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Método Líquen chega em Santa Maria: saiba mais sobre a técnica de cálculo mental que busca mudar a relação dos alunos com a matemática

A escola Erlinda Vinadé é a primeira do município a adotar a abordagem. Em 2025, a metodologia utilizada na pré-escola passa a ser aplicada no Ensino Fundamental



Resolver contas de cabeça parece uma tarefa possível apenas para alguns poucos agraciados com o “dom da matemática”, enquanto a maioria possui dificuldades até com papel e caneta para enfrentar uma das matérias mais temidas durante a vida escolar. Índices do Anuário Brasileiro de Educação Básica 2024 e o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) apontam que menos de 4% dos alunos concluem o Ensino Médio com uma aprendizagem adequada sobre Matemática, e somente 3% de alunos pobres com até 15 anos possuem conhecimento básico da disciplina. 

Para facilitar os primeiros passos de seus alunos neste universo de números, a Escola Municipal Erlinda Vinadé é a primeira instituição de ensino em Santa Maria a adotar o método Líquen, criado pela professora da UFSM campus Palmeira das Missões, Sabrina Zancan. Em 2025, o método será aplicado pela primeira vez no Ensino Fundamental de Santa Maria. 

O Líquen tem como objetivo tornar a Matemática mais simples e intuitiva através do cálculo mental para a resolução de operações aritméticas – adição, subtração, divisão e multiplicação. O ensino é feito de forma progressiva por meio de exercícios breves aplicados do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental. Neste período, os alunos vão realizar 800 exercícios propostos pelo método. “O cálculo mental faz com que os alunos enxerguem a matéria de forma mais bonita porque ela se torna uma matemática com padrões ao invés de regras, por isso ele precisa ser introduzido quando o aluno começa a construir sua relação com a Matemática”, explica Sabrina. 

A orientadora educacional e professora da Erlinda Vinadé, Roseclér Becker, decidiu aderir ao Líquen assim que a proposta foi apresentada por meio da secretaria municipal de Educação. “Fui como representante da escola e a abordagem que o método propôs me chamou atenção. Sou formada em matemática e tanto na minha graduação, quanto no meu trabalho como docente, nunca havia visto algo parecido”, conta. 

Este ano os alunos já tiveram o primeiro contato com o cálculo mental a partir do Método Líquen Pré-Escola, que os prepara para as atividades que serão trabalhadas nos primeiros anos do Ensino Fundamental. As primeiras atividades na escola santamariense são realizadas com os alunos dos Pré A e B a partir do segundo semestre deste ano. Os alunos das duas turmas concluíram nesta última sexta (6) as 70 tarefas que receberam.

No próximo ano, os alunos iniciam o primeiro nível do método.  Cada ano corresponde a um nível de aprendizagem. Para garantir a aprendizagem eficiente sem sobrecarregar os estudantes. Passar por cada nível no tempo certo é o requisito para avançar no processo: não é possível pular ou acumular níveis no método Líquen.  A realização do Líquen Pré-Escola não é obrigatória para iniciar o aprendizado com o Líquen.

O fim da “matemática: ame-a ou deixe-a”

O objetivo do Líquen é fazer com que a Matemática deixe de ser uma matéria temida pelos alunos na fase escolar e também durante a escolha de suas profissões. “Não me conformo quando alunos colocam a matemática como um limitador, seja por desistir de algo acreditarem que não têm conhecimento ou por não gostarem. A partir do momento que ele tem segurança dos seus conhecimentos, qualquer curso escolhido pode ser por suas vontades ao invés de necessidades”, explica a professora da UFSM e criadora do método,  Sabrina Zancan.

A escolha do nome para o método também reflete este desejo de Sabrina e, para retratar isso, ela utilizou um conceito da Biologia. O líquen é um organismo que age sobre as rochas. Essa interação forma solos e destes surgem as plantas que, gradualmente, formam uma floresta. “Toda a floresta começa por um líquen”, diz Sabrina ao lembrar de uma fala da sua professora de biologia. De volta à matemática, o objetivo do método é servir como base para a construção de todos os conhecimentos posteriores na área.

