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Novo fóssil descoberto pela UFSM já está em exposição no Museu Gama D’Eça

O "Cornualbus primus" foi encontrado em rochas do período Triássico



foto colorida horizontal de um fóssil (osso) sobre uma superfície branca
Fóssil original do “Cornualbus primus” ficará em exposição até dezembro

O Cornualbus primus, um fóssil inédito descoberto pela UFSM, foi apresentado a Santa Maria e ao mundo na noite desta quarta-feira (31) no Museu Gama D’Eça, onde estará em exposição desta quinta (1º) até dezembro. O espécime foi um pararéptil (grupo de animais que possui a mesma linhagem evolutiva dos répteis) de aproximadamente 30cm. Herbívoro, o animal provavelmente possuía hábitos noturnos e era um escavador que vivia em tocas. 

O fóssil pertence ao grupo dos procolofonóides, que eram semelhantes a lagartos e foram os últimos sobreviventes dos pararépteis no período Triássico, que ocorreu entre 250 e 200 milhões de anos atrás. 

foto colorida horizontal de pessoas aplaudindo e olhando para pedaços do fossil em uma pequena redoma de vidro
Apresentação do novo fóssil ocorreu no Museu Gama d’Eça

Descoberto na formação geológica Santa Maria, onde os arenitos possuem idade de 240 e 230 milhões de anos, o primus ajuda a preencher uma lacuna dos pararépteis do Triássico, pois ele viveu na parte que pode ser considerada como “o meio” desse período, enquanto os outros fósseis encontrados na região, como o Procolophon trigoniceps e o Soturnia caliodon, viveram no início e no final do Triássico, respectivamente.

A descoberta do fóssil ocorreu em 2017, no entorno do autódromo de Santa Maria, pelo professor Leopoldo Witeck Neto, e foi o tema da tese de doutorado em Biodiversidade Animal de Eduardo Silva Neves, que estudou a nova espécie. Parte da tese será publicada em um artigo na revista britânica Journal of Systematic Paleontology e tem como co-autores Átila Augusto Stock da Rosa (orientador, UFSM), Sean Modesto (Universidade Cape Breton, Canadá) e Sérgio Dias da Silva (UFSM).

“Esse artigo é fruto de muito trabalho e tempo dedicado, além dos desafios, como achar que as coisas não vão dar certo ou de que ele não é relevante o suficiente. Mas chegar hoje e ver o auditório do museu lotado dá a certeza de que valeu a pena”, destacou Neves. 

Após a exposição, o fóssil será substituído por uma réplica e o material original será objeto de novas pesquisas no Laboratório de Estratigrafia e Paleobiologia do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE). O material ainda passará pelo processo de datação para estimar a idade do animal de forma mais precisa com base em sua ossada.

foto colorida horizontal de um homem em frente a um telão com o título da apresentação sobre o fóssil descoberto
Pesquisador Eduardo Neves durante a apresentação da nova espécie de pararéptil

Processo de descoberta de uma nova espécie

Eduardo conta que, quando recebeu as primeiras imagens do fóssil e a descrição da formação geológica onde ele foi descoberto, ficou empolgado imediatamente por saber que se tratava de uma nova espécie. Para comprovar isso, o pesquisador conta que começou a analisar fósseis semelhantes ao redor do mundo.

“O grupo dos procolofonóides está espalhado pelo mundo inteiro – África, Ásia, América, Europa, Oceania e até na Antártica. Com a comparação das características do fóssil e da formação geológica onde foi achado, que nos permite estimar a idade que o animal tem, comprovamos que era uma nova espécie”, detalha o pesquisador.

O material também passou por uma tomografia computadorizada, onde foi revelado que, além do crânio, havia dentro da rocha onde ele foi encontrado membros posteriores. Ainda foi possível analisar a sua dentição. “Seria muito perigoso fazer essa análise de forma mecânica, pois poderíamos danificar o fóssil. Sem a tomografia ou corremos esse risco, ou não realizamos a análise para preservar o material”, explica.

Durante a apresentação para a comunidade foi explicado que há poucos exemplares de procolofonóides no mundo com crânio tão completo.

O trabalho para manter o conhecimento e descobertas ao alcance da comunidade

foto colorida horizontal de pessoas em pé aplaudindo
Público lotou o auditório do Museu Gama d’Eça

“A Universidade produz muitas pesquisas que ficam restritas às suas áreas de conhecimento. O museu é um espaço de extensão e divulgação científica, onde o público em geral acessa o acervo e as pesquisas de forma acessível”, destaca o museólogo e diretor do Gama D’Eça, Bernardo Duque de Paula. Ele ainda destaca que o museu possui em seu acervo coleções de paleontologia, que contam com outros fósseis descobertos em Santa Maria, além das áreas de arqueologia, história e entomologia.

O museu está aberto para visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, sem fechar ao meio-dia. Em caso de visitas realizadas em grandes grupos de pessoas, como escolas, é necessário entrar em contato com o museu para a realização de um passeio guiado. O contato pode ser feito pelos números (55) 3220-9306 e (55) 3220-9308 ou pelo email museueducativogamadeca@ufsm.br.

A pró-reitora adjunta de Extensão, Jaciele Sell, afirmou que a descoberta inédita mostra a relevância do trabalho paleontológico feito pelos pesquisadores da UFSM. Ela também ressaltou a importância dos espaços museais como um espaço de acolhimento e conhecimento dentro da Universidade para a população de Santa Maria e da Região Central. 

Além do Gama D’Eça, a UFSM conta com espaço de pesquisa em paleontologia em São João do Polêsine, com o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa), espaço de pesquisa e extensão que exibe fósseis descobertos e pesquisados na região da Quarta Colônia. “O Cappa recebe visitas de escolas e da população em geral. Além da divulgação científica, o centro apoiou a consolidação da Quarta Colônia como um geoparque mundial da Unesco”, destacou Jaciele.

Texto: Bernardo Silva, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Ana Alícia Flores, estudante de Desenho Industrial
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista

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