O cantor e compositor gaúcho Nei Lisboa nasceu em Caxias do Sul, mas reside em Porto Alegre desde sua infância. Iniciou sua carreira em 1979 e possui onze discos lançados. Algumas de suas músicas fizeram parte de trilhas sonoras de filmes nacionais, como Deu pra Ti Anos 70, Verdes Anos e Houve uma Vez Dois Verões. No filme Meu Tio Matou um Cara, de Jorge Furtado, um dos principais temas é a canção Pra te Lembrar, na interpretada por Caetano Veloso. Além do cenário musical, Nei explorou também o seu lado literário com dois livros publicados. Em 2018, essa é a segunda passagem do cantor por Santa Maria, mas é a primeira no palco do Centro de Convenções da UFSM. Ele foi o escolhido pela Banda Sinfônica da UFSM para dar a partida em uma nova proposta cultural, o projeto “Banda Sinfônica Recebe”, que anualmente pretende convidar nomes renomados da música para apresentações. O show ocorreu na noite da última quarta-feira (31).
Em entrevista à Agência de Notícias da UFSM, o cantor contou um pouco sobre a relevância desse momento em sua carreira.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Para você, como é poder subir ao palco de uma universidade?
NEI LISBOA – Olha, é um ambiente que sempre me alegra, porque eu comecei a tocar dentro de uma universidade. Eu cursei quatro semestres do curso de Composição e Regência da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), mas eu confesso que eu não era um bom aluno. Porém, fiz disso um início da minha carreira musical, porque havia uma movimentação cultural muito forte nos anos 70 e eu participava de rodas de som e festivais. Então a universidade é um ambiente em que eu me sinto muito bem. Me sinto em casa.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Como surgiu o convite para se apresentar junto à Banda Sinfônica da UFSM?
NEI LISBOA – Surgiu através do Diego e do João Batista, que são os maestros. Nós já tivemos a oportunidade de tocar juntos em outros trabalhos e quando eles pensaram em alguém pra dar a partida nesse projeto, me procuraram e na hora eu aceitei. Confesso que me senti muito alegre.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Como foi a construção do repertório da apresentação?
NEI LISBOA – O repertório é fruto das circunstâncias. Porque as orquestras são conhecidas pelos arranjos que elas têm que atravessar. Por isso, as músicas escolhidas foram canções que se adaptassem musicalmente melhor a esse tipo de trabalho. Então não são os maiores sucessos que fazem parte desse repertório, às vezes pode ser uma música de um lado B de algum disco de anos atrás bem desconhecida, mas que foi eleita por ter um caráter “jazzístico” e que se encaixa na construção desse tipo de arranjo .
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Você já teve a oportunidade de fazer trabalhos parecidos, tocando junto a orquestras, como a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e Banda Municipal de Porto Alegre. De que forma você vê a relevância de fazer integrações musicais como essa?
NEI LISBOA – É interessantíssimo e muito enriquecedor. Porque é uma chance de aprender coisas novas e de você desfrutar de uma releitura do teu trabalho e enxergar a tua música com outra potencialidade. Além do mais, o espetáculo fica bem diferenciado e a plateia com certeza gosta, por ter esse caráter de mistura de ritmos.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Por ser uma apresentação diferente das outras, como a da sua turnê que você faz por todo o país celebrando os 30 anos de lançamento do álbum Hein?! e Hi-Fi, qual a importância desse momento pra você?
NEI LISBOA – É um refresco e é algo que oxigena o dia-a-dia. Por exemplo, o show Duplo H eu venho todo o ano fazendo e é algo que se repete e é sempre a mesma coisa. Então, de repente, esse acidente no meio dessa estrada é muito interessante. Vira a cabeça da gente. E Santa Maria é um lugar especial, porque minha esposa viveu muitos anos aqui, e está sendo uma oportunidade de voltar pra casa também.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – De que maneira você acredita que o seu estilo musical contribui para o show?
NEI LISBOA – É uma pergunta muito difícil de responder, porque na verdade o meu estilo é tipo Millôr Fernandes, escritor sem estilo. Mas eu caminhei por muitas praias ao longos dos anos, e não tem uma coisa que eu possa dizer que eu trouxe de berço. Eu sou um personagem mais urbano. Cresci ouvindo rádio nos anos 60 e é uma enorme mistura de coisas que ali aconteciam, como o rock, o erudito e o folk. Então eu acredito que eu estou contribuindo com esse mix. Com músicas que são puxadas um pouquinho para o jazz, outra mais puxada para o tango e uma ou duas baladas, que é o meu chão musical.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – No próximo ano, você completará 40 anos de carreira. Ao longo dessa trajetória, muitos sucessos foram emplacados, algumas de suas músicas foram trilha de filmes e você tem dois livros publicados. Como você se vê ao longo desses 40 anos?
NEI LISBOA – Me vejo satisfeito. Se eu parasse hoje, posso dizer que deixei um legado. Mas ao mesmo tempo me vejo desafiado, porque estou chegando aos 60 anos e a tendência é batalhar para provar que tu está ali presente, produtivo, criativo e com novidades para mostrar mesmo de cabelos brancos. Já em relação ao ano que vem, eu quero fazer um ano de comemoração e de celebração dessa trajetória. Vou relembrar muitas coisas com um repertório de panorâmica de carreira, porém, quero mostrar um novo trabalho, com composições novas que projetem pelo menos a próxima década de trabalho.
Texto: Pablo Iglesias, acadêmico de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Maria Luísa Viana, acadêmica de Jornalismo da UFN e estagiária da Agência de Notícias