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Há uma década, Projeto Zelo é sinônimo de cuidado para cães e gatos abandonados no Campus Sede

No último ano, quase 100 cães passaram pelo grupo para atendimento e adoção



foto vertical colorida de duas moças abraçadas lado a lado, olhando para a câmera, ao lado banners do projeto e abaixo caixas com itens à venda
Brechó angaria recursos para o projeto

Criado em 2014, o Projeto Zelo atua há 10 anos com o propósito de conscientizar a população acadêmica e geral sobre a causa animal e auxiliar cães e gatos em situação de vulnerabilidade no campus. Em 2018, a iniciativa – que originalmente era vinculada ao Gabinete do Vice-Reitor – foi assumida pela Pró-Reitoria de Extensão (PRE), sob a coordenação da professora Fabiana Stecca, do Departamento de Ensino do Colégio Politécnico.

O projeto conta com uma equipe institucional e multidisciplinar formada por servidores e estudantes. O Zelo age, principalmente, por meio de palestras educacionais com a temática do abandono e dos maus-tratos. No último ano, quase 100 cães passaram pelo grupo.

Com campanhas e meios próprios de arrecadação de recursos para os tratamentos dos animais, o Zelo encaminha cães e gatos abandonados para atendimento veterinário e adoção. Os serviços prestados pelo projeto são exclusivos para os bichanos que têm relação com o Campus Sede. 

Para Fabiana, de modo geral, ainda não há um entendimento sobre o papel educativo do Zelo. “Acham que, por ser de uma instituição pública, o projeto tem que se responsabilizar. Infelizmente, quanto mais nós, as ONGs e os municípios trabalhamos, mais as demandas surgem. Isso acontece porque as pessoas acham que alguém vai fazer o que elas não fizeram: cuidar dos animais”, desabafa.

Protocolo de atendimento 

Quando há notificação de abandono, o projeto organiza uma série de etapas de verificação. O primeiro passo é solicitar ao reportador os locais onde o cão ou gato foi visto e com que frequência, além de fotos do animal. Pelas redes sociais, o Zelo tenta localizar o tutor. Não havendo tutela reconhecida, é agendada uma consulta para conferir o estado geral de saúde do animal.

Após a checagem de saúde, verifica-se a castração dos animais com idade suficiente para esse processo. Os cães e gatos castrados são direcionados para a adoção. Para os que ainda não passaram pela castração, inicia-se uma campanha de captação de recursos. 

Assim que se constata que o bicho está saudável e castrado, ocorre o encaminhamento para a adoção responsável. Fabiana evidencia que a prioridade é castrar todos os animais adultos que passam pelo projeto para facilitar o processo de adoção e reduzir o aumento populacional. 

Parceria com o Hospital Veterinário Universitário

O trabalho do Hospital Veterinário Universitário (HVU) com o Zelo foi instituído desde o início do projeto. Ex-coordenadora do Zelo, a professora Anne do Amaral, associada ao Departamento de Clínica de Pequenos Animais do Centro de Ciência Rurais (CCR), considera que o ponto forte da atuação do Zelo é o processo de monitoramento desses animais soltos no campus. 

A professora do CCR entende que, ao acompanhar os abandonos e promover a educação responsável, o Zelo evita o abandono de novos cães. “O campus não é um local adequado, a gente gostaria que mais nenhum animal estivesse na rua, mas infelizmente isso ainda não é uma realidade”, relata.

No entanto, embora sejam realizados no HVU, os atendimentos não são gratuitos. De acordo com Anne, os custos são abatidos por recursos públicos destinados pela reitoria e que os tratamentos são variados. “Tudo o que se faz aqui tem custos. Tratamos lesões de pele, doenças infectocontagiosas, gatos com doenças virais. Identificada a necessidade de atendimento, o Zelo nos passa os animais que, depois de tratados, são liberados para voltar ao local onde vivem ou para a adoção”, conclui.

