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UFSM em REDE: do pioneirismo da Universidade no início da pandemia ao legado que ficou para transformar o ensino

Após dois anos de atividades remotas na UFSM e um semestre do retorno presencial, é preciso avaliar o cenário e planejar estratégias para o futuro



No início de 2020, a pandemia de Covid-19 obrigou a população a ficar em isolamento para evitar o contato com o vírus. Práticas ao redor do mundo inteiro precisaram ser repensadas e reinventadas. Muitas atividades cotidianas precisaram adaptar-se ao ambiente online, como foi o caso das práticas acadêmicas. Na UFSM, foi adotado o REDE – Regime de Exercícios Domiciliares Especiais, e uma nova rotina entrou em vigor. Com o avanço da vacinação e a diminuição de casos, as aulas e demais atividades puderam retornar à normalidade apenas no início de 2022. Estas, porém, transformada pela experiência online.

Após quase dois anos de atividades remotas e um semestre do retorno presencial, a Agência de Notícias da UFSM lança uma série de reportagens para realizar um balanço deste período. O objetivo é avaliar o que foi realizado, ações que deram certo, o que deve ser repensado e prospectar iniciativas para o futuro.  

A tecnologia não media o ensino, mas o ensino media a tecnologia 

Em 16 de março de 2020, a quarentena – na época prevista para durar pouco tempo – estava sendo implementada em todo o país. Aulas e demais atividades laborais foram suspensas, obrigando gestores de instituições de ensino a reagir o mais rápido possível e coordenar uma transição para o meio virtual. Apenas um dia depois, em 17 de março, a UFSM já publicava uma instrução normativa relativa ao trabalho remoto. Nessa mesma data, a Universidade estava com atividades online e com o planejamento para a criação do REDE – Regime de Exercícios Domiciliares Especiais, uma versão do já existente Regime de Exercícios Domiciliares.  

O pioneirismo 

Os efeitos dessa agilidade são sentidos até hoje: a UFSM é uma das poucas universidades no Brasil com o calendário acadêmico em dia. Algo que orgulha uma das pessoas por trás desse trabalho, o pró-reitor de Graduação, Jerônimo Tybusch. “Nós conseguimos passar por momentos que foram extremamente difíceis. Acho que para toda instituição federal de ensino superior e para toda instituição educacional. Mas nós nunca paramos. Podemos dizer que nem por 24 horas paramos”, salienta. 

O pró-reitor lembra que o REDE não era uma modalidade a distância, mas sim uma estratégia de exercícios domiciliares envolvendo recursos, atividades, interação, interatividade e estratégias que eram síncronas, por videochamada, e assíncronos, que é a colocação de conteúdos no ambiente virtual de ensino e aprendizagem. Ele explica que, com a suspensão das aulas presenciais nos anos pandêmicos, o ensino precisou mudar para não ser superado e o REDE foi a forma encontrada de manter as atividades e os vínculos. Então a gente foi construindo, mas ele só se consolidou em uma resolução em agosto de 2020, a Resolução 024”, afirma. 

Para Jerômimo, o que possibilitou esse pioneirismo foi o trabalho que a UFSM já desenvolvia ao longo dos anos, como através do uso da plataforma Moodle. E além: no final de 2019, foi publicada a Resolução 037, que discutia os cursos a distância e o uso de estratégias e tecnologias comunicacionais em rede nos cursos presenciais. O pró-reitor afirma que esse momento foi uma inspiração para a criação do REDE e que, a todo o momento, sabia-se que haveria prejuízos caso não houvesse continuidade nos avanços em tecnologias educacionais da UFSM.  

O reitor da UFSM, Luciano Schuch, também saúda o pioneirismo. “Quando suspendemos as atividades presenciais na Universidade, tanto no âmbito administrativo quanto no acadêmico, no outro dia já lançamos o REDE, ou seja, nós já estávamos preparados para isso”, entende o gestor. Da mesma forma que para Tybusch, a estrutura e o histórico que a Universidade possuía foram determinantes. 

