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UFSM forma mulher trans em Arquitetura e Urbanismo e no técnico em Paisagismo

Nati de Castro Fernandes é a primeira pessoa transgênero a concluir os dois cursos na Instituição



foto colorida horizontal de uma mulher com roupa preta, capacete branco, cabelo castanho pendendo para o lado esquerdo, braços cruzados, sorrindo, em um ambiente que remete a arquitetura
Prestes a se formar, Nati pretende seguir com os estudos

Natural do Piauí, a jovem de 27 anos Nati de Castro Fernandes celebra a conclusão de seus dois cursos na UFSM: a graduação em Arquitetura e Urbanismo e o técnico em Paisagismo. A formatura em Arquitetura ocorre nesta sexta (23), e em Paisagismo, em 6 de setembro. Nati é a primeira mulher trans a se formar nos dois cursos na UFSM. Porém, não é a primeira trans a se formar na Instituição.

“É um incentivo para muitas pessoas, primeiramente perderem o medo de serem elas mesmas, por mais que isso doa. É um privilégio muito grande. A gente está colhendo os frutos de muito barro que muita gente no passado amassou, no sentido de lutar e botar a cara a tapa. Tiveram outras pessoas abrindo portas para a gente, agora a gente também está abrindo portas para novas pessoas”, comenta.

A escolha dos cursos veio pela afinidade que a jovem tem com desenho, artes e trabalhos manuais. Nati conta que a paixão por plantas tem origem na família, afinal seus pais são pequenos produtores rurais. Além disso, ela relata que os dois anos de técnico em Paisagismo complementam sua formação em arquitetura. 

Com o sonho de se tornar docente, a formanda planeja continuar com os estudos. “Eu vou continuar estudando, porque eu queria entrar para a docência no futuro. Mês que vem vou fazer o PEG – Programa Especial de Graduação, que faz disciplinas na educação. E vou fazer dois cursos técnicos EaD no Politécnico. Por enquanto não quis pegar o mestrado agora, porque não abriu o mestrado que eu queria para o segundo semestre e porque eu já estava pensando em não entrar no mestrado direto depois da graduação”, explica.

Transgeneridade nas Universidades

Apenas em 2024 o curso de Arquitetura e Urbanismo e o técnico em Paisagismo do Colégio Politécnico da UFSM formam sua primeira aluna trans. Ainda existe uma ausência ao se falar do acesso de pessoas transgênero em espaços de educação. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em uma pesquisa de 2022, apresentou que cerca de 70% das pessoas trans e travestis não finalizaram o ensino médio e somente 0,02% teve acesso ao ensino superior. 

Atualmente algumas universidades têm adotado e implementado ações para facilitar o ingresso de pessoas trans nas graduações, como as cotas ou processos seletivos específicos. No entanto, Nati destaca que, para além de pensar no ingresso, é necessário pensar na permanência. 

“Tem muitas pessoas, no geral, pessoas pobres, pessoas trans, que entram na universidade e não sabem como vão se manter. Como é a assistência dessas pessoas? Na teoria existe a Política de Igualdade de Gênero da UFSM e entendo que tem existido o esforço de diferentes pessoas para fazer essa política ser implementada de fato, como a Casa Verônica, mas na prática ainda rola muitas coisas por trás. Porque também não adianta só a Universidade fazer a parte institucional dela, se a comunidade continua matando nossa comunidade [pessoas trans]”, relata.

Além disso, a jovem comenta sobre a importância de o que está sendo produzido na academia voltar para comunidade. “Produzir mais estudos, trabalhos e projetos em relação à comunidade trans, para que isso reflita lá fora, na comunidade, na população. E formar profissionais que sejam capazes de refletir sobre isso de uma forma que não seja tão grotesca e absurda como a gente ouve. Mas é meio que esse trabalho assim, de formiguinha”, exemplifica. 

Pessoas trans no Brasil, antes de lutarem pelo acesso a universidades e educação, persistem na luta para que possam simplesmente viver. De acordo com a Antra, o país é pela 15ª o que mais assassina pessoas trans no mundo. Por isso, Nati, apesar de comemorar sua formatura e o lugar que ocupa em uma universidade, não deixa passar algumas questões.

“Quantas pessoas trans se formam em cada curso da UFSM? Quantas pessoas trans estão dentro da Universidade e passam por todo esse momento? E tem muitas pessoas trans que estão aqui dentro e que ainda nem começaram a sua transição por conta do medo, da opressão, da negligência. Acho que também quando a gente assume a nossa identidade, enquanto pessoa trans, a gente vai correr vários riscos”, comenta.

Trajetória na UFSM

Em 2018, Nati chegou ao Campus de Cachoeira do Sul para cursar Arquitetura. Após cinco semestres, pediu sua transferência para Santa Maria para dar sequência a sua graduação. Moradora da Casa do Estudante, a jovem passou por todo período do início da sua transição durante o curso.

“Eu fiz minha transição durante a graduação. Comecei a transição com todo aquele processo de aceitar a transição, aceitar uma nova aparência, novos comportamentos, e tudo isso foi durante essa vida acadêmica. Eu acho que a UFSM é muito uma bolha, ao mesmo tempo que eu me sinto segura aqui dentro, eu sei que lá fora é outro rolê. Eu acho que estar aqui dentro é um momento bem complicado, bem difícil. Fazer uma faculdade e transicionar ao mesmo tempo é bem difícil”, conta.

Apesar de dizer que é privilegiada por estar dentro da Universidade, a jovem conta que a trajetória não é fácil. Os desafios fizeram e fazem parte da sua vida acadêmica. “As pessoas desrespeitarem a tua identidade de gênero, a tua história. Às vezes é muito incompreensível ver que pessoas que estudaram durante toda a vida e passaram por vários momentos de reflexão e discussão, mas mesmo assim ainda insistem em desrespeitar o gênero, às vezes fazem comentários indelicados ou perguntas indelicadas”, explica. 

Acolhimento

A formanda ressalta a importância de uma rede de apoio e o cuidado com a saúde mental. “Eu reconheço que eu não cheguei até aqui sozinha, tive ajuda de muita gente, muita gente que de certa forma me acolheu, me deu suporte, me deu segurança. É importante que as pessoas trans primeiramente consigam sair do armário com segurança, com afeto, com cuidado, com amor. É muito importante que nós, principalmente da comunidade LGBT e pessoas trans, que a gente cuide da nossa saúde mental e física. Então, é importante ter essas alternativas para não se sentir sozinha, deprimida, para conseguir dar um passinho de cada vez”, comenta.

Texto: Gabriel Escobar, acadêmico de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Foto: Arquivo pessoal
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista

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