Em mais um ano, a literatura é celebrada. Entre os dias 04 e 07 de outubro, a Cesma é palco da sexta edição da Festa Literária de Santa Maria, a Flism, evento que promove o encontro dos santa-marienses com a literatura e diferentes formas de arte como a música, o teatro e a dança. A programação desta edição leva a magia e a diversidade da literatura ao público através de debates sobre a cultura indígena, a autoria trans e a relação de escritores com as plataformas digitais.
A Flism é um projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria, vinculado ao Centro de Artes e Letras (CAL) da Instituição. Enéias Tavares, um dos organizadores do evento, conta que a iniciativa surgiu a partir do desejo de levar o debate sobre literatura ao centro da cidade. “Queremos estabelecer uma ponte entre a Instituição e a cidade. O evento ocorre aqui na Cesma para mostrar à população que a UFSM está aqui”, completa.
Cultura indígena, autoria trans e plataformas digitais em debate na Cesma
A cada edição da Festa Literária, a Cesma é palco da diversidade – presente a partir da escolha de autores e temática dos painéis. Na edição deste ano, a programação incluiu, pela primeira vez, o debate sobre a cultura indígena, a autoria trans na literatura e as novas mídias, como o podcast. Raquel Trentin, também organizadora do evento, explica que, a cada ano, são incluídas novas vozes para dialogar com os interesses do público. “A gente vive um momento em que precisamos promover a leitura, mas acima de tudo, a escuta da diversidade e das diferentes perspectivas de mundo. Então, acho que a programação diz muito sobre isso”, afirma a docente.
A abertura do evento, que ocorreu na noite da quarta-feira (04), recebeu o premiado escritor português José Luís Peixoto – referência na literatura contemporânea. A programação teve sequência na tarde da quinta-feira (05) com o escritor e ativista indígena Daniel Munduruku. Autor de livros como “Histórias de índio”, “O olho bom do menino” e “Meu vô Apolinário”, ele compartilhou os desafios na inserção da literatura indígena na sociedade. “Nos fizeram esquecer o que estava atrás de nós, que é o passado e a nossa memória. Porque no passado dos brasileiros tem os negros e os indígenas. Mas acabaram esquecendo que a gente faz parte desse território, desse lugar. E quando essas vozes aparecem, infelizmente, são acompanhadas de intolerância e perseguição. Como não aprendemos a tolerância, a gente não consegue praticar. A gente só faz o que aprendeu a fazer”, afirma Munduruku. Diante dessa perspectiva, o escritor encontrou na literatura uma forma de contar as crenças indígenas e reconstruir, no Brasil, uma formação que ensine sobre o passado brasileiro e sua ancestralidade.
Na sequência, a programação contou com painéis sobre narrativas de terror, tecnologia, literatura gaúcha e lançamentos – que encerraram o segundo dia de evento. A novidade ficou por conta do painel “Literatura e Podcast” que debateu o uso de novas mídias, com AJ Oliveira, criador de “Os 12 Trabalhos do Escritor”, um dos podcasts literários mais antigos do Brasil. A iniciativa já conta com mais de trezentas horas de entrevistas com escritores nacionais sobre todos os processos de criação, desde a escrita até a publicação e carreira.
AJ Oliveira contou que é ouvinte de podcast há mais de 15 anos – “quando tudo ainda era mato”, como ele afirma. Foi dessa forma que viu no formato uma possibilidade democrática e acessível para falar sobre escrita criativa, mesmo antes do smartphone. “É acessível porque para você ter acesso a ele, só precisa ter internet e fazer um download. E também no que diz respeito a produção de conteúdo – para criar um podcast, eu só precisava de internet, de um computador que eu já tinha e um microfone velho de 15 reais que utilizei na época”, lembra. Com isso, de casa, ele iniciou a trajetória como podcaster porque, naquele momento, ainda não existia um conteúdo que falasse sobre o assunto. Hoje é referência no país.
Na fila para garantir a foto e o autógrafo com Daniel Munduruku, a psicóloga Liana Baldissera conta que sempre procura aproveitar eventos literários e o contato com diferentes autores. “Esses espaços são importantíssimos. Foi lindo escutar escritores como o Daniel. Eu já sabia que ia ser especial, o evento traz questões muito interessantes de forma sensível”, afirma Liana. As acadêmicas de Letras na UFSM, Polyana Floriano e Milena Ilha também aproveitaram a oportunidade para agregar conhecimento. “É a primeira vez que participamos e espero ter essa oportunidade outras vezes porque é um contato direto com a literatura. Esse envolvimento é cultura, é vida”, comenta Polyana.
Onde diferentes artes se encontram
A sexta edição da Flism também promove o encontro da literatura com a música, a dança e o teatro através de intervenções artísticas. Gérson Werlang, docente do curso de Música da UFSM e organizador do evento, afirma que o objetivo desse movimento, que se intensifica a cada nova edição, está em promover a integração entre diferentes artes. “Sentimos que enriquece o evento quando encontramos, além da literatura, a música, a dança e o teatro. É uma tendência que vamos manter e até aumentar no futuro”, completa.
Os acadêmicos de Música da UFSM, Adilson Rossa e Evandro Depiante, receberam os inscritos com muita música antes do início dos painéis. A dupla que se formou há pouco tempo, a partir da troca no curso, fez sua primeira apresentação para o público durante o evento. “Eu acredito que seja bem importante trazer a música para um evento literário… A gente só tem a ganhar com essa integração”, conta Evandro. A dupla ainda falou com entusiasmo sobre a acolhida do público – que até dançou e cantou junto.
Festa Literária segue nesta sexta e sábado
A Flism segue nesta sexta-feira, 06, com painéis sobre literatura e magia, autoria trans, literatura em Santa Maria, além de um bate-papo com a escritora Mar Becker e sessão de autógrafos. O encerramento do evento acontece no sábado, 07, no campus da UFSM em Silveira Martins. Por lá, o público encontra mais debates sobre literárias, exposições artísticas e palhaçaria. Para os organizadores, essa foi uma forma de ampliar a iniciativa para além de Santa Maria. “É uma programação pensada também para o público conhecer o espaço, que é muito bonito por sinal. Dessa forma, conseguimos ampliar o universo da UFSM”, afirma Gérson.
Confira a programação:
Sexta-feira (Cesma):
14h – Faces do Insólito Latino-Americano
Com Renata Farias de Felippe
15h – Literatura e Magia
Com Marcia Heloisa e Enéias Tavares
16h – Literatura de/em Santa Maria
Com Ana Beltrame e mediação de Pedro Brum Santos
17h30 – Autoria Trans na Literatura Contemporânea
Com Anselmo Peres Alós
19h – Mar Becker: “Tornar o Amor uma Casa”
Com mediação de Raquel Trentin
20h30 – Sessão de autógrafos
Sábado (UFSM Silveira Martins)
14h-17h – Atividades Culturais
Texto e fotos: Thais Immig, estudante de jornalismo e voluntária da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista