O Laboratório de Arqueologia, Sociedades e Cultura das Américas (Lasca) realizou nesta sexta-feira (29), nos turnos da manhã e tarde, um minicurso de Escavação Arqueológica no Museu Educativo Gama d’Eça. Os participantes aprendem e aplicam em uma área de um metro quadrado as mesmas técnicas utilizadas em pesquisas de sítios arqueológicos, como o de Dona Francisca, descoberta recente que tem sido objeto de estudos de pesquisadores da UFSM. A atividade ministrada pelo coordenador do Lasca, André Luís Soares, demonstrou todo o processo de preparação do território a ser explorado, como a escavação deve ser feita e como é realizada a identificação e classificação dos itens encontrados.
Soares conta que esses mesmos princípios são utilizados no sítio arqueológico de Alcinópolis (MS), onde o professor realiza estudos em conjunto com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) sobre pinturas rupestres e sociedades indígenas. “A escavação chegou a 50 centímetros de profundidade, e encontramos objetos que datam do século 6º da era cristã, o que corresponde a grupos que viveram lá há 1.400 anos.”
O professor explica que antes de iniciar uma escavação é preciso realizar o processo de quadriculação, em que a área é isolada em formato quadrangular. Com o perímetro delimitado, ocorre a determinação do eixo horizontal (X) e vertical do quadrículo (Y). Assim, é possível determinar a localização dos objetos que são encontrados em relação a cada um dos eixos, como em um plano cartesiano. Conforme a escavação progride, surge o eixo de profundidade, representado pela letra Z.
Para a estudante Anna Paula Silva, do sexto semestre do curso de História, a matemática foi um dos desafios vencidos na experiência buscada como complemento para sua formação. “Na modalidade de licenciatura nós aprendemos um pouco sobre arqueologia na teoria, mas essa experiência prática nós nunca tivemos”, destaca.
Histórias que o Gama d’Eça guarda no solo
Descobrir o modo de vida, bem como o legado artístico e tecnológico de grupos que viveram há milhares de anos, está entre os principais motivos que levam os estudantes a se interessar pela arqueologia. Mas a área também dá aos pesquisadores a chance de conhecer melhor o passado recente, inclusive de Santa Maria. Com esse objetivo, o coordenador do Lasca submeteu ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) um projeto de escavação no pátio do Museu Gama d’Eça. A expectativa é que as escavações se iniciem em 2025, assim que forem autorizadas pelo Iphan.
“Santa Maria foi fundada a partir de um acampamento militar onde hoje fica a Rua do Acampamento. O museu fica logo no início da rua, então é possível que ele contenha vestígios dessa ocupação e de outros acontecimentos desde o século 18”, explica o professor André Luis Soares.
A investigação deve movimentar uma parte do museu que não é muito conhecida pelo público, além de estimular a produção de trabalhos acadêmicos. O diretor do Gama d’Eça, Bernardo Duque de Paula, avalia que a escavação, além de trazer mais visibilidade ao museu e à divulgação científica, vai possibilitar que as escolas, ao visitar o museu, presenciem a realização de uma pesquisa arqueológica real.
Texto: Bernardo Silva, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Laurent Keller, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Lucas Casali