Adoção responsável

O processo de adoção coordenado pelo Zelo se inicia com postagens no seu perfil no Instagram com as principais características do animal para que os interessados em adotá-lo entrem em contato com o projeto. Após, acontece uma pré-entrevista para saber se a pessoa tem condições de se tornar uma adotante e um lar apropriado. A etapa final é composta por uma entrevista mais direta com detalhes sobre o que se sabe da vida do animal até aquele momento.

Fabiana salienta que algumas regras são rígidas para garantir o bem-estar do animal. “Muita gente fala que os projetos são chatos, que perguntam demais, mas os animais têm perfis. É obrigatório pensar na segurança e na socialização desse cão ou gato. Para adotar um gato o apartamento tem que ser telado e não pode ter rota de fuga”, exemplifica.

A coordenadora ressalta a importância de não se adotar por impulso. “Animais não são uma coisa para se jogar fora. Eles têm vida, sentimentos. Adoção responsável é saber que o animal pode contar com o dono até o fim. Inclusive, é preciso se preparar para que o animal tenha com quem ficar se acontecer algo com o dono, seja por morte, gravidez, mudança ou outros motivos”, afirma a professora.

foto colorida horizontal de um cão de grande porte deitado sobre um acolchoado
Caso do “Amarelo” foi um dos que mobilizaram o grupo

O crime do abandono

Em junho deste ano, o Zelo denunciou o abandono do cão apelidado de “Amarelo”, ocorrido em maio nas proximidades do Parque Tecnológico e Centro de Educação Física e Desportos (CEFD). Os autores – que, posteriormente, confessaram o ato e foram indiciados criminalmente – foram identificados pelo sistema de câmeras da Vigilância da UFSM e um boletim de ocorrência foi registrado. Previsto pela Lei 9.605/98, o crime, com alteração da lei nº 14.064/2020, tem pena de reclusão de 2 a 5 anos, multa e proibição da guarda. 

Sobre o caso, em uma publicação no Instagram, o projeto frisou que, na UFSM, não há abrigo e nem atendimento gratuito e que existe uma alta demanda de voluntários, lares temporários e doações. De 2018 a 2023, foram encaminhadas castrações para 62 cães e 105 gatos. No mesmo período, 158 cães e 158 gatos atendidos pelo Zelo foram adotados. Até a publicação desta reportagem, o registro de abandonos em 2024 chegava a 19 casos. Cães ainda não adotados formam a maioria desses animais. 

A coordenadora reforça que o abandono se configura pela falta de um tutor responsável, questão que expõe o animal a diversos perigos. “Um animal que está solto, dentro ou fora do campus, mesmo tendo os cuidados básicos, continua sendo abandonado, pode ser atropelado, não sabe se virar sozinho. Então, todo esse caminho exige o esforço da nossa equipe, dos voluntários, para ser possível observar e cuidar dos animais”, explica.

Saiba como apoiar

O projeto capta recursos por meio do brechó Grife do Zelo, que reverte todos os ganhos para a causa animal, e a campanha contínua “Bixo que ajuda bicho”, que incentiva a arrecadação de alguns itens. Pacotes de ração, sobras de medicamentos veterinários, potes de alimentação, coleiras, caixas de transporte, acessórios para pets e pessoas, roupas e calçados são aceitos. O que não é destinado aos animais é revendido.

Contribuições financeiras também são bem-vindas por meio da chave PIX fabiana@ufsm.br, da coordenadora. Durante a semana, nos turnos da manhã, tarde e noite, doações materiais podem ser entregues na portaria do Colégio Politécnico  (bloco F), na sala C9 (bloco C) ou na CESPOL (bloco A). Outras formas de auxiliar o projeto são promover trotes solidários, participar do Zelo como voluntário ou se candidatar a lar temporário.

Texto: Kemyllin Dutra, acadêmica de Jornalismo, voluntária da Agência de Notícias
Fotos: Arquivo
Edição: Ricardo Bonfanti

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