Nesta segunda-feira (5), foi apresentado um estudo preliminar da reforma do Teatro Caixa Preta, localizado em frente ao prédio 40, no Centro de Artes e Letras (CAL) da UFSM. No próprio espaço, os arquitetos da Pró-Reitoria de Infraestrutura (Proinfra) Charles de Almeida Ferreira e Gianine Pivetta Mello apresentaram os resultados do projeto que prevê melhorias e adequações no local. O evento também contou com a presença do diretor do centro, Gil Roberto Costa Negreiros, e da presidente da comissão do Teatro Caixa Preta, professora Raquel Guerra, do Departamento de Artes Cênicas. A comissão discutirá a proposta e poderá mandar sugestões.
Contente com a possibilidade de o projeto seguir em frente, Charles, que também é diretor teatral, conta que estar envolvido nele faz seus olhos brilharem. Em sua apresentação, o arquiteto revela que o objetivo da reforma é qualificar o espaço, que não está dando todo o suporte necessário para as atividades que o CAL desenvolve. Ele explica que há atualizações nas legislações, como a NBR 9050/2020, que trata dos critérios de acessibilidade em edificações. Charles conta que, quando um prédio é construído, precisa obedecer às normas vigentes em sua época, porém, se passar por reforma, precisa se adequar às normas atualizadas, como é o caso do Caixa Preta. Um exemplo é a rampa de acesso ao teatro. Ela estava na largura certa, até a mudança na norma, que pede um aumento.
Nickiane Ceolin, estudante de Artes Cênicas na UFSM, destaca que a reforma do Teatro Caixa Preta é importante para os ensaios e apresentações. “O chão do Caixa está bem danificado, tem muitas farpas que saem do piso”, ressalta a estudante.
Atender às necessidades – Uma das preocupações do projeto é com a segurança do trabalho. Com isso, prevê-se reforma no piso e adequações no teto, para que possa sustentar apresentações que fazem amarrações nele. Já em relação à acessibilidade, projetam-se estacionamentos acessíveis, que compõem todo um caminho de acesso facilitado ao teatro. “A acessibilidade do prédio começa no estacionamento e termina na saída”, comenta Charles.
Ele expõe que este caminho é de uma acessibilidade universal, ou seja, que abrange o cadeirante, a gestante, o idoso e a pessoa com mobilidade reduzida temporariamente, dentre outros. “Para que todos possam entrar pelo mesmo local, da mesma maneira, que não seja difícil”, complementa. Nesse sentido, o projeto de reforma contém um acesso para entrada e saída de público, e outro destinado a quem está nos bastidores. A concepção da entrada é projetada conforme o número máximo de ocupantes. “É uma entrada desobstruída, completamente aberta. Tem corrimão e guarda-corpo conforme a norma dos bombeiros pede”, afirma Charles.
Novas implementações – Ademais, as rotas de saída deverão ser adequadas. O arquiteto apresentou três disposições diferentes da plateia com o palco, para que em todas elas haja uma saída de emergência viável. Isso vem da própria concepção do Caixa Preta, pensado para não ser um teatro convencional, diferentemente do formato italiano, estrutura onde o espectador fica de frente ao palco. O caráter do Caixa Preta é industrial, além de permitir flexibilizações conforme o espetáculo. Se tiver uma outra configuração de plateia muito diferente do previsto no projeto, precisa-se pedir uma licença especial. Outras configurações que serão abordadas dizem respeito à especificação de materiais. Nela, analisa-se quais são os mais indicados para situações como a reverberação de som, a absorção de calor, entre outras.
Um segundo piso também foi projetado, no estilo mezanino. Perto da entrada, ele comportará a área técnica, que atualmente é de tamanho insuficiente, e um pequeno depósito. Assim, respeita-se o fluxo do espetáculo, ao pensar-se em quais movimentos serão feitos ao longo de uma apresentação e torná-los mais ágeis e funcionais. Nesse ambiente, haverá uma escada e uma plataforma elevatória. Vale mencionar que as mudanças buscam também ser um espaço convidativo e acolhedor.
Uma das novidades é a colocação de painéis ao redor do prédio, exceto na fachada. Pretos, eles mantêm o conceito do teatro e ainda sombreiam a edificação, amenizando o calor no verão. Está prevista ainda uma bilheteria antes da entrada no teatro.
Valéria Antunes, estudante do curso de Artes Cênicas na UFSM, explica que o Caixa Preta é um laboratório para o corpo discente dos cursos do CAL. “O teatro é uma sala de aula onde se aprende muito, desde a mexer na iluminação até a apresentação em si”, destaca a estudante. Valéria enfatiza que a reforma possibilitará um diálogo maior entre a UFSM e a sociedade.
Breve histórico – O Teatro Caixa Preta foi inaugurado no dia 5 de abril de 1988. Como o Theatro Treze de Maio esteve inativo por cerca de oito décadas (tendo sido reinaugurado no final de 1996), o Caixa Preta foi durante alguns anos o único teatro de Santa Maria, época em que “recebeu diversos espetáculos nacionais e internacionais”, relembra a professora Raquel Guerra. Em 1992, o teatro da UFSM ganhou em sua parte externa a pintura do mural 500 Anos da Invasão da América, obra do artista plástico peruano Juan Humberto Torres Amoretti, que é também professor aposentado da instituição.
O espaço passou por duas reformas parciais: a primeira delas em 2002, com reparos nos urdimentos (armações no teto do palco) e na iluminação, e a outra em 2018, ocasião em que foi contemplada a parte elétrica. Em abril de 2019, por falta de segurança e devido à infraestrutura inadequada, o teatro foi fechado para a montagem de espetáculos. O fechamento prosseguiu depois durante toda a pandemia de Covid-19. Foi somente em dezembro do ano passado que o teatro voltou a receber espetáculos, com públicos pequenos. As apresentações têm se limitado a espetáculos produzidos por alunos dos cursos de Artes Cênicas e Teatro da UFSM.
“A nossa perspectiva é que, assim que a gente estiver regular, com alvarás e toda a reforma, a gente possa receber espetáculos de fora, espetáculos internacionais novamente, e colocar o nosso espaço como um teatro de ponta”, almeja a professora.
Confira imagens do projeto:
Texto: Gabrielle Pillon (bolsista), Gustavo Salin Nuh (estagiário) e Lucas Casali
Fotos: Gustavo Salin Nuh
Edição: Lucas Casali