“Ninguém sabe tudo. A pessoa pode ter 100 anos, mas sempre vai ter alguma coisa para aprender. As dificuldades nós que criamos”. A afirmação é de dona Almeri Moura Pereira, orgulhosa de sua trajetória. Aos 71 anos, ela acaba de se formar em Pedagogia na UFSM, após cinco anos se revezando entre a rotina em sala de aula e as aventuras de viver em um ambiente dominado por jovens.
Natural de Sobradinho (RS), ela conta, emocionada, que decidiu voltar a estudar depois que o marido faleceu, suas duas filhas foram morar longe e começou a se sentir sozinha em casa. Como forma de amenizar a solidão e de se distrair, entre 2011 e 2012 começou a frequentar as aulas do EJA (Educação para Jovens e Adultos) e, a partir dessas aulas, acabou gostando de estudar. “Peguei amor pelo estudo. Em um ano e meio eu fiz o EJA, com 60 e poucos anos de idade. Quando terminei, quis fazer vestibular”, relembra.
Professora municipal por um período em Sobradinho, sua paixão sempre foram os números. Por isso, o curso de Matemática foi a primeira escolha no vestibular na UFSM. Aprovada, cursou durante dois semestres no ano de 2013, mas achou difícil e resolveu trancar a graduação. Voltou para Sobradinho, mas decidida a não parar de estudar.
Em 2014, aos 65 anos, prestou o vestibular novamente e foi aprovada em segundo lugar no curso de Pedagogia do Centro de Educação, campus sede da UFSM. Foi em 2015, então, que começou a jornada de dona Almeri no curso almejado. A expectativa era de que a graduação possibilitaria que ela trabalhasse como professora novamente – e com os números que tanto ama.
Conseguiu vaga na Casa do Estudante (CEU) e passou a dividir quarto desde o começo da graduação. Apesar de enfrentar alguns empecilhos, durante a faculdade fez amizades e conquistou o coração de muitas pessoas. Sempre foi respeitada pelos alunos, pelos colegas e pelos professores, e nos estágios realizados era chamada de “avó” pelas crianças. “Os pequenininhos me adotaram como vovó. Eles queriam sempre estar no meu colo brincando, me agarrando. No meu último dia eles não queriam que eu fosse embora, escreveram cartinhas”, conta.
O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) também foi um obstáculo, tanto que o escreveu à mão. “Já estou acostumada com o computador, mas escrevendo parecia que eu raciocinava melhor, eu gravava melhor na minha mente. Escrevi quase um caderno todo em uma noite, eu amanhecia escrevendo”, explica.
No final, a dedicação valeu a pena. Seu trabalho abordou a inclusão de surdos na Universidade, e a nota foi dez. Homenageada durante a apresentação do TCC, ela se emociona ao contar que o professor tocou violão e cantou a música “Tocando em frente”, de Almir Satter. “Chorei muito, ele cantou uma música muito a ver comigo”, comenta.
Dona Almeri se formou no último sábado (11), no Centro de Convenções da UFSM, durante a colação de grau conjunta do Centro de Educação, e foi homenageada no discurso de alunos e professores.
Sensibilizada, ela diz que vai sentir saudades da rotina na Universidade. “A UFSM me preencheu, me satisfez. Eu amo a UFSM e espero que continue esse sistema, com essa dedicação que eles têm”, afirma. O objetivo, agora, é trabalhar na área de Pedagogia, lecionar para crianças e “continuar contribuindo para a sociedade”.
Além de dona Almeri, outras três pessoas com 70 anos ou mais já se formaram na graduação na UFSM, segundo dados da Coordenadoria de Planejamento Informacional.
Assista ao vídeo da TV Campus com depoimentos de dona Almeri:
Texto: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Imagens do vídeo: Carolina Ambrós, acadêmica de Produção Editorial, bolsista da TV Campus
Fotos: Arquivo pessoal