A UFSM esteve representada na expedição científica M-206 Amazon Geotraces-2, uma missão interdisciplinar que reuniu pesquisadores de instituições do Brasil e da Alemanha no final de 2024 com o objetivo de ampliar a compreensão do impacto do Rio Amazonas no transporte de elementos para o Oceano Atlântico, contribuindo para a formação de uma base de dados abrangente sobre a região. O professor Leandro Machado de Carvalho, do Departamento de Química do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), e o pós-doutorando em Química Cristian Krause estiveram entre os 30 pesquisadores a bordo do navio de pesquisa alemão Meteor, que, de 1º a 30 de dezembro, percorreu a costa norte brasileira, incluindo águas internacionais no Atlântico e a foz do Rio Amazonas.
A expedição estudou a dinâmica biogeoquímica de elementos traço (um elemento de origem natural presente em pequenas quantidades na crosta terrestre, sendo a maioria metais pesados), matéria orgânica e isótopos na região do estuário do Rio Amazonas e do Oceano Atlântico. A finalidade foi compreender como esses elementos influenciam a dinâmica da vida marinha, especialmente nas regiões estuarinas, onde desempenham papel crucial nos ciclos biogeoquímicos. A interação desses elementos com a matéria orgânica produzida nos rios e sua forma de transporte para o oceano são fundamentais, já que muitos desses elementos atuam como nutrientes em áreas costeiras de alta bioprodutividade.
Cooperação acadêmica
O projeto da expedição é fruto de uma cooperação acadêmica coordenado pelo professor da UFSM com instituições alemãs, por meio do Programa de Pesquisa Brasil-Alemanha (Probral), fruto da parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD, na sigla em alemão). Essa cooperação existe desde 2006 e fortaleceu a parceria entre os grupos de pesquisa participantes da expedição: o Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica (Geomar), de Kiel; Universidade de Oldenburg; Universidade de Bremen; Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além da UFSM.
Leandro explica que o projeto Amazon-Geotraces teve início em 2018, com a realização da primeira expedição durante o período chuvoso na região amazônica, da qual ele também participou. Em 2004, ele já havia colaborado com uma expedição científica a convite da International University Bremen nas cadeias meso-atlânticas (expedição M60/4), também a bordo do Meteor, fruto de um trabalho de pesquisa anterior em sua tese de doutorado com especiação de selênio em fluidos hidrotermais coletados no Oceano Índico. “O convite para esse projeto iniciado em 2018 e consolidado na expedição de 2024 é fruto dessas pesquisas anteriores e da formação de recursos humanos e publicações nessa linha de pesquisa nos últimos anos”, afirma.
Trabalho dos pesquisadores da UFSM a bordo
Durante o período no navio, o trabalho dos pesquisadores da UFSM envolveu a realização de experimentos com métodos eletroquímicos para a especiação de elementos eletroativos em amostras de águas estuarinas, águas intersticiais e águas marinhas. Além da realização de ensaios, os pesquisadores trabalharam em contato direto com outros pesquisadores a bordo para o estabelecimento dos pontos a serem coletados e estudados na região de influência amazônica. As análises foram realizadas no laboratório montado a bordo pelos pesquisadores para ensaios em tempo real ao longo dos transectos mapeados para a expedição. Os pesquisadores também apresentaram duas palestras a bordo sobre os resultados obtidos durante a expedição.
Conforme Leandro, os resultados prévios estão divulgados no relatório oficial da expedição, enviado ao órgão de fomento alemão (DFG) e também à Marinha do Brasil. Além destes resultados prévios, a expedição será publicada em diferentes artigos científicos pelos grupos de pesquisa ao longo dos próximos dois anos de estudos subsequentes, pois os grupos levaram um grande número de amostras de águas e sedimentos coletados a bordo para seus laboratórios de pesquisa no Brasil e na Alemanha.
Experiência inovadora
O professor destaca que a experiência nesta terceira expedição da qual participou foi bastante inovadora. “Um trabalho de pesquisa em uma expedição é sempre desafiador em vários aspectos, uma vez que os métodos desenvolvidos em laboratório na Universidade precisam ser aplicados em condições extremas, pois o ambiente pesquisado é muito dinâmico, além do fato dos instrumentos funcionarem dentro de uma embarcação que, apesar de uma excelente estrutura para pesquisa oceanográfica, requer certas adaptações estruturais. Nesse sentido, os pesquisadores precisam tomar decisões, muitas vezes, em tempo recorde”, relata.
Segundo ele, outro aspecto importante do trabalho nesse tipo de ambiente e área de estudo é que os métodos são aplicados para quantificação de elementos em concentrações extremamente baixas (nanogramas por litro), onde a exatidão dos resultados deve ser constantemente avaliada.
Internacionalização da UFSM
“Esse trabalho contribui fortemente para as iniciativas de internacionalização de nossa Instituição, pois insere a UFSM num contexto onde poucos grupos de pesquisa brasileiros atuam. Além dessa inserção, o trabalho envolve diretamente a formação de mestres e doutores no CCNE com temas relacionados às amostras coletadas durante a expedição, ampliando o escopo dos estudos do projeto como um todo”, afirma Leandro.
No momento, o grupo de pesquisa do CCNE/UFSM participa de um projeto de cooperação Probal juntamente com a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e a Universidade Federal do Ceará (UFC). Esse projeto terá como foco os estudos derivados da expedição realizada em 2024.
Além dos pesquisadores do CCNE, a expedição contou com a participação de um egresso do Programa de Pós-Graduação em Química da UFSM, Alexandre Schneider, atualmente professor na UFRGS. Durante sua graduação e pós-graduação na UFSM, ele participou de grupo de pesquisa coordenado por Leandro, iniciando sua jornada acadêmica. Desde então, já participou de quatro expedições.
Durante a expedição, os pesquisadores relataram suas experiências pessoais e seus estudos em um blog no site da professora Andrea Koschinsky, da Universidade Constructor de Bremen.
Fotos: Arquivo pessoal de Leandro Machado de Carvalho