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Prevenção pela educação



 

Em 1966, ano em que a professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal de Santa Maria, Liliane de Freitas Bauermann, nascia, Zuleica Cabarelli, professora do mesmo departamento, iniciava suas atividades como docente na UFSM. Mais de trinta anos depois, em 1997, foi a vez de Liliane ingressar no quadro de professores da Universidade.

Hoje as duas são parceiras e comandam juntas o Prevendroga, um projeto de extensão da UFSM – criado há quinze anos – que tem como foco a conscientização e a prevenção em relação ao uso de drogas. Desenvolvido em conjunto por alunos de diversos cursos da UFSM, especialmente da área da saúde, o projeto busca mostrar a jovens estudantes da rede pública de ensino a importância de manter distância das drogas.

Em tempos de discussão sobre a descriminalização de algumas drogas, torna-se imperativo conhecer a opinião de especialistas sobre como a sociedade brasileira – especialmente os mais jovens – percebe os efeitos físicos – e consequentemente os sociais – da utilização de substâncias alucinógenas.

Fernanda Arispe – Como surgiu o Prevendroga?

Zuleica Cabarelli – O programa Prevendroga surgiu de uma necessidade apontada pelos acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria. Isso porque eles estudavam toda a parte de farmacologia, mas sem uma abordagem completa sobre os efeitos das drogas psicoativas.

Os alunos estudavam todas as categorias de medicamentos e na hora das drogas, dos opioides, esse estudo não era aprofundado. A partir daí, a professora Violeta Brandão Saldanha, em 1997, produziu um conteúdo programático que ela adaptou como para uma disciplina complementar de graduação. E, então, os alunos se matricularam para ter uma complementação desse estudo.

A partir disso, por interesse deles, nós começamos a fazer reuniões, estudar e a convidar alunos para participar. Já naquela época havia uma preocupação muito grande em relação ao consumo de drogas, especialmente nos colégios. Naquela época, o que mais se consumia era maconha. Ser chamado de maconheiro era uma grande ofensa para o jovem.

A partir de 1997, um grupo se formou, e começou a trabalhar na tentativa de evitar o uso de drogas psicoativas através da educação, do conhecimento. Nossa principal ideia é trabalhar o conhecimento em prol da prevenção, já que essa foi uma necessidade apontada pelos alunos. Foi isso que fez com que uma atividade espontânea e aberta a vários cursos, como o Prevendroga, tenha o alcance e a importância que tem até hoje.

F.A. – Quais foram as atividades preliminares do programa até que se iniciasse o trabalho direto com a comunidade?

Zuleica Cabarelli – Primeiro foi feito um estudo e quando o grupo se sentiu preparado capacitado, com conhecimento suficiente para responder à maior parte das dúvidas, aí é que o trabalho com os jovens começou. Os estudos preliminares foram realizados, principalmente, com os professores do curso de Biologia. Porém, os alunos que ainda se sentiam inseguros voltavam para tirar dúvidas, seja por meio do telefone, ou por meio de e-mail. Foi a partir disso que o projeto se transformou num programa de extensão da Universidade.

Liliane de Freitas Bauermann – Primeiro nós nos preparamos com as ferramentas de trabalho – o conhecimento – para podermos, então, nos transformarmos em multiplicadores. Multiplicadores desse conhecimento que tem que ser levado para fora da Universidade.

F.A. – O programa funciona somente com voluntários, ou ele conta com alunos bolsistas?

Liliane de Freitas Bauermann – Quando nós conseguimos recursos para que as bolsas sejam pagas, temos alunos bolsistas. Mas quando isso não acontece, e não acontece todos os semestres, trabalhamos exclusivamente com voluntários.

Zuleica Cabarelli – Mas, felizmente, nos últimos anos nós temos recebido muito apoio da Pró-Reitoria de Extensão (PRE) e da direção do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Os gestores desses órgãos têm sido bastante compreensivos, até porque o tema que nós trabalhamos vem se tornando cada vez mais presente na nossa sociedade. É de interesse da comunidade acadêmica e santa-mariense que o assunto “drogas” seja trabalhado.

F.A. – O trabalho realizado pelo Prevendroga nas escolas de Santa Maria já é reconhecido. Mas elas são o único foco de ações do programa?

Liliane de Freitas Bauermann – É importante que se diga que nós não somos um grupo especializado no trabalho em escolas. Nosso intuito é levar nosso trabalho em qualquer lugar. Nós realizamos trabalhos em escolas, mas também já fomos a igrejas, cursinhos pré-vestibulares, programas de educação de jovens e adultos e quartéis.

F.A. – Como funcionam as atividades desenvolvidas pelo grupo?

Zuleica Cabarelli – O grupo realiza diversas atividades. A principal delas é levar o conhecimento que possuímos em todos os lugares solicitados. Mas deve-se ressaltar que a dinâmica eleita para cada atividade tem muito a ver com as necessidades de cada unidade solicitante. Além disso, em épocas pontuais – por exemplo: no dia internacional contra o fumo, no dia nacional contra o tabaco – nós trabalhamos, naquele dia, só sobre aquele assunto com a população em geral. Nossa forma de inserção são intervenções em lugares de amplo acesso ou através da Rádio Universidade. Na Rádio, nós possuímos um programa quinzenal.

F.A. – Com relação ao programa na Rádio Universidade, como o Prevendroga pretende utilizá-lo?

