Cebola, óleo, leite de aveia, noz moscada. Enquanto seu Telmo Palacios mistura os ingredientes ele conta um pouco de sua trajetória. A curiosidade foi o que o motivou a abolir a carne de suas refeições. Em uma aposta com sua esposa, Susimar Iop, ambos decidiram passar um mês seguindo a dieta vegetariana. O amor pelos animais e o respeito pela natureza fizeram com que os 252 meses seguintes também fossem assim. Há 21 anos o casal optou pela compaixão.
Nascido na Nicarágua, Telmo veio para o Brasil aos 18 anos e, de lá para cá, teve diversas experiências profissionais. Trabalhou como garçom, cozinheiro e em hotelaria. Foi proprietário de bares, pizzaria e discoteca. Mas foi a experiência como açougueiro que fez com que tivesse um contato mais profundo com o sofrimento dos animais. Abriu, então, em Santa Maria, o Los Pofi Culinária Veg, que, segundo ele, é “uma extensão da minha forma de ser e de pensar”.
Trazido à UFSM pelo Programa de Educação Socioambiental, no dia 17 de outubro, o cozinheiro ministrou uma oficina sobre culinária vegetariana. Entre os 25 participantes haviam jovens, adultos e idosos. Alguns vindos até de cidades vizinhas. Todos motivados a aprenderem mais sobre uma alimentação alternativa.
Segundo uma pesquisa divulgada em 2012, pelo IBOPE, cerca de 15,2 milhões de brasileiros se declaram vegetarianos ou veganos. O valor corresponde a quase cinco vezes a população do Uruguai, por exemplo. Entretanto, ainda são poucos os estabelecimentos voltados à alimentação para esse público. De acordo com os participantes da oficina, até mesmo nas lanchonetes de nossa Universidade a oferta é deficitária. “A UFSM foi a primeira universidade do interior do país. Seria ótimo se fôssemos referência também pela comida vegetariana”, afirma Telmo.
Há dois anos o cozinheiro também virou vegano. “A alimentação alternativa tem um propósito muito bonito”, declara. O veganismo, além da abolição da carne, busca excluir quaisquer formas de crueldade e exploração de animais. A dieta é livre de todos os tipos de produtos de origem animal e também da aquisição de materiais que provenham do abate dos mesmos.
O intuito da oficina é oferecer oportunidades que não sejam apenas de discussão teórica, mas de atividades práticas também, além de abranger um público que sente a necessidade de mais espaços como esse. A coordenadora do Programa de Educação Socioambiental, professora Venice Grings, comenta sobre a chance das pessoas verem e aprenderem a ter um pouco mais de autonomia: “não precisamos nos restringir a esse modelo que nós temos, no qual tudo precisa ser homogêneo”.
Além deste encontro, o projeto de extensão realizou dia 16 o evento “Da dieta para a alimentação saudável”, com a professora Gilberti Hübscher Lopes. Na ocasião, foi debatido o respeito com o organismo, priorizando uma alimentação nutritiva e de escolhas conscientes. No dia 18 ocorreu uma reunião aberta, na feira de produtos orgânicos da UFSM, para mostrar uma outra visão da alimentação, da agricultura e do modo de viver em sociedade. Todas essas atividades fizeram parte da Semana da Alimentação, uma parceria do Programa de Educação Socioambiental e do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea).
Embora muitas pessoas utilizem como argumento o alto custo de uma alimentação vegetariana, Telmo também explica que esta é uma desculpa equivocada. Para ele a retirada de proteína animal reduziu os gastos da família com alimentação em 70%. A alternativa, além de ser altamente barata, também permite que cerca de 95 animais permaneçam vivos por ano, para cada pessoa que a adere.
O cozinheiro também alegra-se ao contar que a sobrevivência econômica da família com o restaurante é bastante viável. Mas sempre ressalta que sua motivação principal não é econômica, política ou ativista. “Trabalhamos por valores humanos, não valores financeiros”. Segundo ele, não há valor econômico que os faça mudarem para outra forma de rentabilidade.
Ao fim do relato, um molho branco alternativo na panela, uma maionese vegana no liquidificador e a tranquilidade de uma consciência livre de culpas. Talvez a frase que mais defina a filosofia da família Palacios seja a que está estampada na parede do restaurante: “Nós não comercializamos um produto. Humanizamos um alimento.”
Texto e fotos: Melissa Konzen, acadêmcia de Jornalismo da UFSM e bolsista da Agência de Notícias
Edição: João Ricardo Gazzaneo