Aquíferos: uma riqueza natural escondida abaixo de nós. Em termos científicos, os aquíferos são formações geológicas, compostas por rochas porosas e permeáveis, capazes de armazenar água no subterrâneo. Essas regiões, apesar do que muitos pensam, possuem grande relevância para a vida humana e animal, uma vez que as águas subterrâneas representam cerca de 99% de toda água doce líquida existente no planeta. Nesse sentido, os aquíferos fornecem 33% do consumo humano de água, segundo o artigo “Deep Trouble: The Hidden Threat of Groundwater Pollution”.
Dessa forma, evidenciar a importância dos aquíferos tem sido a principal missão do projeto “Ações de Divulgação da Ciência Hidrogeológica”, uma iniciativa vinculada ao Laboratório de Hidrogeologia (Labhidrogeo) da UFSM que foi contemplada no edital do Território Imembuy. Para alcançar os seus objetivos, o projeto busca capacitar professores de geografia, do ensino fundamental e médio das escolas de Santa Maria e região, sobre a hidrogeologia, um ramo da geociência que estuda as águas subterrâneas.
A equipe envolvida na ação elaborou uma série de modelos físicos, de fácil confecção e baixo custo, na intenção de promover uma forma mais dinâmica de ensino sobre a importância dos aquíferos. Os modelos, na prática, buscam simular um aquífero, com a utilização de materiais de fácil acesso, como pedras, areia, vasilhas ou garrafas PET, seringas e corantes.
O coordenador do projeto, professor do Departamento de Geociências Luciano Marquetto, explica que em um único recipiente é possível representar os conceitos de permeabilidade, porosidade, contaminação das águas e a relação entre água superficial e subterrânea.
Pedro Daniel Kemerich também é professor do Departamento de Geociências e atua no projeto. Ele destaca que os principais objetivos da iniciativa foram o baixo custo de produção dos modelos e a acessibilidade ao conhecimento. “Frisamos muito a questão do custo devido à replicabilidade em sala de aula. Queremos que os professores, e os alunos, se tornem replicadores dos modelos e dos conceitos que aprendem”, explica.
Do projeto à prática
Ao conquistar o incentivo do Território Imembuy o projeto se estendeu para além dos portões da Universidade. Inicialmente, foi realizada uma oficina de capacitação de professores sobre a ciência hidrogeológica e confecção dos modelos na Secretaria Municipal de Educação de Santa Maria A partir dessa primeira oficina, a equipe do projeto passou a receber convites para apresentar as ações de divulgação em escolas.
Até o momento da publicação desta reportagem, foram realizadas atividades nas escolas municipais de ensino fundamental São Carlos, de Santa Maria, Santo Antônio, de Agudo, e na Escola Estadual de Educação Básica Bom Conselho, em Silveira Martins.
Durante as visitações, as oficinas foram ministradas pelos bolsistas da iniciativa. Mauricio Maciel Dias é estudante do curso de Geografia na UFSM e integrante do projeto como bolsista. Ele comenta sobre a abordagem realizada com os alunos: “geralmente, nós realizamos uma oficina introdutória utilizando uma linguagem mais acessível, claro, para trazer alguns conceitos iniciais sobre a hidrogeologia antes de partirmos para as demonstrações”. Maurício conduz as oficinas ao lado de suas colegas bolsistas Brenda Amoretti, graduanda de Engenharia Florestal, Claudia Elisa Souza, mestranda em Geografia, e a participante voluntária Vanessa Gamm, estudante de Geografia.
Depois da apresentação dos conceitos iniciais, os estudantes são apresentados aos modelos que simulam os experimentos com os aquíferos. Conforme Luciano, dentre os conceitos aplicados, a representação da contaminação das águas é o que mais chama a atenção dos alunos. “Nesse experimento injetamos o corante na areia ‘dentro do modelo’ para representar o contaminante chegando até a água subterrânea. É o que mais chama a atenção, porque podemos ver na prática como esse processo ocorre, e assim entender que acontece da mesma forma com os aquíferos”, explica o coordenador.
Antes de encerrar as oficinas, o grupo realiza uma roda de conversa sobre as características geológicas da região na qual os alunos vivem. Com o auxílio de um mapa, os bolsistas tiram dúvidas e revelam curiosidades sobre os aquíferos que existem em determinado local, como a qualidade da água, disponibilidade de água subterrânea, erodibilidade do solo, entre outras.
A equipe do projeto trabalha com a expectativa de que o estudante leve o conhecimento que aprendeu para fora da escola. “Tendo um conhecimento básico, que é o que a gente deseja com o projeto, eu acho que os alunos já conseguem ter uma compreensão muito legal sobre o subterrâneo”, comenta Luciano. “A ideia é ‘plantar uma semente’, porque essas crianças são curiosas e muitos dos exemplos que nós levamos irão marcá-las, e depois elas comentam com a família o que aprenderam”, complementa Pedro.
Professores de escolas de ensino fundamental e médio interessados pela proposta podem entrar em contato com a equipe para solicitar a realização das oficinas pelo e-mail divulga.hidrogeo@gmail.com.
Divulgando a ciência além das escolas
Apesar de a iniciativa se destacar pelas atividades práticas em colégios, a equipe do projeto também promove a divulgação de curiosidades e outros conceitos relevantes sobre a ciência hidrogeológica através do Instagram @divulga_hidrogeo. Além disso, os coordenadores Luciano e Pedro contribuíram na elaboração do Guia de Práticas Educativas no Geoparque Quarta Colônia, com a autoria do capítulo “Entendendo o funcionamento da água subterrânea” (página 271), que destaca a importância de conhecer e proteger os aquíferos.
Sobre o Território Imembuy
O Território Imembuy é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão (PRE) que busca o desenvolvimento da região central do Rio Grande do Sul a partir das iniciativas exitosas da UFSM na certificação da Quarta Colônia e de Caçapava do Sul como Geoparques Mundiais da Unesco. Foram contemplados, ao todo, 54 projetos voltados ao incentivo de novas pesquisas científicas no campo da educação, expansão econômica e geração de emprego e renda. O Território Imembuy abarca 37 municípios e mais de 700 mil habitantes.
Mais informações sobre podem ser conferidas aqui.
Texto: Pedro Moro, acadêmico de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Laurent Keller, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista