Além do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), nos últimos anos a forma mais conhecida de ingresso nas universidades públicas brasileiras, a UFSM passou a contar com outros 16 diferentes processos para a entrada de novos estudantes. Junto com o retorno do Vestibular, com edição extraordinária em julho de 2023 e em definitivo em janeiro deste ano, a Universidade abriu diferentes processos seletivos para situações específicas.
“Nossa Instituição tem uma tradição de diversificar os mecanismos de ingresso, adaptados às demandas sociais ao longo dos anos, como por exemplo o ingresso aos cursos de Música, com prova de conhecimentos específicos, e o Processo Seletivo Indígena”, comenta o reitor da UFSM, Luciano Schuch.
As possíveis formas de ingressar na UFSM, além do SiSU, são: Vestibular; Processo Seletivo EaD; Processo Seletivo Seriado (PSS); vagas complementares EaD; ingresso, reingresso, transferência e portador de diploma – cursos presenciais e EaD de graduação. Além desses, existem os processos seletivos específicos: indígena; comunidades quilombolas; refugiados e migrantes em situação de vulnerabilidade; pessoas transgênero; pessoas com deficiência.
Ainda há os processos seletivos para atletas de alto rendimento; Música; e o Programa Especial de Graduação (PEG) de Formação de Professores para a Educação Profissional. Por fim, o edital do Vestibular também contempla as vagas suplementares para candidatos medalhistas em competições de conhecimento ou para pessoas com 60 anos ou mais (ver todas as formas de ingresso na imagem e conferir mais informações no site da Prograd).
Para o Vestibular e o Processo Seletivo Seriado 20025 as inscrições já estão abertas. Processos seletivos para atletas de rendimento, PcDs, pessoas trans e indígenas também recebem inscrições.
Diversidade no ingresso, potencialização no acesso
O professor e pró-reitor de Graduação, Jerônimo Siqueira Tybusch, conta que os processos foram criados para preencher as vagas determinadas pelo Sistema do Ministério de Educação, o e-MEC, para cada curso, além de atender as vagas suplementares da UFSM – essas vagas foram autorizadas pelo MEC a partir de alguns cursos que foram extintos da Universidade. Esses procedimentos têm o objetivo de contribuir para as ações afirmativas. “Esses processos todos vão ao encontro do compromisso da Universidade Federal de Santa Maria com a diversidade no seu ingresso. Nesse sentido, aumenta a diversidade e potencializa o acesso e o ingresso à universidade pública gratuita de qualidade”, explica Jerônimo.
De acordo com o pró-reitor, alguns processos seletivos possuem suas particularidades. O Processo Seletivo de Música tem uma prova específica para quem tem interesse no curso. Já o PEG – Programa de Formação de Professores para a Educação Profissional é destinado para pessoas que já possuem uma graduação e estão em busca dessa formação em específico.
O Processo Seletivo Indígena também tem suas características: as provas são permeadas por elementos de linguagem e cultura indígena destinados a essas comunidades. Já no processo para refugiados e migrantes, é necessário ser feita uma análise da documentação do estudante. “Cada um desses processos, para que possa realmente garantir o ingresso na Universidade, precisa atender à realidade dessas comunidades que buscam um acesso à educação superior no Brasil”, comenta Jerônimo.
Procura intensa no início do ano letivo
Aproximadamente 13 mil estudantes realizaram o Vestibular e o Processo Seletivo Seriado 1 em janeiro de 2024. Os processos específicos também tiveram uma procura intensa, assim como o SiSU. Outro aspecto positivo apontado por Jerônimo foi o fato de esses processos terem sido realizados no início do ano letivo, sem prejudicar ou atrasar o ingresso dos novos estudantes.
“Esse foi um êxito muito grande da Pró-Reitoria de Graduação da UFSM como um todo, no momento em que consegue atingir todos esses 17 processos antes do início das aulas, colocando todos os alunos, já matriculados”, relata Jerônimo.
