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Pequeno leitor, grande escritor



 

Não foi buscando reconhecimento público que Pedro Brum Santos, diretor e professor do Centro de Artes e Letras (CAL) da Universidade Federal de Santa Maria trilhou sua trajetória no mundo da Literatura. Despretensioso, Pedro, que desde sempre cultuou os livros, viveu sua vida imerso no mundo das letras e da linguagem. O reconhecimento, ainda que não sendo o objetivo principal do escritor, veio. Ele é o patrono da edição deste ano da Feira do Livro de Santa Maria.

Natural de Tupanciretã, filho único de comerciantes, Pedro conta que teve uma infância mergulhada em imagens e impressos. Ele diz que a mãe gostava de ler fotonovelas, mas que não foi esse o maior dos impulsos que recebeu para viver no universo da literatura. Foram seus primos paternos que o converteram em leitor. “Eles possuíam mais histórias que eu, tinham mais revistinhas do que eu. Em determinado instante, eles começaram a compartilhar comigo dessas coisas”.

Além da convivência e das histórias compartilhadas com os primos, o fato de sua prima se casar com um sujeito que abriu um jornal em sua cidade de origem foi determinante para o interesse e para o estabelecimento de uma relação com os livros, as imagens e a linguagem. A infância de Pedro foi povoada de materiais impressos que o fascinavam.

Ele conta que já na adolescência começou livros pra gente grande. “Minha tia, mãe desses meus primos de quem eu já falei, tinha em casa alguma coisa de Jorge Amado, Érico Veríssimo, que eu acho que, tanto quanto eu me lembro, foram os primeiros autores sérios que eu comecei a ler”. O professor garante que a leitura dessas obras foi uma descoberta de mundo para ele. Pelo contato com uma grande história, com a narrativa cerrada, toda contada na forma narrativa literária.

Principalmente na infância, Pedro conta que percebia a literatura como uma espécie de realidade paralela. “Você começa a construir, através da leitura, um mundo que é só seu, que lhe encanta e você começa a gostar cada vez mais de fugir para dentro dele. Você foge das coisas que te incomodam no mundo, das coisas que lhe espezinham. Isso aconteceu desde cedo comigo, hoje eu não digo que isso aconteça tanto”.

Língua, letras, linguagem: escolhas profissionais guiadas pela paixão pela leitura

Da convivência com os impressos noticiosos pareceu surgir naturalmente a certeza de que o futuro profissional de Pedro estaria ligado ao jornalismo. Ele veio para Santa Maria, no ano de 1979, para ser radialista. Numa das rádios AM da cidade, Pedro era redator, apresentava programas noticiosos e narrava partidas de futebol. Para poder continuar atuando como radialista, Pedro decidiu fazer o curso de Letras na Faculdade Imaculada Conceição (FIC) – já que ele era noturno. A formatura no curso de Letras foi celebrada no ano de 1985, e ainda assim cursar Jornalismo se mantinha como um dos objetivos dele.

Logo que terminou a graduação, Pedro resolveu fazer um curso de especialização na FIC.  Porém, ainda no início do curso foi convidado a ministrar aulas no curso de Letras da instituição. “Eu, com minha carga de conhecimentos linguísticos e interessado em Literatura, dava aula de Linguística. Foi uma experiência muito boa, muito legal, muito proveitosa. Eu dei aulas de Linguística durante dois ou três anos, no início da minha carreira”.

Da experiência como professor, surgiu a ideia de fazer mestrado. A UFSM da década de 1980 recém havia implantado o curso de mestrado em Letras e aberto inscrições para seleção. Pedro foi selecionado já para a primeira turma, mas não concluiu o curso. “Eu me transferi para terminar o mestrado na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. E lá também eu fiz o meu doutorado. Assim, em meados dos anos 1990, eu voltei e fiz concurso pra Universidade, já virando doutor, por assim dizer.”

Nesse momento, o jornalismo já tinha ficado completamente esquecido. As atividades ligadas ao rádio foram, gradativamente, sendo substituídas pelo envolvimento com as atividades acadêmicas. A paixão pelos livros, porém, nunca foi deixada de lado. A estratégia utilizada por Pedro foi a de transformar sua paixão em objeto de estudo. Estudar a língua, além de ser útil, é agradável. “Isso me ajuda no aperfeiçoamento da escrita. Há quase dez anos que eu tenho uma crônica semanal no jornal A Razão. E isso foi uma coisa muito importante na minha vida, porque essa coisa de fazer a crônica, trabalhar com temas do cotidiano, usar a linguagem de outra forma que não só esta acadêmica me proporcionou brincar mais, estabelecer uma relação mais lúdica com a linguagem no texto escrito”.

Inspiração, talento e conhecimento

Segundo o professor, não é fácil escrever. “Eu sempre digo que a naturalidade que você consegue ao produzir um texto custa muito trabalho. Para parecer fácil e natural para o leitor, tem que haver uma grande elaboração por trás. Como a crônica é semanal, eu tenho me obrigado a uma vez por semana parar para fazer esse negócio. E esse processo tem sido de muito aprendizado”.  O professor acredita que só a paixão e o talento não são suficientes para formar bons escritores. “Em minha opinião, não existe essa história de inspiração. Pode até haver talento, mas se não tiver aprendizado e a consciência muito aguda de como o processo de escrita precisa ser aperfeiçoado, a gente não consegue evoluir, a pessoa não consegue dar o seu recado”.

O patrono da Feira do Livro de Santa Maria de 2012 diz pensar que os escritores necessitam de humildade. “Quem escreve tem que saber que é alguém que está sempre em formação e que um texto é algo que nunca está completamente pronto. A gente sempre pode mexer nele de algum modo, sempre pode fazer algumas coisas”.

A relação de Pedro com os livros sempre suscitou esse respeito em relação à arte de escrever. Ele conta que sua relação inicial com os livros foi uma relação de objeto mesmo. “Admirava-me a textura, a espessura, as figuras, os detalhes de encadernação, as marcas do tempo nos livros velhos. O livro, para mim, teve desde logo, não só uma coisa fetichista, mas uma coisa quase de culto mesmo, com a ideia da própria preservação dos livros”.

Na medida em que cresceu e começou a gostar dos livros também pela leitura, o culto ao livro, na vida de Pedro, só aumentou.  Ele diz que desde a pré-adolescência até a fase adulta, sempre gostou de ler de tudo. Desde histórias em quadrinhos, até a literatura vendida em bancas. Mas não só literatura, ele lia de tudo mesmo. “Quando eu me tornei professor, por força da profissão, eu tive que continuar lendo bastante, e eu tenho a leitura como um exercício meio permanente. Eu procuro ler um pouquinho a cada dia”.

Humildade e paixão: o trabalho que levou ao reconhecimento

O reconhecido escritor conta que ficou muito feliz com a homenagem da Feira do Livro de Santa Maria. “Tenho uma vivência de quase trinta e cinco anos com Santa Maria, tenho filhos aqui. Passei por várias etapas do desenvolvimento mais contemporâneo da cidade, conheci muitas pessoas, circulei em muitos meios porque fiz rádio […] E fui me aproximando cada vez mais dessa área cultural, dessa coisa da expressão da literatura”.

Tanto envolvimento com a vida da cidade culminou no convite, que demonstra respeito que a comunidade santa-mariense tem pelo professor e escritor. “Talvez hoje eu não tenha distanciamento suficiente para perceber o quanto isso é, de fato, importante. Sobretudo para quem, assim como eu, faz as coisas sem interesse. Eu quero fazer porque quero, porque me interessei por elas. Eu nunca busquei um reconhecimento, mas isso agora que veio está sendo muito legal, eu estou muito grato, muito feliz”.

 

Repórteres:

Fernanda Arispe e Julia do Carmo – Acadêmicas de Jornalismo.

Edição:

Lucas Durr Missau.

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