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Acampavida: velhos de corpo, jamais de alma



 

São visíveis as mudanças ocorridas ao longo dos anos no processo de envelhecimento da população. Essa transição contínua, resultante de taxas de fecundidade cada vez menores e esperança de vida cada vez maior, reflete a importância de evitar que os idosos tenham um decréscimo na sua qualidade de vida. “Há 30 anos se dizia que o Brasil era um país de jovens, hoje não se pensa mais assim, o Brasil é um país de velhos e toda a sociedade vai ter que pensar e se adaptar para essa nova realidade”, afirma o coordenador do Núcleo Integrado de Estudo e Apoio à Terceira Idade, professor Marco Aurélio Acosta.

Ao longo dos anos, houve uma mudança no foco das preocupações relacionadas a essa fase. Antigamente, os estudos relativos à velhice abordavam as doenças e problemas relacionados ao envelhecimento e a principal meta era encontrar meios de fazer as pessoas viverem mais. Hoje não se pensa mais assim. Conforme afirma o professor Marco Aurélio “o desafio agora é proporcionar o envelhecimento com qualidade de vida, ou seja, fazer a pessoa viver o seu tempo de vida, independente de qual seja, com qualidade”. Essa nova realidade exige que todas as profissões mudem. “Como o Jornalismo fará um jornal com fonte maior? Como se formará um professor de Educação Física para trabalhar também com velhos? Como um arquiteto projetará uma casa para quem vai estar com 90 anos e uma bengala e não mais para aquele casal padrão com dois filhos?”, questiona o professor.

Na Universidade Federal de Santa Maria, o trabalho com a terceira idade acontece principalmente através do Núcleo Integrado de Estudo e Apoio à Terceira Idade (NIEATI). O Núcleo foi fundado em 1984, com o objetivo de melhorar a autonomia física e intelectual dos idosos, proporcionando-lhes o máximo de independência possível. Atualmente, são desenvolvidas diversas atividades nesse espaço: projetos de extensão, projetos de pesquisa com alunos de graduação e pós-graduação, cursos e grupos de formação, trabalhos com a comunidade e eventos. Entre os eventos desenvolvidos pelo Núcleo estão o Curso de Formação de monitores para os grupos de atividades físicas para a terceira idade e o Acampavida.

Nos dias 14, 15 e 16 de outubro aconteceu a 13ª edição do Acampavida na UFSM. Na programação da sexta-feira (14) estava o II Seminário de Pesquisa/Extensão sobre Terceira Idade e Envelhecimento e o baile de abertura no Clube Comercial. No sábado pela manhã, aconteceu a cerimônia de abertura, a apresentação de trabalhos do Seminário e o almoço. Durante a tarde, diversas oficinas e mostras artísticas. O dia de domingo foi reservado para oficinas e para a atividade de encerramento do evento. Os idosos tiveram a oportunidade de escolher entre as várias oficinas oferecidas, como natação, massagem, dança, musculação, direito do idoso, nutrição e cavalgada.

A ideia da realização do Acampavida surgiu devido ao sucesso do trabalho realizado pelo NIEATI e pelo aumento da procura pelos grupos vinculados a ele. O evento acontece desde 1998 e só é possível graças ao esforço e dedicação de todos os envolvidos no projeto. Inicialmente, o Acampavida contava com recursos humanos exclusivamente da UFSM. Hoje, resultante do crescimento constatado a cada edição, além da participação de acadêmicos e professores de diversos cursos da UFSM, como Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Direito e Biologia, o evento também conta com a participação de algumas instituições de Santa Maria como a Universidade Franciscana (UNIFRA), a Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), a Faculdade Metodista de Santa Maria (FAMES) e a Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA). No ano passado, participaram do evento cerca de 850 pessoas. Este ano, o número ultrapassou os 900 participantes.

Através do Acampavida, os idosos de toda a região têm a possibilidade de relacionar-se com os demais, trocar experiências mutuamente, aprender e transmitir conhecimentos. O evento proporciona um espaço de convivência dentro da Universidade que permite, através do lúdico ou de manifestações culturais, o crescimento mútuo entre os participantes. O projeto se destaca na tentativa de proporcionar uma melhoria na qualidade de vida das pessoas em idade avançada e mostrar-lhes que existem diversos processos de envelhecimento. “O Acampavida tem esse papel de dinamizador, de disparar a possibilidade para que as pessoas percebam que existem hoje várias formas de envelhecer. Quando se fala de envelhecimento é um processo longo, quando se fala de velhice é a última parte dessa longa trajetória. Os termos parecem iguais, mas não são”, explica Marco Aurélio.

Como forma de preservar e melhorar a qualidade de vida dos idosos há um esforço em atender às necessidades culturais e sociais específicas dessa fase. Esse esforço implica na criação de novos modelos de vida. Os modelos que abordam doenças, morbidade e patologias, chamados de biomédicos, foram cedendo espaço para aqueles que tratam de envelhecimento saudável, ativo e com qualidade de vida. No entanto, um modelo não exclui o outro. “Não nos interessa criticar o modelo que era predominantemente de doenças e colocar um outro modelo também coercitivo, que te obrigue, que te diga o que tem que ser feito”, esclarece Marco Aurélio. Permite-se, então, por meio desses novos modelos e, através do Acampavida, oferecer às pessoas que envelhecem a possibilidade de escolher o seu processo de envelhecimento e melhorar substancialmente sua qualidade de vida.

Repórter:

Camila Marchesan Cargnelutti – Acadêmica de Jornalismo.

Edição:

Lucas Dürr Missau.

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