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Vagas ociosas na pós-graduação da UFSM seguem tendência nacional e comprometem a produção científica

Com 27% de vagas ociosas na seleção da pós para o segundo semestre, UFSM estuda alternativas



Seguindo uma tendência verificada em instituições de ensino superior públicas e privadas em todo o Brasil, a Universidade Federal de Santa Maria registrou uma queda no número de inscritos para a seleção de pós-graduação no segundo semestre deste ano. O índice de 27% de vagas ociosas é um dos maiores já registrados na Instituição, reflexo de uma conjuntura cada vez menos favorável ao ensino e à pesquisa. Além dos sucessivos e exorbitantes cortes nos recursos destinados às universidades federais, impactando no número de bolsas – que já estão com valores defasados -, há outros fatores que levam a este cenário, como a redução de oportunidades para pós-graduandos no mercado de trabalho. Para buscar reverter a situação, que afeta de forma preocupante a produção de ciência e conhecimento, a UFSM estuda alternativas.
 

Situação começou a mudar neste ano

Sempre aguardado com expectativa pelos candidatos, o Edital da Pós-Graduação da UFSM para o segundo semestre de 2022 disponibilizou 941 vagas em 58 programas Stricto sensu. Porém, houve apenas 682 inscritos, resultando em 259 vagas ociosas, o que equivale a 27%. A redução já havia se verificado na seleção do primeiro semestre, embora menos acentuada: para as 1.542 vagas ofertadas, houve 1.217 inscritos, com 325 vagas ociosas (20% do total). No processo seletivo 2022/1 foi aberto um edital extraordinário visando preencher as vagas ociosas nos programas de pós-graduação (PPGs), mas houve apenas 175 inscritos para um total de 303 vagas, totalizando 42% de vagas ociosas. “O fato de termos um terço das vagas da pós-graduação ociosas na UFSM, antes mesmo da realização do processo seletivo, preocupa. Isto é, este panorama de vagas ociosas tende a se agravar, porque o fato de estar inscrito em um processo seletivo não garante a aprovação e o ingresso no curso”, observa a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Cristina Wayne Nogueira. A PRPGP discute internamente e com os PPGs a possibilidade de lançamento de um processo seletivo extraordinário, mas uma das preocupações é que o cronograma ficaria muito próximo do edital para ingresso no primeiro semestre de 2023. 

O cenário de aumento de vagas ociosas presenciado em 2022 difere da situação de 2021, quando a UFSM realizou três processos seletivos para ingresso na pós-graduação, um dos quais extraordinário. Nenhum dos processos apresentou vagas ociosas. Entretanto, a análise dos números de inscritos nestes editais já evidenciava uma redução marcante na procura pela pós-graduação entre o primeiro e o segundo semestre letivo de 2021. Enquanto um dos editais abertos no primeiro semestre chegou a ter 705 candidatos a mais do que o número de vagas oferecidas, na seleção do segundo semestre foram somente 73 candidatos a mais. 
 

Ociosidade em todas as áreas do conhecimento

Na UFSM, a ociosidade de vagas atinge todas as áreas do conhecimento e abrange até mesmo programas de excelência, sendo de 32% no mestrado (660 vagas, 448 inscritos, saldo de 212 vagas) e de 16% no doutorado (256 vagas, 214 inscritos, saldo de 42 vagas). O cenário de vagas para o processo seletivo 2022/2 foi positivo em apenas oito cursos de mestrado e um curso de doutorado. “Mas os cursos que preencheram as vagas não são os mesmos que em 2022/1, o que deixa claro que as vagas ociosas atingem todas as áreas do conhecimento, inclusive os PPGs consolidados e de excelência”, analisa a pró-reitora.

Como exemplo, ela destaca os programas com conceitos 6 e 7. A tabela ao lado mostra os dados referentes às vagas ociosas nos cursos de doutorado com conceito CAPES de excelência (Avaliação Quadrienal 2017) no Edital 2022/2. Química e Medicina Veterinária, os únicos doutorados da UFSM com conceito máximo, tiveram, respectivamente, 20 e 2 vagas ociosas.

Além do corte de verbas, desinteresse tem outras causas

Uma conjunção de fatores ajuda a compreender a redução do interesse na pós-graduação, e um deles certamente é a redução expressiva de verbas para a educação e ciência no Brasil. Os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e de Educação (MEC), que são os principais responsáveis pelo financiamento à pesquisa científica e tecnológica e a pós-graduação no Brasil, foram bastante afetados com a redução do orçamento. O MCTI sofreu corte de cerca de R$ 3 bilhões, incluindo verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que são destinadas por lei para o financiamento da pesquisa científica e tecnológica no Brasil. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) teve neste ano redução de R$ 9,459 milhões em programas de pesquisa e bolsas, enquanto a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível de Ensino Superior (CAPES) tem em 2022 o menor orçamento dos últimos dez anos. 
 
Devido a este contexto desanimador, o corte no número de bolsas para pós-graduandos da UFSM nos últimos anos foi de 19% em 2019 inicia a reestruturação dos critérios de distribuição de bolsas pela CAPES, que em fevereiro de 2020 resulta em 262 bolsas a menos, sendo 169 de mestrado e 93 de doutorado na UFSM. Não bastassem os cortes, os pós-graduandos estão recebendo valores que não são reajustados desde 2013: R$ 1.500,00 para o mestrado e R$ 2.200,00 para o doutorado.
 
