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UFSM concede título de doutor honoris causa ao professor Reiner Hildebrandt-Stramann

Docente da Universidade Técnica de Braunschweig contribui há 40 anos para o ensino de educação física no Brasil



Professor ReinerReiner Hildebrandt-Stramann recebeu título de doutor honoris causa do reitor

O título de honoris causa, o mais importante concedido por uma universidade, foi concedido ao professor alemão Reiner Hildebrandt-Stramann, na manhã desta terça-feira (15), durante o 3º Simpósio Internacional de Educação Física: Currículo e Didática. A solenidade ocorreu no auditório C, anexo ao prédio 18, no campus sede da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com a presença de autoridades. Na mesma ocasião, a instituição também entregou ao Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) a medalha de distinção de reconhecimento.

Lotado na Universidade Técnica de Braunschweig, o professor Reiner contribui desde 1984 com a UFSM, quando atuou como visitante no Centro de Educação Física e Desportos (CEFD). O docente teve papel relevante para a consolidação do mestrado em Ciências do Movimento da UFSM, segundo do país na área; para o financiamento de projetos acadêmico-científicos, e, atualmente, presta consultoria na área de formação de professores de educação física. 

A produção acadêmica de Reiner tem como destaque a escola móvel ou a escola em movimento, pensamento que questiona a organização escolar tradicional. Com mais de 200 artigos publicados, mais de 15 livros editados na Alemanha e no Brasil, o docente atua em grupos de pesquisa de universidades brasileiras, portuguesas, espanholas e alemãs. 

Durante a cerimônia de titulação de doutor honoris causa, a professora Marli Hatje, do Departamento de Métodos e Técnicas Desportivas, relembrou as contribuições e as histórias do começo da atuação do professor Reiner, em 1984. Após a assinatura do diploma, o professor Reiner comentou de forma emocionada a alegria do momento e relembrou o dia que chegou ao Brasil. O reitor, Luciano Schuch, ressaltou as contribuições do professor para o CEFD e a UFSM. 

A Agência de Notícias conversou com o professor Reiner Hildebrandt-Stramann para conhecer melhor sua contribuição para o ensino de educação física.

Mesa das autoridades com a vice-diretora da CEFD, Daniela Lopes dos Santos, Reitor da UFSM, Luciano Schuch e professor homenageado Reiner Hildebrandt-Stramann

Agência de Notícias: Um dos seus legados é a Escola Móvel ou Escola em Movimento. Para quem ainda não conhece, explique o que é a Escola Móvel?

Reiner: Escola móvel é uma instituição escolar onde o movimento, o se movimentar, fica no centro da configuração da escola. Quando a gente começa a pensar sobre as pessoas que vivem e vêm à escola, são as crianças, os alunos, não é possível configurar um processo de aprendizagem com crianças se o movimento não tem uma certa importância. Nós precisamos pensar como podemos configurar didaticamente o ensino, onde o movimento tem um papel decisivo no processo de aprendizagem. Quando as crianças entram na escola, entra só a metade do corpo, só a cabeça, o corpo mesmo tem que ficar calado, sem movimento, sentado em uma cadeira por 40 ou 50 minutos. Depois tem um intervalo de dois ou três minutos e começa a segunda aula. Mas um aluno do primeiro grau [Ensino Fundamental] ou do segundo [Ensino Médio] não aprende assim. Nós precisamos também modificar um pouco a organização didática de uma aula. Eu acho que é uma crueldade deixar as crianças sentadas o dia inteiro, ou metade do dia inteiro, em uma cadeira. Nós desenvolvemos para uma escola móvel os móveis diferentes, onde as crianças podem ficar sentadas no que nós chamamos de meia lua, que são cadeiras como formato de meia lua. Quando mudar a meia lua, as crianças têm que equilibrar o desequilíbrio. Então, ficam sempre em movimento. Nós construímos mesas que as crianças podem desmontar e com essas partes da mesa podem construir na mesma sala, por exemplo, um trilho de equilíbrio. Isso é um exemplo de uma sala móvel, dentro de uma escola móvel. A escola móvel não é só configurada por uma sala móvel, mas também como a maneira didática como a professora ensina, por exemplo, a disciplina da matemática através do movimento.

 

Agência de Notícias: E o que é a educação física aberta à experiência?  

Reiner: Uma aula aberta à experiência é relativamente fácil de explicar, porque cada aluno, cada ser humano, que entra em um ginásio ou no campo, deveria ter a possibilidade de fazer suas próprias experiências: de correr, de pular ou de arremessar. Mas, para permitir  isso, que cada indivíduo possa vivenciar, de correr da maneira dele, precisa de uma didática, uma forma de configurar didaticamente a aula da educação física, que permite aos participantes integrar suas experiências no ensino e no próprio desenvolvimento. Um aspecto característico é a individualização do ensino e outro é que podemos configurar em grupos alguns movimentos para realizar tarefas, a socialização. Esses dois aspectos formam experiências e, agora, a arte de ensino, a arte didática do ensino, é que o professor, a professora saiba configurar o ensino de maneira que permita essas experiências individuais e sociais.

