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Para estes idosos, a universidade é a fonte da juventude



Eles são jovens de mais de 60 anos com um sonho na cabeça: manter o prazer de viver durante a velhice. Na UFSM, a realização deste sonho é proporcionada hoje a aproximadamente 150 idosos que estão matriculados na categoria Aluno Especial II. No dia 28 de julho, este projeto completa 20 anos, tendo aberto as portas da universidade nesse período a mais de 500 idosos.

Para ingressar na UFSM como Aluno Especial II, é necessário ter no mínimo 55 anos de idade. Estes idosos podem cursar até três disciplinas por semestre, a serem escolhidas em uma lista divulgada pelo Departamento de Registro e Controle Acadêmico (Derca). As disciplinas ofertadas a eles são aquelas em que há vagas não preenchidas por alunos regulares da graduação. Em média 15 dias após o período de rematrícula, as vagas que sobram podem ser ocupadas pelos idosos.

“O projeto procura convidar as pessoas da universidade da vida para que elas tragam a sua experiência para dentro da universidade convencional, fazendo uma mescla deste conhecimento, o que resulta nessa mistura maravilhosa que deu aqui”, diz o coordenador do projeto, o professor José Francisco Silva Dias (mais conhecido como “Juca”).

Entre as disciplinas mais procuradas pelos idosos estão as relacionadas ao direito e à medicina. O interesse resulta respectivamente da vontade do idoso em fazer valer os seus direitos e do zelo pela sua saúde e pela de seus companheiros de geração. No entanto, o interesse não é ditado apenas pela necessidade, mas também pelo prazer e pela curiosidade, como indica a grande procura também pelas disciplinas das artes e da educação física. Atualmente estão matriculados nesta modalidade pessoas na faixa etária dos 63 aos 92 anos.

Não obstante os interesses diversos, a disciplina preferida da maioria deles é Atividade Física na Terceira Idade. Neste caso, o motivo da predileção não está somente no conteúdo da disciplina. Relaciona-se também ao seu ministrante, o professor Juca, e ao prazer de rever os amigos semanalmente nos encontros realizados nas tardes de sexta-feira, no prédio da antiga reitoria.

“Para mim, isso foi muito bom. Eu tinha ficado viúva e o professor Juca era meu freguês no mercadinho que eu tinha. Ele disse ‘guria, eu vou te levar para lá, porque senão tu vai morrer’. Ele me levou e eu estou até hoje e agradeço muito ao professor Juca o convívio que a gente tem, a amizade que eu fiz. A minha vida deu uma volta de 180 graus”, afirma Ruti Willaker, de 71 anos, uma das integrantes do grupo.

Apesar do nome da disciplina, a atividade física e a terceira idade estão longe de ser os únicos temas discutidos nos encontros. Como diz o coordenador do projeto, os encontros tornaram-se um fórum permanente de discussão sobre a situação dos idosos em Santa Maria. “Isso aqui não é uma aula. É uma troca”, afirma Juca.

Em comemoração ao aniversário de 150 anos de Santa Maria, o grupo de idosos encaminhou à Câmara de Vereadores em 2009 uma lista de propostas visando à qualidade de vida da terceira idade e, por conseguinte, da população do município como um todo. A ideia é que estas propostas sejam postas em prática pelos próprios integrantes do projeto, em conjunto com os seus netos e com o apoio do poder público.

Uma destas propostas, atualmente em discussão no grupo, chama-se “A Praça é Nossa”, que tem como objetivo a melhoria das praças da cidade. Neste sentido, os idosos sugerem como soluções a plantação de árvores frutíferas, plantas medicinais e flores, além da instalação de mais torneiras.

Os idosos que integram o grupo envolvem-se em várias outras atividades. Eles exercitam seus dotes artísticos em um grupo de teatro e no Coral Cantando a Vida, ambos formados por integrantes do projeto. Também exercitam o corpo no campus da UFSM, em atividades proporcionadas pelo Centro de Educação Física e Desportos (CEFD). Além disso, vários dos participantes do projeto criaram grupos de idosos nas comunidades onde vivem.

“Das pessoas que estão aqui, a gente se acostumou a ouvir que ninguém sente a idade cronológica. Nós sentimos muito mais uma idade espiritualizada, de solidariedade. Essa turma toda aqui ajuda um monte de gente”, salienta Juca.

A modalidade Aluno Especial II é um projeto inserido dentro do Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade (Nieati). Com 28 anos de existência, o núcleo proporciona aos idosos diversas atividades no CEFD, entre as quais se destacam atualmente o encontro anual Acampavida e ciclos de cinema.

Os integrantes do grupo também estão organizando um livro sobre os 20 anos da categoria Aluno Especial II. A programação de aniversário inclui ainda outras atividades. Uma delas foi uma participação ao vivo, de duas horas de duração, na Rádio Universidade 800 AM, durante um encontro do grupo no dia 1° de junho. Nesse dia, os radialistas Cleber Costa e Roberto Montagner abordaram a história do projeto e entrevistaram vários de seus integrantes.

Na ocasião, uma das alunas mais assíduas do grupo, Maria Souto, resumiu os benefícios que o projeto lhe proporcionou: “a minha idade de agora, de 81 anos, é a mais feliz da minha vida. Porque eu tenho paz, eu tenho amizade e todo mundo me quer bem”.

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