Liliane de Freitas Bauermann – O espaço na programação da Rádio nos foi concedido no segundo semestre do ano de 2011, quando, infelizmente, houve uma grande greve dos servidores técnico-administrativos. Isso, para nós, foi um grande problema. Logo que as atividades foram reestabelecidas, iniciaram-se as férias de verão, e então nosso outro problema foi a ausência de nossos alunos. Por isso, até agora, produzimos apenas duas edições do programa Prevendroga. Mas, em 2012, pretendemos utilizar melhor esse espaço. Na próxima sexta-feira, dia 13 de abril, gravaremos a primeira edição desse ano. O programa irá ao ar nas terças-feiras, às 10h30min. Eu e a professora Zuleica dirigiremos e os apresentadores do programa serão os alunos participantes do projeto, até mesmo por possuírem uma linguagem mais acessível e próxima do nosso público alvo: os adolescentes. Ao perceberem que quem fala com eles é alguém parecido com eles, os jovens acreditam mais naquilo que queremos que eles aprendam.

F.A. – Quais são os principais desafios de um programa como o Prevendroga?

Zuleica Cabarelli – Certa vez, fomos convidados a levar nosso trabalho à feira de ciências de uma escola estadual de Santa Maria. A direção da escola solicitou uma palestra, pois estava com uma dificuldade muito grande em manter os alunos em sala de aula. Muitos deles deixavam de assistir às aulas para fumar e até mesmo consumir drogas ilícitas.

A atividade que realizamos acabou sendo considerada obrigatória para os alunos, já que a chamada foi realizada. Nós solicitamos à direção que nos oferecesse uma estrutura que permitisse a reprodução de material multimídia com antecedência. Porém, quando chegamos à escola, verificamos que o material não estava disponível. Nosso grupo se viu obrigado a improvisar.

Certamente, aquela foi uma das atividades que mais trouxe a sensação de realização para o Prevendroga. Nós percebemos que a intenção inicial dos jovens era ridicularizar a atividade. Mas, conforme ela foi se desenrolando, nós percebemos o interesse e o entusiasmo deles em participar. Fundamentalmente o que nós percebemos é que os jovens têm fome de conhecimento. O senso comum diz que os jovens de hoje possuem mais conhecimento, mas isso não é verdade. E é justamente essa ausência de conhecimento que expõem eles ao uso de drogas. Por isso, para o Prevendroga a educação é o único caminho, a única forma de prevenção do uso de drogas.

F.A. – Qual é a sensação pessoal que a participação em um programa como o Prevendroga traz ao membro?

Liliane de Freitas Bauermann – Nós não ganhamos nada com isso. Nem mesmo preenche nossa carga horária. É mesmo um trabalho voluntário. Para os alunos vale um certificado de participação em um programa de extensão da UFSM, mas os professores não têm isso.

Nós sequer temos uma sala para nos reunir. Normalmente, nos encontramos nas terças-feiras, às 12h30min. É necessário que seja nesse horário, pois as salas de aula estão vazias. Nós enfrentamos essas dificuldades, mas sempre com a consciência de que esse trabalho é fundamental, e que se alguém tem que realiza-lo, que sejamos nós. E que o façamos com qualidade.

F.A. – Vivemos uma era de enorme disponibilidade de informações através, principalmente, dos meios digitais de comunicação. Por que os jovens, mesmo tendo acesso a essa infinidade de informações sobre o quanto pode ser danoso iniciar o uso das drogas, continuam se inserindo nesse contexto?

Liliane de Freitas Bauermann – O grande problema é a falta de informação. As campanhas governamentais são falhas, no sentido de que são muito efêmeras, pontuais e superficiais. Hoje a publicidade para cigarros está bastante restrita, mas ao longo dos anos, a indústria tabagista, assim como a indústria produtora de bebidas alcoólicas, investiu pesado na produção do sentido de que fumar e beber indiscriminadamente não somente não faz mal, mas é bonito, elegante. Serão necessários muito empenho, perseverança e investimentos para que essas imagens sejam desfeitas.

Além disso, principalmente entre os jovens, há uma incessante busca pela aceitação no grupo e pelo grupo. Nós, através de nossas atividades em escolas públicas, percebemos que muitos deles ainda experimentam drogas, lícitas ou ilícitas, buscando estabelecer vínculos com outros jovens.

F.A. – No Brasil, especialmente, no ano de 2011, houve muitas discussões e movimentos sociais que buscavam discutir e/ou legitimar a descriminalização do uso de maconha. Um dos principais argumentos dos grupos contrários a essa ação seria o possível surgimento de um novo problema de saúde pública no Brasil. O PREVENDROGA concorda com essa colocação?

Liliane de Freitas Bauermann – No Brasil, tabaco e o álcool são drogas lícitas. E que riquezas ou benefícios eles trazem ao nosso país? Em minha opinião, nenhum. O estado brasileiro gasta mais com os prejuízos que dão do que recebe benefícios pela sua produção ou pela sua venda.

O que os movimentos pela descriminalização da maconha querem fazer é licitar outra droga para concorrer com o tabaco e com o álcool nos prejuízos que trazem à nação brasileira.

Zuleica Cabarelli – Eu acredito que o governo deveria fazer era criminalizar também o uso do tabaco e do álcool. Pois essas drogas, assim como todas as outras atuam no desgaste e na deterioração do mesmo órgão humano: o cérebro.

 

Repórter:

Fernanda Arispe – Acadêmica de Jornalismo.

Edição:

Lucas Durr Missau.

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