do Teatro Caixa Preta. A partir dessa decisão, o professor, pintor e desenhista, Altamir Moreira, foi convidado a coordenar a revitalização. Altamir  já tinha realizado o projeto de pintura do mural de homenagem às vítimas da Kiss. A repintura do mural do Teatro Caixa Preta funciona por meio de um Projeto de Extensão, e os participantes são, em sua maioria, alunos do curso de Artes Visuais, bolsistas e voluntários, além de ex-alunos do CAL.

Professor Juan Amoretti demonstrando técnica de pintura em oficina para colaboradores da revitalização do Mural do Teatro Caixa Preta. Foto: Laurent Keller/Agência de Notícias

As atividades deveriam ter iniciado em 2023, entretanto, por questões organizacionais, o trabalho iniciou-se no final do primeiro semestre deste ano. O cronograma de tarefas que envolvem a revitalização é organizado em turnos. Atualmente, 7 pessoas trabalham entre manhã e tarde, durante os dias da semana. Em alguns momentos, Amoretti, idealizador e pintor da obra, conduz oficinas para auxiliar os envolvidos a tentar reproduzir -e sentir- sua visão artística, além de avaliar o trabalho realizado, conduzindo, sobretudo, a reprodução de cores mais parecida com o original. A conclusão do projeto está prevista para o final deste ano.

500 Anos de Invasão da América: uma obra com D.N.A latino

Em uma das oficinas ministradas por Amoretti para os participantes do processo de revitalização do mural do Caixa Preta, o autor ressaltou o quanto essa obra foi importante, tanto para seu crescimento como artista, como para o momento em que a UFSM passava. “O muro do Teatro Caixa Preta era vandalizado constantemente naquela época, por isso, eu propus essa ideia ao reitor da época, que quis executá-la e, assim, foram cerca de 150 projetos até ela sair do papel”, comenta. 

Ao relembrar o processo de criação da obra, Amoretti ressalta que precisou prender gizes em taquaras de 6 metros para conseguir desenhar o esboço da pintura e todas as etapas de produção do mural foram realizadas com escadas. Atualmente, a equipe conta com ferramentas próprias para a execução do trabalho, como uma plataforma elevatória, uma maior quantidade de tintas – e de maior qualidade, já que, ao invés de utilizar tinta acrílica, utiliza-se esmalte acrílico – a sua disposição e utensílios mais adequados para a execução do trabalho.

Professor Juan Amoretti explicando para os alunos sobre a história da obra, além de conceitos técnicos. Foto: Laurent Keller/Agência de Notícias

O Mural, segundo as palavras do coordenador da revitalização, Altamir Moreira, é ousado, pois possui um “título questionador da narrativa histórica oficial dos livros escolares da época”. Ao revelar essa impressão em um dos textos que abre o Catálogo de Murais da UFSM, Moreira ressalta o quanto a construção do Mural, desde seu título, apresenta uma outra perspectiva desse evento histórico, substituído a palavra “descobrimento” -amplamente utilizada nos livros escolares e nos estudos em História da América Latina na época em que a obra foi realizada (1992)- por “invasão”, transformando o espaço público da Universidade em algo mais do que apenas belo, mas questionador e político. 

Além disso, Amoretti utiliza figuras nesse Mural inspiradas por deuses peruanos que contribuem ainda mais para a mensagem disruptiva da obra. Sobretudo, Mama Oclo (filha da Lua) e Manco Capac (filho do Sol), divindades que eram localizadas na Ilha da Lua e na Ilha do Sol, respectivamente, e eram responsáveis por apontar a localização para um novo império.

Juan Humberto Torres Amoretti

Amoretti nasceu em 1946, em Lima, no Peru. Iniciou sua carreira ao estudar Desenho e Pintura na Escuela  Nacional Superior Autónoma de Bellas Artes, aos 18 anos, em sua cidade natal. Depois de finalizar sua formação, Amoretti trabalhou com publicidade, após esse período, no Ministério da Educação do Peru como desenhista, fazendo cenários e maquetes. Essa experiência o ajudou a projetar e executar seu primeiro mural:  “500 Anos da Invasão da América”.

Chegou ao Brasil em 1974, e lecionou na UFSM entre 1975-2008. Influenciado pela cultura peruana, suas obras também carregam referências do Impressionismo – que tem como característica a ausência de demarcações claras e a intenção de que a obra seja apreciável no todo, e não no detalhe. A partir de 1984, o artista passa a investir na figura realista e suas obras são vistas em murais da UFSM. Quatro murais estão localizados no campus da Universidade.

São eles: 

“Quinhentos anos da invasão da América”, Caixa Preta, CAL, 1992; fonte: Catálogo de Murais da UFSM
“O mundo desde as tabas primitivas indígenas, as navegações, construções, até as naves espaciais”, CTISM, 1992; fonte: Catálogo de Murais da UFSM
“A árvore da vida”, Reitoria da UFSM, 1998 (obra foi executada também por Altamir Moreira, Catia Kunde e Marcelo Barcelos); fonte: Catálogo de Murais da UFSM
“O corpo humano”, HUSM, 1998. fonte: Catálogo de Murais da UFSM

 

A Restauração de Murais na UFSM

Não é de hoje que a UFSM promove atividades de restauração e revitalização das obras que compõem o Campus. O primeiro Mural a ser restaurado foi “A Lenda de Imembuí”(1976), 2018 localizado no segundo andar do prédio da Reitoria, de autoria de Eduardo Trevisan. O projeto foi realizado pelos artistas Flamarion Trevisan e Marília Chartune. Neste mesmo ano, é criada a Coordenadoria de Cultura e Arte (CCA), vinculada à Pró-Reitoria de Extensão, que busca fomentar esses projetos, e assim, no final de 2019, inicia-se o processo de restauração do Mural “Auwe”, localizado no prédio da antiga Reitoria, iniciativa que Amoretti fez parte como restaurador. 

Segundo a coordenadora da CCA, professora Vera Vianna, o Mural do Teatro Caixa Preta é o terceiro a ser restaurado na UFSM. Ela ressalta que “restaurar esse mural era um sonho antigo que já haviamos confessado a Juan Amoretti durante a revitalização do “Auwe”, mas somente ano passado, com o envolvimento do CAL, dos alunos, é que a ideia ganhou força e tornou-se possível”.

Outras obras espalhadas pelo Campus da Universidade necessitam de restauro e a Coordenadoria de Cultura e Arte se compromete em buscar parcerias para que isso seja viável. Além de trazer de volta a aparência original de uma obra, os processos de revitalização permitem que futuras gerações possam conhecer um pedaço tão importante da história do Campus, que para além de aprendizado, pesquisa e ciência, é um espaço de bem-estar da comunidade acadêmica, permeado de trocas simbólicas, feito de pessoas, para pessoas.

 

Texto: Clarisse Amaral, bolsista Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista

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