“Uma vez que os estudantes de pós-graduação são profissionais, a bolsa é a forma que esses profissionais têm de custear suas despesas pessoais e manter dedicação exclusiva à pesquisa”, destaca Cristina, acrescentando que, com valores defasados, a pós-graduação se torna pouco atrativa aos profissionais, que precisariam dedicar dois anos para obter titulação de mestre e quatro anos para o título de doutor. Além disso, a redução do número de bolsas de pós-graduação e a defasagem do valor impactam majoritariamente os alunos de famílias de baixa renda, que dependem exclusivamente deste recurso para se manter na UFSM. Estima-se que os cortes e a defasagem representem um impacto de cerca de R$ 5 milhões que deixam de circular na economia de Santa Maria a cada ano. 
 
Além da questão financeira, os impactos da pandemia no ensino superior também são considerados na análise das possíveis causas do desinteresse pela pós-graduação. “A pandemia afastou os estudantes do ambiente do Campus, do ecossistema de geração de conhecimento, onde estão os laboratórios, os grupos de pesquisa, do convívio na Instituição, e este ambiente é o que catalisa o interesse pela pesquisa e pós-graduação”, salienta Cristina, que cita ainda a retenção de alunos na graduação devido aos atrasos na diplomação. A pró-reitora também faz uma relação com a “clientela” da pós-graduação da UFSM. A grande maioria dos pós-graduandos da Instituição são os próprios alunos graduados, especialmente os que fizeram iniciação científica (IC) ou iniciação tecnológica (IT), cujas bolsas também estão defasadas. A Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado (FAPERGS) reajustou neste mês o valor mensal das bolsas para R$ 500,00, enquanto o valor das bolsas do CNPq continua R$ 400,00/mês desde 2012. 
 
Como se não bastasse, o cenário nacional não é atrativo para os pós-graduados. “É importante destacar que no Brasil as oportunidades de emprego para doutores são majoritariamente nas universidades, e o cenário nacional é de redução das oportunidades, com redução de concursos para as instituições federais de ensino, bolsas de pós-doutorado com valor defasado”, observa a pró-reitora.
 

Menos pós-graduação, menos ciência

Os impactos desta redução de ingressantes na pós-graduação serão sentidos não só na UFSM, mas no cenário nacional como um todo. A situação preocupa porque a produção de ciência no Brasil se faz nas instituições federais – em torno de 50% da produção científica, segundo o Instituto Sou Ciência – e pelas mãos dos pós-graduandos. A pós-graduação é a base que sustenta a produção intelectual e científica no Brasil. Apesar da falta de investimentos em ciência, o Brasil é o 13º maior produtor de conhecimento científico no mundo, tomando como base artigos publicados em revistas internacionais. Não há dúvidas de que isso impactará também na capacidade de resolução de problemas. 

 
“Este cenário de redução de investimento em ciência e tecnologia e da formação de pessoal qualificado para atuação nesta área é particularmente preocupante, considerando-se o momento de crise econômica e social vivenciado no Brasil. Em momentos de crise, os países desenvolvidos voltam seus investimentos para a ciência e tecnologia, que serão a mola propulsora capaz de reverter o processo de desaceleração do crescimento econômico. Entretanto, no Brasil, vemos o movimento inverso, gerando enorme preocupação quanto à capacidade do país em superar este momento de crise”, aponta Cristina.
 
Outra questão que precisa ser levantada, segundo análise de Cristina e da professora Tatiana Emanuelli, é que a titulação de mestres e doutores implica em ganho de qualidade para as instituições de ensino, impactando positivamente a formação dos alunos de graduação envolvidos em projetos de pesquisa da pós-graduação e também a comunidade, nos casos de projetos que tenham impacto local, regional e até nacional.


UFSM estuda alternativas 

A UFSM pretende propor alternativas visando reverter o quadro de vagas ociosas na pós-graduação. “Estamos analisando os dados para que possamos construir estratégias assertivas que aumentem a atração de estudantes para a pós-graduação da UFSM. Estas estratégias poderão passar por editais estratégicos com foco em públicos específicos (servidores, gestores e estrangeiros), por exemplo. Teremos que dar uma atenção especial aos alunos de graduação e aos processos de Iniciação Científica e Inovação Tecnológica”, antecipa a pró-reitora.

Mesmo que ainda não esteja nada definido, uma coisa é certa. Não há risco de descontinuidade de cursos de mestrado e doutorado, como o que aconteceu recentemente na Unisinos – mais um exemplo de que o problema não é restrito à UFSM. “Estamos em constante contato com colegas pró-reitores de Pós-Graduação de outras instituições de ensino superior, regionais e nacionais, que relatam as mesmas dificuldades quanto à baixa procura para os cursos de pós”, ressalta Cristina.
 
Texto: Ricardo Bonfanti, jornalista da Agência de Notícias
Foto de capa: Ana Alicia Flores, acadêmica de Desenho Industrial, bolsista da Agência de Notícias
 
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