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O profissional de educação física na manutenção da saúde mental

Exercícios físicos, embora não solucionem, contribuem de forma terapêutica para o bem-estar



Há anos o pesquisador Felipe Schuch estuda as relações do esporte com a saúde mental

De acordo com um levantamento feito pela plataforma online de atendimento psicológico Vittude em 2019, no Brasil, 37% da população sofre com estresse extremamente severo, enquanto 59% se encontra em estado máximo de depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a taxa de ocorrência da doença aumentou em 25% após a pandemia de Covid-19. No combate a estes “obstáculos mentais”, as atividades físicas se mostram como grandes amigas, aliadas ao essencial tratamento psicoterapêutico.

Do indivíduo que vai à academia recreativamente, ao atleta de alto rendimento, é fato que a prática de exercícios promove uma série de benefícios para o ser humano. Estes ganhos podem ser tanto internos, com a liberação de neurotransmissores como serotonina – substância que tem como função regular o humor, a ansiedade, entre outros -, quanto externos, contribuindo para uma maior autoestima.

Pesquisador na temática da atividade física e saúde mental,  o professor do Departamento de Métodos e Técnicas Desportivas, do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), Felipe Schuch, explica: “como tratamento, qualquer promoção de exercícios é importante e útil. O profissional tem papel essencial no sentido de tentar facilitar o processo e fazer com que as pessoas tenham boas experiências fazendo atividades físicas, fazendo com que se engajem a longo prazo”.

O docente reitera, entretanto, a necessidade do trabalho de peritos de outras áreas, visto que transtornos mentais dependem de múltiplos fatores. “Não significa que a pessoa que está fazendo atividade física está 100% livre de qualquer sintoma de depressão ou ansiedade por estar fazendo atividade física. Mas é um dos agentes de proteção que pode ajudar a diminuir o risco”, assegurou Schuch.

O apoio do psicólogo no esporte como competição

O psicólogo Ricardo Beffart explica que corpo e mente estão sempre conectados, por isso a importância do esporte para manutenção da saúde mental

Uma temática relacionada a atividades físicas e saúde mental diz respeito ao trabalho do psicólogo esportivo. Ligado ao futebol desde criança, Ricardo Beffart é formado em Psicologia pela UFSM e, de forma voluntária, após a graduação, empilhou vivências entre as equipes competitivas da instituição. Ele tem no currículo passagens pelo time de futsal da Universidade, quando ainda disputava a 3ª divisão estadual, como também nos elencos femininos de handebol e de vôlei.

Beffart explica que, nos dias de hoje, não se separa mais o corpo da mente para tratar de problemas psicológicos: estas duas esferas atuam em harmonia. Para exemplificar, o profissional utiliza a “Pirâmide de Maslow” para elucidar seu pensamento. “Para subir às necessidades ‘principais’ que, nesse caso, seriam o desempenho do atleta, tu tem que estar com as necessidades mais básicas supridas. Tu não vai conseguir desempenhar se não estiver bem na parte de baixo da pirâmide. Ou seja: alimentação, sono, descanso, sensação de segurança, que são coisas básicas, mas também envolvem o aspecto psicológico”, destacou.

Ainda, para o trabalho funcionar, é imprescindível a atuação contínua do profissional com o grupo assistido. Em uma equipe, por exemplo, é fundamental que o psicólogo conheça a cultura envolvida no elenco e crie confiança para que, em situações de estresse, consiga ajudar da melhor forma. “Nós não somos como bombeiros que chegamos em um lugar para apagar um incêndio, é importante conhecer os pontos fortes e fracos para, então, desenvolver um trabalho de maneira constante”.

Beffart enfatiza a atuação no esporte praticado por universitários. Para ele, é crucial levar em conta que, neste contexto, os atletas de um time além de não viverem de suas modalidades, tem como prioridade os estudos. “Os estudantes, muitas vezes, estão longes dos pais. Esse aspecto da distância, da solidão, muitas vezes atrapalha. Ocorre uma busca por pertencimento, por conhecer um novo espaço da vida. Hoje em dia, a adolescência está se tornando cada vez mais tardia, essa etapa dura mais tempo. A questão da maturidade também é muito importante. Muitas vezes, ou a pessoa não vai ter tanto tempo para a equipe, ou vai ir com sono para os treinos, ou vai estar pensando na prova que vai ter na semana, no trabalho”.

O profissional de educação física

Com base em um estudo realizado em 2021 pela revista “Periódicos de Psicologia” (PePsic), mais de 95% dos estudantes avaliados tendem a desenvolver sintomas de depressão durante a faculdade, entre os graus suave, moderado e grave. Schuch conta que há uma barreira na comunicação entre acadêmico e professor para pedir ajuda.

“Casos de ansiedade, depressão, são comuns na Universidade. Muitas vezes os alunos não se sentem confortáveis em relatar ao professor. Mas eu estou ciente de inúmeros casos que vêm aparecendo, em diferentes níveis”, comentou. Contudo, apesar de ainda existir muitos estigmas em cima dessa temática, o docente crê que já se fala muito mais abertamente sobre saúde mental. Para ele, a pandemia acelerou esse processo.

“Naquele período, quase todo mundo, em algum momento, experimentou como é estar com algum problema, na minha visão. Não necessariamente um diagnóstico, mas todo mundo conseguiu perceber como a nossa saúde mental pode ser influenciada por muitas coisas. É muito importante que a gente fale sobre isso abertamente”, destacou.

O profissional de educação física, inclusive, facilita a abolição desta percepção negativa: “muitas vezes, as pessoas dizem ‘não vou em um psicólogo, não vou em um psiquiatra, porque isso é médico de louco’. Se escuta muito essa frase. Mas ninguém deixa de ir no profissional de educação física por ele ter essa imagem. Na verdade, as pessoas vão para buscar a saúde. Então, o profissional pode ser a ponte para acelerar esse processo”, alegou Schuch.

O tema no Brasil

De acordo com o professor, muitas pesquisas de qualidade sobre a relação entre a atividade física e a manutenção da saúde mental têm sido lançadas no país, principalmente nos últimos 20 anos. “É uma área efervescente. É uma área que está em alta, digamos assim, desde a pandemia. Mas sempre se teve interesse sobre esse tópico. Hoje ele ainda é muito investigado e aqui há um bom reconhecimento na área”, afirmou. 

Hoje, o Brasil está entre as cinco nações que mais produzem conteúdo científico sobre a temática, de acordo com Schuch. A UFSM, que tem o CEFD como unidade focada neste campo, é responsável por ofertar de maneira gratuita a prática de diferentes tipos de atividades físicas aos estudantes da Universidade, por meio do programa Esporte Universitário.

 

Texto: Pedro Pereira, estudante de jornalismo e estagiário da Agência de Notícias
Foto: Arquivo pessoal de Felipe Schuch e Ricardo Beffart
Edição: Mariana Henriques, jornalista

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