O “líquen” da matemática é a aritmética, que compreende as quatro operações básicas (adição, subtração, multiplicação e divisão). Esses são os conhecimentos basilares para compreender outros conceitos matemáticos, do ensino fundamental ao ensino superior, onde aparece além das áreas clássicas como engenharia, física e, a própria matemática. No campus de Palmeira das Missões, Sabrina leciona as disciplinas de Cálculo I, Física aplicada à Biologia e Estatística para os cursos de  Zootecnia,  Ciência Biológicas, Nutrição e Enfermagem.

Funcionamento do método

O Líquen existe há 10 anos e é aplicado em 22 escolas, 19 do Rio Grande do Sul e três do Paraná, onde o método chegou graças à parceria de Sabrina com a professora Danilene Berticelli. Sabrina, junto com a docente da UFPR, transformou a metodologia em uma marca com direito a um site próprio que traz conteúdos como técnicas de ensino, exercícios e cursos para professores. Mais do que ensinar, o Líquen tem como objetivo mudar a relação dos estudantes com a máteria.

O primeiro nível trabalha os conceitos de dobro e de decomposição numérica, ou seja, o aluno aprende que 20 é o dobro de 10, mas também pode ser 15 + 5, 11 +9, 12 + 8 e 30 – 10, 25 – 5 e assim por diante. Esses conhecimentos servem como base para a resolução de problemas aritméticos como por exemplo: para chegar ao resultado de 4 x 9 não é preciso decorar toda a tabuada. Basta saber que o resultado é igual a 4 x 10 – 4, logo, 36. 

O mesmo processo pode ser feito em divisões. Por exemplo: o quociente de 36/4. Sabe-se que 4 x 10 é 40. Ao subtrair 4,  o resultado fica 36. Essa subtração significa que, ao invés de 10 somas do número quatro, foram realizadas 9. Então assim se obtém o resultado.

Acompanhar as linhas que explicam como o processo funciona leva mais tempo que apenas memorizar os números. Fazer tudo isso mentalmente então, pode parecer ainda mais demorado e complexo. Sobre isso, a professora destaca que geralmente o cálculo mental é associado com velocidade. No entanto, ela frisa que o mais importante no Método Líquen não é a resposta, mas o processo de raciocínio. “Fazer uma conta de cabeça pode ser muito mais lento do que armar uma conta no papel, mas o interessante do cálculo mental não é a velocidade, mas sim o caminho percorrido para chegar nos resultados, que passa por conhecimentos muito mais amplos do que apenas  somar algarismos”.

Para aumentar a eficácia na aprendizagem do método, Sabrina desenvolveu a dinâmica dos exercícios com base nos conceitos da neurociência sobre aprendizagem. As sessões de atividades são diárias e têm duração de quinze minutos. Neste período de tempo, o aluno resolve as questões de forma individual apenas com um lápis e uma folha de papel, sem a utilização  de materiais manipuláveis para representar os números em quantidades. 

“O conhecimento é construído coletivamente, mas se consolida de forma individual e a forma mais fácil de absorvê-lo é por meio da escrita e repetição por curtos períodos. Além disso, é preciso trabalhar a capacidade de abstração porque nenhum símbolo matemático existe. Você não vê um cinco passeando por aí”, explica a professora.

Este ano as professoras iniciaram com as turmas do 1º ano a segunda geração do método Líquen com novos materiais didáticos. Para 2025 as atualizações chegam para as turmas do segundo ano e assim sucessivamente até atingir os cinco primeiros anos do Ensino Fundamental.

A arte de dançar com os números

Sabrina compara a manipulação dos números com uma dança. A coreografia do número 8, por exemplo, pode ser realizada por diversos pares: 4+4, 6+2, 7+1, 12-4, 10-2, 9-1 e etc. Para ajudar nessa tarefa, a professora desenvolveu um material para auxiliar na compreensão do método.

O Sense Líquen consiste em uma base de papel dividida em duas partes e 20 bolinhas de EVA em formato de moeda, com uma face de cada cor. Cada parte da base contém um espaço para dez bolinhas, divididas em cinco fileiras. Assim, é possível realizar operações de adição e subtração de até 20 unidades. Com apenas uma operação realizada na base é possível ver como chegar em um mesmo resultado por meio de cálculos diferentes.

