A platéia varia da terceira idade aos que não chegaram a um ano de vida. A cena é composta por balões de diversas cores, cachorro-quente, nega maluca e um inegável clima de festa ao som de Beatles e marchinhas de carnaval. O ar do Hospital Universitário de Santa Maria torna-se menos pesado com a chegada do Esquadrão da Alegria, que desde 2007 provoca risadas em crianças e adultos.
De quinze em quinze dias, os doutores da ONG, autoentitulados “médicos besteirologistas”, visitam o HUSM. A trajetória começa no ambulatório, passa pelo saguão principal e inclui também o centro obstétrico, a pediatria infantil e o P.A. Embora o foco do grupo esteja nas crianças, a máxima de que a alegria contagia se faz correta, e atinge adultos, médicos e enfermeiros do hospital. “No início, tinha uma restrição. O pessoal achava que a gente vinha pra tirar sarro da cara deles, mas depois viram que fomos ajudando a abrir uma porta. Hoje, interagem mais fácil. Todo mundo brinca com a gente”, esclarece Paulo Ricardo Silveira Flores, também conhecido como Dr. Cotonete.
Dezesseis integrantes estão atualmente no Esquadrão. Na vida real, são técnicos em telecomunicações, administradores, fisioterapeutas, estudantes, corretores de imóveis. Não é necessário ter formação em Artes Cênicas para fazer parte da ONG, ao contrário de uma das inspirações do grupo – os Doutores da Alegria, que atuam nacionalmente. Outra distinção é que o trabalho não é remunerado. Segundo Paulo, “a diferença é que eles são profissionais, e nós somos coracionais. A gente faz de coração e não por valores determinados”.
Renan Scholtz, o Dr. Ciro João, explica que antes de vestir a roupa de doutor, o voluntário participa como residente, observando algumas visitas para concluir se ele se encaixa ou não na proposta do Esquadrão. “Muita gente entra achando que vai fazer um trabalho legal e ganhar dinheiro. A gente ganha satisfação de sair daqui e ver que deixou o pessoal um pouquinho diferente”. O sorriso estampado nos rostos de crianças e adultos comprova a tese de Renan. Para arrancar risadas, a fórmula consiste em brincadeiras e músicas que garantem a animação do público – o repertório acerta em cheio ao incluir Restart e Luan Santana, sucessos infanto-juvenis.
Boa parte da musicalidade do grupo vem de Bernardo Varone, estudante do 2º semestre de Música e Tecnologia da UFSM. O som não se restringe às apresentações nas salas do hospital: volta e meia pode-se ouvir o Dr. Maestro Dórrémi Sofá Deitado dedilhando as cordas de seu violino pelos corredores do HUSM. Porteiros, bolsistas e servidores acabam entrando na brincadeira. “Somos um trabalho em equipe. O hospital já tem um clima tenso. A gente tem que vir com alegria, mostrar que pode ser criado outro lado”. Renan completa: “tem gente que está há tanto tempo no hospital que considera isso aqui a casa deles. A gente não tem o poder de tirar a doença, mas podemos dar uma amenizada naquele momento”. Nem que seja por alguns minutos, o Esquadrão funciona como a válvula de escape em meio a um ambiente pesado, como qualquer hospital. Uma anestesia com altas possibilidades de causar sorrisos e risadas.
Repórter:
Dairan Mathias Paul – Acadêmico de Jornalismo
Edição:
Lucas Dürr Missau