O seminário “Mudanças climáticas e os desafios na reconstrução de sistemas alimentares sustentáveis” foi uma das atividades promovidas pela UFSM durante a 30ª Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop), realizada de sexta-feira (12) até domingo (14) no Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter, em Santa Maria. O objetivo foi discutir ações para estimular a agricultura familiar, a agricultura urbana e periurbana, a agricultura praticada pelos povos tradicionais, indígenas e quilombolas para garantir a segurança alimentar sustentável, especialmente após a emergência climática que acometeu o Rio Grande do Sul recentemente. A promoção foi do Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (GT-SSAN) da UFSM, com apoio da Pró-Reitoria de Extensão (PRE), por meio do Observatório dos Direitos Humanos (ODH).
O seminário teve abertura na tarde de sexta (12), no palco principal da Feicoop, com a presença do ministro-chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, e do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, além do reitor da UFSM, Luciano Schuch, do pró-reitor de Extensão da UFSM e moderador da abertura, Flavi Ferreira Lisboa Filho, e da professora Rita Inês Paetzhold Pauli, coordenadora do GT-SSAN e organizadora do seminário. Mais de 100 pessoas acompanharam a abertura.
Na ocasião, os ministros destacaram a importância de políticas públicas sociais que minimizem a desigualdade social e a necessidade de existir estratégias que previnam desastres ambientais, que atingem de maneira agressiva a parcela mais vulnerável da população. Também foi ressaltado que o plano de reconstrução sustentável leva a reflexões sobre os efeitos das mudanças climáticas e da relação destrutiva que o homem estabeleceu ao longo do tempo com o meio ambiente, para compreender que se outras políticas públicas tivessem sido adotadas, seria possível minimizar os efeitos da catástrofe, que atingiu, em sua maioria, pessoas oriundas do meio rural que estabeleceram moradia às margens dos rios em condições precárias.
Apesar dos desafios de reconstrução, Pimenta afirmou que o apoio da UFSM será crucial não só para olhar para o que aconteceu, mas também visualizar o futuro, para tentar construir e reconstruir de forma diferente, não somente as casas, mas outras relações econômicas e sociais, ocupar outros espaços urbanos e discutir a insegurança alimentar. Ainda enfatizou a importância dos projetos das hortas comunitárias no município, que tiveram assistência técnica com auxílio da Universidade.
Palestras e relatos de experiências
Após a abertura oficial, o seminário teve continuidade na manhã de domingo (14), no lonão da autogestão, com a discussão das temáticas que envolvem a agricultura urbana e periurbana como estratégia para apoiar a alimentação adequada e saudável e relatos de experiências das hortas comunitárias, prisionais, hortas escolares e terapêuticas. As palestras foram realizadas por representantes do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
“Foi possível nos apropriamos de muitas informações importantes acerca das formas de fomento atuais de cozinhas solidárias pelo governo federal, tão centrais do ponto de vista da implementação de iniciativas locais para minimizar a fome”, avalia Rita.
Entre o público que acompanhou as discussões da manhã chuvosa do domingo esteve o jornalista Marcelo Canellas. Atento aos relatos de experiências, ele se apresentou como “jornalista e contador de histórias”.
Rita destaca a importância de discutir o tema – que sempre foi e é ainda mais importante neste momento – durante a Feicoop, um espaço que promove a economia solidária, de forma mais justa e sustentável. Os alimentos comercializados pela economia solidária são, majoritariamente, produzidos pela agricultura familiar e agricultura urbana e periurbana.
“Os empreendimentos urbanos utilizam tecnologias sociais e grande parte são artesanais, utilizando produtos reciclados e matérias-primas que normalmente não são aproveitadas pela indústria. Alguns alimentos comercializados provêm de territórios em transição agroecológica, especialmente de ex-fumicultores, que deixaram de produzir a agricultura comercial, que utiliza em seus processos produtivos agrotóxicos em larga escala”, observa a professora.
Para Rita, o seminário marcou mais uma participação ativa junto à Feicoop. Economista, ela foi uma das fundadoras da Cooesperança, que organiza o evento, junto com nomes como a Irmã Lourdes Dill, e segue até hoje auxiliando e contribuindo por meio de projetos.
GT-SSAN
O Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional tem por objetivo central integrar os diferentes projetos de extensão e pesquisa na UFSM, o que está sendo realizado por meio de um mapeamento, especialmente das ações realizadas nesta área nos últimos anos.
Rita falou sobre o objetivo do grupo em seu discurso na abertura oficial do seminário. “Não existe nenhuma estratégia de desenvolvimento que antes não combata a pobreza, e a pobreza em sua forma mais grave é justamente a falta de alimentos, e alimentos de qualidade. Lutamos pela sustentabilidade do setor agroalimentar como um todo, para permitir que todos tenham acesso a uma alimentação adequada e saudável”, afirmou.
Na próxima Jornada Acadêmica Integrada (JAI), o GT-SSAN terá um espaço próprio para ampliar a integração das incursões, enfatizando a importância da intersetorialidade das ações.
Fotos: Divulgação