Para somar 4 + 3, é possível colocar quatro bolinhas de uma cor e três de outra. Assim, o aluno consegue compreender sete é composto por 4 + 3. Além disso, ao olhar para a base, o aluno verá os cinco espaços da primeira fileira e dois da segunda preenchidos. Deste modo, ele pode concluir que 5 + 2 também é igual a sete. O mesmo ocorre na subtração. 

Por exemplo, ao fazer a conta de 13 – 5, ao invés de remover as bolinhas, os alunos preenchem os treze espaços da cartela e, após isso, viram a face de todas as bolinhas para que elas mudem de cor até a primeira fileira. Com isso, os alunos têm o número cinco como referencial e podem compreender quantas unidades faltam para chegar até o número 13. O que pode ser resolvido pela conta + 5 unidades para chegar até 10 e + 3 unidades para chegar até 13, logo oito unidades. Assim é possível perceber três formas diferentes de se compor o número 13: 13-5= 8; 8+5=13; 5+8=13.

Construção da metodologia  a partir da sala de aula

A experiência no ensino universitário fez com que a docente constatasse quais as principais carências que os alunos trazem para o ensino superior. Já a sua atuação como professora particular a possibilitou identificar como essas deficiências educacionais são construídas. “O método foi desenvolvido para ser aplicado durante o primeiro contato do estudante com os cálculos por ser mais fácil estimular o aluno a aprender algo novo do que reaprender algo que eles têm dificuldade”, detalha Sabrina

Os principais parceiros de Sabrina para o refinar o método foram os alunos do Instituto de Educação Borges do Canto, de Palmeira das Missões, onde o Líquen foi aplicado pela primeira vez. De acordo com a professora, a desenvoltura deles para realizarem as atividades e o ritmo de evolução nas salas de aula. “Eu sabia o caminho para aplicar o método, mas não sabia qual era a velocidade e os obstáculos que eu encontraria pelo caminho. Foram as crianças que me mostraram isso”, recorda.

CalMe Pro: Ensinando a Ensinar

Sabrina conta que durante as primeiras aplicações do método, os professores apenas entregavam e corrigiam os exercícios, sem interagir muito com o método. “Quando eu comecei era muito difícil para mim chegar nos professores e dizer a eles como ensinar, então eu só entregava os exercícios para dar o mínimo trabalho possível”. Mesmo com esse formato, os professores mantiveram o método porque era possível ver os avanços dos alunos na sala de aula. Em 2020, a dinâmica começou a mudar. 

Nessa época a professora Danilene Berticelli contatou Sabrina para que o método Líquen fosse aplicado em uma escola do Paraná. No entanto, a pandemia fez com que as atividades fossem interrompidas com uma semana de aula. Sem poder trabalhar com os alunos, as professoras decidiram começar a desenvolver um método de ensino de cálculo mental para os professores.

De início, a metodologia era bastante semelhante à aplicada para os alunos. Os professores recebiam tarefas para resolver em uma semana e na outra se reuniam para relatar como deveria ser a experiência. “Passamos 20 semanas em reuniões para adequar o Método Líquen para os professores”, lembra Sabrina. Hoje o curso se chama CalMe Pro, já está na sua 15ª edição e formou mais de 400 professores. O CalMe Pro possui 12 semanas de duração onde, além de aprenderem todo o conteúdo trabalhado por cinco anos com alunos, são ensinadas técnicas de ensino para o cálculo mental.

“A experiência me fez perceber como podemos ensinar o cálculo mental de formas diversificadas para as crianças. Foi como se a matemática criasse asas”, conta a orientadora educacional e professora da Erlinda Vinadé, Roseclér Becker. Roseclér afirma que além dos aprendizados como professora, o curso também trouxe aprendizados e ideias que a ajudaram a se capacitar como gestora escolar.

 

Texto: Bernardo Silva, estudante de jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Lucas Casali e Mariana Henriques, jornalistas

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