Um período teste 

Tanto Tybusch quanto Schuch acreditam que esse período a distância foi uma oportunidade para que os professores pudessem testar novas tecnologias de ensino.  Schuch entende que a pandemia não fez bem para ninguém, mas com a imersão no mundo digital o docente pôde compartilhar conhecimento com colegas e, assim, aprender a trabalhar nesta nova situação. “Em uma disciplina, em uma aula, o professor sempre testa. A cada semestre testa a metodologia, testa ferramenta, muda livro, muda material. E pode testar também essa questão no virtual, trabalhar remoto e síncrono com o aluno”, analisa. Assim, pode-se começar a identificar onde é bom usar e onde não se deve usar o virtual: “Sabemos que em algumas áreas ele potencializa bastante o conhecimento e em outras, atrapalha”, pondera. 

DNA presencial 

Além de continuar usando as tecnologias existentes, a UFSM aumentou seu leque de opções, como quando adquiriu o pacote Google for Education, que disponibiliza gratuitamente ao aluno e ao docente, através do email acadêmico, uma série de funcionalidades que outrora seriam possíveis apenas com uma compra. Os gestores entendem que essas facilidades devem acompanhar o aluno, mas que o centro de sua educação era e deve seguir sendo presencial. “Esse ganho de tecnologia cada vez maior não precariza a educação, pelo contrário, nós continuamos com nosso DNA presencial, com nossa estrutura presencial. A questão é que ela pode ser potencializada”, afirma Tybusch. 

No entanto, para o bom uso de tecnologias, é necessário saber manejá-las. Por isso que mais de 25 capacitações foram ofertadas ao longo de 2020 e 2021. Os  temas eram diversos, como uso de objetos educacionais, acesso ao Moodle, Google Meet, web conferência, produção de vídeos, transmissão de vídeos pelo YouTube, dentre outros. E como resultado, foram contabilizados mais de 4 mil participantes.  

O meio termo 

Para Tybusch, um grande legado do período foi a possibilidade inédita de a graduação poder ter 40% de presencialidade, pois isso proporciona flexibilidade ao acadêmico. Schuch igualmente enxerga vantagens que estão sendo vistas agora: “uma hora estamos na sala de aula com o aluno, em outro momento o aluno está fazendo atividades que usam uma plataforma para apoio ao presencial. Logo, a gente conseguiu casar o virtual com o real, conseguimos aprender onde é eficiente e onde não é”. Ele afirma ainda que esse sistema é diferente do ensino a distância, mas que essa forma de interação, que ao mesmo tempo aproxima e afasta, ainda tem muito a evoluir. 

Nesta mesma perspectiva, o reitor apresenta a ideia de que a tecnologia sempre esteve ao lado do ensino e este pôde mediá-la. Em outros tempos, essa inovação era o livro, depois o computador, e por aí vai. Ou seja, não é algo a se estranhar, a fusão do presencial com o virtual é um processo irreversível, segundo o gestor. Ele ilustra lembrando que no campus da UFSM em Cachoeira do Sul há o curso de Engenharia Elétrica. Tanto lá quanto no Campus Sede a disciplina de Introdução à Engenharia é oferecida. Portanto, essas turmas poderiam ser fundidas. “Às vezes o professor está lá, às vezes aqui, estão trabalhando juntos. Todo mundo na sala de aula, mas conectado por uma plataforma com o professor interagindo com as duas turmas junto, uma troca de experiência de alunos da Engenharia Elétrica de dois cursos”, reflete. Além disso, futuramente trocas e interações até com outras instituições seriam possíveis.

Luciano Schuch afirma que seu plano é trabalhar nessa direção, mas sem deixar o DNA presencial da UFSM de lado, afinal, afirma que é a partir dele que vem a qualidade de troca de experiências da Instituição, já que, ao cruzar o arco, todos são transformados. Agora, a questão é saber até onde esse arco pode alcançar. 

Na próxima reportagem abordaremos os desafios e as dificuldades de ensinar e aprender durante o período pandêmico, através da perspectiva de alunos e professores que vivenciaram o período. 

Texto: Gabrielle Pillon, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques e Ricardo Bonfanti, jornalistas

 

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