 

Agência de notícias:  No seu entendimento, a formação de professores de educação física precisa passar por transformações. O senhor poderia explicar a sua proposta do currículo em módulos?

Reiner: O currículo tradicional na educação física acontece em disciplinas científicas do esporte isoladamente, por exemplo biomecânica, história da educação física e treinamento. Isso é, para mim, um estudo eclético. Os estudantes não podem reconhecer as conexões. A proposta de configurar o currículo em módulos significa que cada módulo tem seu próprio nome, mas são ligados entre si. Um módulo do treinamento é ligado com o da didática da educação física, e o ponto da ligação é a questão do movimento. Quando tem uma compreensão de movimento, significa quando tem na sua observação o ser humano movimentando-se, tem nessa compreensão de movimento esta ligação. Um exemplo, quando um professor de educação física está em um ginásio, as crianças e os jovens entram no ginásio, alguns tem uma bola e eles começam a jogar com a bola. O que você pode observar como professor é as crianças e jovens chutando uma bola. Mas o que aconteceu nas formações tradicionais é oferecer aos estudantes os objetos, como o chute, o salto. Esse chute, esse salto, essa maneira de ensino está orientada para o esporte de alto rendimento. Mas isso não é o ponto da orientação para um professor na escola. Como eu posso configurar meu ensino para permitir que as crianças comecem, por exemplo, desenvolver um jogo ou ter experiências de saltar, para cima, para baixo, sob obstáculos. Então como eu posso configurar didaticamente uma aula que permita que os alunos façam experiências individuais. Os estudantes devem aprender durante a formação e isso acontece quando cada módulo tem uma compreensão de movimento semelhante, é a conexão. A diferença de ver o ser humano como uma pessoa que sabe fazer, sabe se movimentar e que estuda claro algumas disciplinas, não apenas em disciplinas, mas em conexões com outras em módulos.

 

Agência de Notícias: A teoria dessa nova formação de professores é baseada nas ciências dos esportes e nos chamados campos de movimento. O que seriam os campos de movimento?

Reiner: Está orientado à questão do movimento. Esses campos de movimento são, por exemplo, correr, saltar, arremessar e lançar, que tradicionalmente chamamos de atletismo.  Os estudantes que vem na universidade, vem com essa compreensão de estar estudando o atletismo. Isso também é conteúdo do currículo tradicional. O atletismo é ligado logo o salto em distância, o salto em altura e com a corrida de 100 metros, a corrida de 200 metros, 400 metros. Então, para o estudante são as formas de movimento. Correr, saltar e lançar, por exemplo, são ações e como correr pode ser ligado também a diferentes compreensões de correr que levam para um sentido diferente de correr. Por exemplo, em uma aula com o tema correr, pode ser uma tarefa para os estudantes ter um trecho de 400 metros, cada estudante deve dizer, por exemplo que quer correr esse trecho de 400 metros em dois minutos, outro em um minuto e outro em um minuto e 30, nesse momento você vai ver que eles começam a correr, não precisam correr ao mesmo tempo todos juntos, então eles começam a correr para chegar depois 5 minutos, para chegar o outro talvez dois minutos depois, então eles mesmos devem desenvolver um sentido corporal para cumprir este objetivo que foi determinado pelos estudantes mesmos. Eles devem aprender que movimento tem muitos sentidos. 

 

Agência de Notícias: Como você avalia esse tempo de contribuição com a UFSM?

Reiner: Não só relacionado com a contribuição aqui na Universidade Federal de Santa Maria, mas sim por causa das minhas atividades nas diferentes universidades brasileiras durante os últimos 40 anos. Eu avalio isso sendo metade do meu coração brasileiro e outra metade é alemão. É uma parte da minha profissão desenvolver, assessorar os colegas brasileiros, não só aqui em Santa Maria, mas aqui desenvolvemos um projeto forte com a professora Marli, desenvolver aqui um projeto que poderia ter um grande valor para o futuro da formação dos estudantes. Para mim, vale muito, tem um grande valor e, ao meu lado, é uma experiência única, eu sou um estrangeiro então eu tive minha vida a possibilidade de conhecer muitos colegas  brasileiros, eu consegui cooperar com uma experiência única, por isso eu também desenvolvi muitos intercâmbios entre os estudantes da minha universidade, a Universidade Técnica de Braunschweig e universidades brasileiras, a de Santa Maria, a Federal da Bahia, a Federal de Pernambuco. Então aqui nós conseguimos também um intercâmbio dos estudantes, é uma experiência única, convidar um estudante a fazer um  intercâmbio em qualquer lugar do país, vivenciar essa experiência única como estudante.

 

Texto e entrevista: Milena Gubiani, estagiária da Agência de Notícias

Fotos: Gustavo Damascena, bolsista da Agência de Notícias

Edição: Maurício Dias, jornalista

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