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Uma vida dedicada ao bem estar animal



 

Hoje, dia 24 de fevereiro de 2012, o ciclo da vida completa mais uma volta para aquela que, durante toda a sua trajetória, tentou ensinar que a vida, independentemente da forma que assuma, deve ser respeitada.

Ao chegar na casa de Elisabete Dockorn fui recepcionada por uma mulher de sorriso aberto e inúmeras histórias. Seus lindinhos, como carinhosamente trata seus bichanos, vieram logo em seguida fazer-nos companhia. Cada um deles teve sua história e suas peculiaridades reveladas. “Luna foi adotada em 2006, depois que sua dona morreu. Ela é a mandona da casa, já a Freya tiramos do lixo em 2004. O Gato pegamos na rua em 2008, ele é o mais desconfiado. A Olga é da minha filha, recém chegou aqui em casa”.  Aquelas frases fizeram-me entender, naquele momento que falava com alguém que, acima de tudo, conhecia os animais.

Professora dos cursos de Agroindústria, Agropecuária e Paisagismo do Colégio Politécnico da UFSM, Elisabete, ou Bete, como é comumente chamada, ensina aos seus alunos que para lidar com os animais é preciso, acima de tudo compreendê-los e respeitá-los. “As pessoas devem compreender que entender o comportamento animal é muito importante, porque eles são iguais a gente, só muda a forma”.

Nascida em Três Passos, no norte do estado, Elisabete Dockhorn teve contato desde pequena com os animais. Entretanto, demorou a perceber que o amor que sentia pelos bichos viria a se tornar sua profissão. Formou-se em Medicina Veterinária pela UFSM em 1983, uma época em que a profissão não era uma área comum para mulheres.

Depois de formada, Elisabete voltou para sua cidade natal, onde, como a primeira Veterinária de sua região, teve de enfrentar os olhares de desconfiança daqueles que não acreditavam que pudesse exercer sua profissão. “Vinha gente de todo lugar pra ver uma guria de 22 anos castrar um porco, um cavalo. Eles não acreditavam que alguém com uma aparência tão frágil pudesse fazer essas coisas.”

Na época, a veterinária recém formada já clinicava e tentava trazer ideias novas para o local, como a criação do primeiro hotel pra animais da região. No entanto, os tempos eram difíceis e o costume de se levar os animais a um médico não era tão difundido.  Além disso, o pagamento que recebia nem sempre era o tradicional. “Muito trabalhei de graça. Não sabia cobrar. Não foram poucas as vezes em que recebi meu pagamento em mandiocas, abóboras e galinhas.” Foi em Três Passos também que, para complementar sua renda, Elisabete teve suas primeiras experiências como docente, ministrando aulas de Química e Biologia em um colégio particular da cidade.

Depois de oito anos trabalhando em sua cidade, já com suas duas filhas nascidas, Elisabete resolveu continuar seus estudos: “Queria prosperar. Tinha uma família agora, duas filhas que precisavam de mim”. Em 1992, iniciou seu mestrado na UFSM, trabalhando com Toxoplasmose, uma doença que segundo ela, ainda é pouco compreendida e merece total atenção, por se tratar de um assunto de saúde pública sobre o qual ainda existem muitas dúvidas.

Aos poucos ela foi se afastando do atendimento na clínica, por se envolver demais com o que acontecia com os animais. “Sofria muito junto com eles. Por vezes, os animais chegavam até mim, quando não se podia fazer mais nada. Ficava triste e me deprimia com a situação.” Já em Santa Maria, surgiu a oportunidade de prestar um concurso para professora de ensino técnico. Aprovada, em 1995, Elisabete começou sua trajetória no IFET de São Vicente do Sul, no qual permaneceu até 2004, trabalhando principalmente com Suinocultura, Agroindústria e Laticínios.

Em 2004, transferiu-se para o Colégio Politécnico, onde trabalha até hoje. Foi lá que começou a trabalhar na área de Apicultura, ofício o qual já havia exercido junto com seu pai em sua cidade natal. O conhecimento sobre comportamento animal a ajuda a lidar com as abelhas, prevendo suas atitudes e adaptando-se a elas. Ao longo desses sete anos no Politécnico, ela já trabalhou com diversas outras disciplinas: “Encaro isso como um desafio, uma possibilidade de aprender mais”.

Mesmo afastada da clínica, as histórias povoam sua casa. O minhocário em seu terraço a acompanha há mais de 15 anos, transformando seu lixo orgânico em húmus, adubo para plantas. Sua água também é reaproveitada: “Imagina se cada um tivesse um desses em casa ou ao menos fizesse algo para minimizar os danos ao meio ambiente”. A longa tubulação que atravessa todo o prédio já “escondeu” um dos seis gatinhos que resgatou do terreno ao lado. “Tive que chamar os bombeiros e o cano foi cortado em cada andar, enquanto eu ficava com uma bacia embaixo esperando o gatinho, que se salvou, cair.”

O amor e o cuidado que tem com os animais passou a suas filhas, Lauren e Sthefania. Cada uma delas já tem seu próprio bichano, adotado. E o respeito que tem a cada um desses animais, vai além da vida. Seu gato voltou para a cidade natal de Elisabete depois de morto, cerca de 400 km de Santa Maria, para que assim, pudesse ter um local apropriado para ser enterrado.

Pelas suas viagens de trabalho e lazer ao longo da vida, Elisabete conheceu países com leis rígidas de proteção aos animais. “Na Alemanha, não vi nenhum bicho na rua. Lá, o governo cobra muito dos donos de animais.” Elisabete, assim como outras pessoas que também amam os animais, espera que um dia possamos ter outra realidade, sem abandono e maus tratos. Espera que um dia o ser humano possa olhar um animal e não se sentir superior, mas entender que fazemos parte de um mesmo lugar e devemos nos tratar, acima de tudo com respeito: “Pensar no bem estar animal é também pensar no nosso bem estar. Conviver com animais nos faz bem, nos torna pessoas melhores”.

Repórter:
Julia do Carmo – Acadêmico de jornalismo.

Edição:
Lucas Durr Missau.

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