Assim como Jerônimo, o reitor reforça o compromisso da UFSM com a diversidade e a inclusão. “Estamos alinhando nossa Universidade com as necessidades da sociedade, abrindo espaço para atletas olímpicos, estudantes trans e outros perfis que já eram contemplados pelo SiSU, mas que agora estão inseridos de forma específica, promovendo um ambiente acadêmico plural e representativo, com oportunidades para todos e todas”, relata Schuch.
“Projetos assim transformam vidas”
E como os estudantes avaliam os novos processos seletivos oferecidos pela UFSM? A estudante de Ciências Contábeis Sabrina da Costa Miranda conta que sua experiência com o processo seletivo para pessoas de comunidades quilombolas foi única. “Não estava esperando voltar para a faculdade ainda esse ano, mas surgiu a oportunidade na UFSM, seria do curso que pretendia cursar desde que saí do ensino médio”, relata.
Lucas Michels Pereira cursa Ciências Econômicas e ingressou na Universidade por meio do processo seletivo para atletas de rendimento. “Eu fiquei sabendo através do professor Fábio, que tem o projeto de atletismo aqui em São Sepé”, conta o estudante. Ele destaca que para se habilitar ao processo é necessário ter participado de competições, e a pontuação é conforme o ganho de medalhas ou participação em olimpíadas, além da nota do Enem. “O estudo é fundamental para a vida e conseguir trazer isso para o esporte é simplesmente incrível. Estar numa faculdade, sendo o primeiro da família, é algo único, é emocionante. Projetos assim transformam vidas”, comenta Lucas.
Wendy Carolinne Marques Cavalheiro, estudante de Psicologia, ficou sabendo do processo seletivo para pessoas de comunidades quilombolas pela internet e ressaltou a importância de processos seletivos como esse para comunidades como a sua. “Além de me sentir incluída, gostei muito do modelo de redação que valoriza os conhecimento e as nossas vivências como aquilombados”, relata a caloura.
A acadêmica de Direito Thiarine Miranda da Silva ficou sabendo do processo seletivo para pessoas de comunidades quilombolas através da prima, já estudante da Universidade. Ela enfatiza a importância desses processos seletivos para dar oportunidades para quem não tem. “O processo seletivo é importante porque ajuda pessoas que não têm condições de fazer uma faculdade”, evidencia.
Katryna Soraya Dias Rodrigues, outra estudante de Direito, soube das novas formas de ingresso através de noticiário na televisão. Participante do processo seletivo para pessoas transgênero, a acadêmica conta que não teve muita concorrência. “Eu sonhava com a graduação em Direito, e foi gratificante ter sido aprovada”, relata ela, que destaca também a importância de outras ações, para além do processo seletivo, para que os grupos específicos possam não só ingressar, mas também se manter na Universidade.
“Há muito ainda a superar”
Em 2023, a possibilidade da volta do Vestibular para UFSM e os novos processos seletivos que viriam juntos foi alvo de críticas e questionamentos. Durante o processo para votação desse retorno pelos conselhos superiores da Instituição, os questionamentos giraram em torno da necessidade dessa volta e de como esse processo iria de fato atingir todos os estudantes. O Diretório Central dos Estudantes (DCE), em conjunto com coletivos e outras entidades, organizou atos na Universidade para debater o tema.
“Há muito ainda a superar, há muito ainda a se avançar, modificar e aprimorar nesses processos. Mas pela primeira vez todos esses processos foram feitos juntos e conseguimos lograr êxito, e isso depende também da quantidade de colaboradores envolvidos”, comenta Jerônimo.
Já o reitor destaca que esses processos ainda estão no início e, por isso, precisam de tempo para serem avaliados. “Nossos principais sistemas de seleção, como o SiSU, o Vestibular e o Processo Seletivo Seriado, estão sendo avaliados para comparar os diferentes métodos de ingresso. Esse processo exigirá tempo e uma análise criteriosa ao longo de um ciclo acadêmico completo”, observa Schuch.
Texto: Gabriel Escobar da Silva, acadêmico de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Artes gráficas: Pedro Moro, acadêmico de Jornalismo, voluntário da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista