A cerimônia de abertura da 32ª Jornada Acadêmica Integrada (JAI), contou com palestra proferida pelo professor Fernando Peregrino, presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e Instituições de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies). Viajando o Brasil inteiro como representante do conselho, o professor diz saber o grande desafio que o órgão tem pela frente: alavancar o desenvolvimento científico e tecnológico que é produzido nas universidades.
Ao apresentar uma visão crítica em relação ao país, o professor demonstrou algumas posições que o Brasil ocupa no cenário mundial frente a questões fundamentais para o seu desenvolvimento. Segundo ele, apesar de o país ser a 9ª economia do mundo, ele ocupa: o 63º lugar, de 64, no ensino de ciência; a 77ª posição no PIB per capita, o que significa que há uma grande produção no país, mas os produtos não são distribuídos, o que causa a desigualdade social; e o 69º lugar em inovação, o que representa o retrocesso de 11 posições em relação à 2007.
Além dessa breve apresentação, Peregrino apresentou um gráfico em que apontou os indicadores da crise no Brasil e a evolução dela ao longo dos anos. Dentre eles estão a alta taxa de juros que é paga pela sociedade; o baixo investimento público-privado em educação, indústrias e infraestrutura; o déficit no orçamento público, além da diminuição das despesas do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o que faz com que muitos projetos científicos parem com a falta de recursos. “A indústria é o motor da inovação no mundo inteiro e destruir a nossa indústria precocemente é um motor de desestímulo à inovação”, declarou Peregrino, que destacou que a indústria brasileira está sendo desconstruída.
Um dos grandes entraves para a inovação brasileira é o modelo agrário exportador que caracteriza a sociedade. “Para esse modelo, a inovação não é importante. O que nós estamos fazendo aqui é um trabalho de resistência, de manutenção da nossa base científica”, ressaltou o professor, que destacou que não adianta o governo destinar verbas para a ciência se os produtos desenvolvidos não são traduzidos em bens de serviço para a sociedade. Somado a isso estão as altas taxas de juros pagas pelos brasileiros “Esta é a nossa economia. A lógica dela é financeira, não é produtiva, muito menos inovativa e tecnológica”, comenta.
Soluções apontadas para o país
Uma das grandes questões que falta ao Brasil, para Peregrino, é o investimento do governo nas empresas iniciantes e a preservação das já existentes. “Essa crise não é de hoje, vem de longo tempo. O Brasil não usa o conhecimento como uma alavanca para sua economia”, ressalta o professor, que contesta a ação do ministro da Fazenda em elevar a taxa de juros sempre que a inflação aumenta. O professor explica que as conseqüências desse ato são um círculo vicioso, pois como os juros estão altos, as empresas deixam de investir, demitem funcionários e compram menos matéria-prima. Com isso, o governo deixa de arrecadar o que previa e o déficit do orçamento público aumenta.
No encerramento de sua exposição, o professor Fernando Peregrino citou seis itens que solucionariam a crise vivenciada pelo Brasil: alinhamento da política econômica com a política de inovação; promoção da industrialização em uma base tecnológica; fomento à pesquisa, educação e inovação; equalização de juros e câmbios para o favorecimento da indústria local e, por fim, a luta por um novo modelo econômico, social, político e de convivência no país.
A programação da Semana Acadêmica segue até o dia 27 de outubro. O cronograma completo de palestras pode ser conferido no site da JAI.
Texto e foto: Gabrielle Ineu Coradini, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias da UFSM
Edição: João Ricardo Gazzaneo