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Ateliê de Tecelagem valoriza a lã através da arte

Cursos de tecelagem são abertos à toda a comunidade e buscam relembrar a ancestralidade



O artesanato é uma prática que pode trazer a ancestralidade. As técnicas compartilhadas entre gerações são um modo de expressão e aprendizagem. A tecelagem com lã é um exemplo dessa prática e pode ser aprendida no projeto Ateliê de Tecelagem do Laboratório de Lã da Universidade Federal de Santa Maria. 

Desde 1980, o Laboratório de Lã busca valorizar o produto ovino, que perdeu espaço após a chegada da fibra sintética no mercado nacional, por volta dos anos 1950, o que fez preço da lã cair e o produto tornar-se desvalorizado. Assim, os produtores deixaram de investir em ovelhas que fossem boas para a produção de lã e passaram a se dedicar na produção de carne ovina.  

A lã, que antes era chamada de “ouro branco”, passou a ser um produto esquecido pela indústria. “As ovelhas que têm aptidão para produzir carne possuem uma lã mais grossa, que não é utilizada para produzir vestuários ou para a indústria”, comenta a professora do departamento de Zootecnia e uma das coordenadoras do projeto, Ana Gabriela Saccol.  O artesanato passou a ser uma alternativa para esse tipo de material. 

O Ateliê de Tecelagem 

A partir do Laboratório de Lã, desenvolveu-se o Ateliê de Tecelagem. O projeto oferece cursos para a comunidade e todas as pessoas que estejam interessadas em aprender sobre a limpeza da lã, o cardar, fiar e tecer.  Além disso, busca integrar e compartilhar saberes entre os participantes e a Universidade. “Nós estamos trazendo a arte para a lã, e isso é uma inovação”, afirma Ana Gabriela.

A iniciativa teve início junto com a zootecnista e técnica do laboratório, Simone de David Antônio, que explica que o projeto foi desenvolvido com o intuito de levar a extensão à sociedade. “É muito gratificante o trabalho de passar para os outros o que a gente já conhece”, comenta Simone de David Antonio. 

Hoje, quem dá continuidade ao projeto é a zootecnista Alzira Gabriela Pause. Ela conta que veio da região norte, local onde não se encontra a criação de ovinos e de lã tão facilmente como aqui, então se interessou pela proposta. “Como é um produto muito característico do Rio Grande do Sul, queremos fazer as novas gerações o conhecerem e valorizarem, para não cair em desuso”, relata.

O projeto foi contemplado no edital do Território Imembuy, iniciativa da Pró-reitoria de Extensão (PRE) e da UFSM, que busca o desenvolvimento da região central do Rio Grande do Sul.

Marlene sempre gostou de arte e agora investe na produção de peças com lã

Alguns benefícios da lã

A lã é um produto retirado da ovelha com a tosquia, que normalmente acontece durante a primavera. Além de deixar os animais mais confortáveis para o verão, a tosquia não deve causar efeitos negativos na ovelha. “Quando trabalhamos com a lã, também nos envolvemos com o bem estar do animal, porque ele não precisa ser abatido para dar o produto”, conta Ana Gabriela. 

Ela também explica que apesar de ser um produto barato, de variados tipos e que oferece diversos benefícios durante seu uso, não é muito utilizado. A lã é multiclimática, ou seja, é um isolante térmico que pode ajudar a manter o calor corporal durante o frio, mas pode deixar o corpo fresco durante o calor. Além disso, é isolante acústico. Também é resistente ao fogo. Quando entra em contato com chamas, a lã não derrete ou propaga o calor. O produto tende a extinguir a chama e é uma escolha segura para roupas e mantas. 

A sustentabilidade faz parte dos benefícios da lã. Um produto natural, renovável e biodegradável, como a lã, traz segurança durante seu uso e fortalece os ideais de ajuda ao meio ambiente.  

“O coração na ponta dos dedos” 

Marlene Lovato tem o costume de criar desde cedo. Quando criança, não tinha brinquedos, então inventava. “Eu pegava folhas de bananeira, que eram grandes, e cortava como se fosse um grande tecido, depois bordava com flores”, relembra. 

Recentemente aposentada, Marlene conheceu o projeto quando era professora de Processamento de Frutas e Hortaliças e de Panificação no Colégio Politécnico. “Eu fazia muitas dinâmicas com meus alunos, trabalhava a arte na panificação, fazia exposições em que as obras eram comestíveis”, conta. 

Quando estava chegando perto de se aposentar, Marlene decidiu iniciar o curso de tecelagem. Agora, a tecelagem é a arte que ajuda a professora a se expressar de forma natural. “É algo que sai da minha alma, passa por minhas mãos e sai na agulha. É o coração na ponta dos dedos”. 

O sentimento de Marlene é parecido com o de outras participantes. “A gente escuta das pessoas que aquele espaço é de cura, de troca, as pessoas se sentem bem. Começamos a ver que aquilo é uma terapia também”, comenta a professora Ana Gabriela que também utiliza o Ateliê como ambiente de tratamento da sua saúde. As participantes são unidas pela lã.

Como participar 

Todas as terças- feiras, à tarde, o Ateliê está aberto e recebe pessoas para participar dos cursos. 

Para criadores de ovinos que não sabem o que fazer com a lã que retiram de seus animais, basta levá-la para o Laboratório de Lã. O Laboratório de Lã está localizado na sala 21 do departamento de Zootecnia, próximo ao Colégio Politécnico. Nos últimos encontros o grupo também tem desenvolvido peças sobre a arquitetura de Santa Maria que serão expostas ao público futuramente.

Grupo tem produzido peças inspiradas na Vila Belga

Sobre o Território Imembuy

O Território é uma iniciativa da Pró-reitoria de Extensão (PRE) e da UFSM, que busca o desenvolvimento da região central do Rio Grande do Sul a partir das iniciativas exitosas da UFSM na certificação da Quarta Colônia e de Caçapava como Geoparques Mundiais da UNESCO. Foram contemplados, ao todo, 54 projetos voltados ao incentivo de novas pesquisas científicas no campo da educação, a expansão econômica e a geração de emprego e renda. Vale destacar que o Território Imembuy abarca 37 municípios e mais de 700 mil habitantes. Mais informações sobre podem ser conferidas aqui.

Texto e fotografias: Jessica P. Mocellin, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques

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