No último mês, o governo do estado do Rio Grande do Sul identificou novos surtos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1), comumente conhecida como gripe aviária. Esta doença viral altamente contagiosa tem impacto principalmente em aves, embora também possa afetar mamíferos, como cães, gatos, outros animais e seres humanos.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, foram conduzidas mais de 2.691 investigações em todo o país, resultando na confirmação de 154 focos, todos identificados em animais silvestres ou mamíferos. No Rio Grande do Sul, desde a metade de 2023, foram registrados seis surtos da doença.
Pesquisa e tecnologia no combate à gripe aviária
O Laboratório de Computação Ubíqua, Móvel e Aplicada (Lumac), coordenado pelo professor Alencar Machado, do Colégio Politécnico da UFSM, desenvolveu um software para a investigação de focos de doenças como a gripe aviária. Esse software é um módulo de Geoanálise, que funciona dentro da Plataforma de Defesa Sanitária Animal do Estado do Rio Grande do Sul. Dentro desse módulo, existem funcionalidades para apoio, gestão e tomada de decisão, para evitar o espalhamento da doença.
O desenvolvimento do software foi possibilitado pela parceria entre UFSM e Secretária Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (por meio do Departamento de Defesa Sanitária Animal), com financiamento do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal do Rio Grande do Sul (Fundesa).
Este recurso foi utilizado na vigilância direcionada na região de Rio Pardo, em fevereiro deste ano. O professor Alencar Machado expressou confiança na eficácia deste software para apoiar atividades de pesquisa relacionadas à prevenção e ao controle de doenças, incluindo a gripe aviária.
“Nesse caso foi a gripe aviária, mas o software serve para qualquer tipo de doença, porque o protocolo de manipulação ou controle de doenças é o mesmo. A partir do momento em que há um caso positivo, a equipe de gestão do Departamento de Defesa Sanitária Animal entra no software e geolocaliza a propriedade em que foi detectada a doença. A partir disso, no software, eles fazem três raios: de 3 km, 7 km e 15 km. Dentro desses raios, todas as propriedades que têm animais serão vistoriadas, para identificar se a doença está se espalhando”, explica o professor Alencar.
O software também funciona como aplicativo para celular. “Existe um checklist que eles [os agentes] preenchem e coletam evidências, como fotos e vídeos […] É através da tracking das equipes se locomovendo e a coleta desses dados pelo aplicativo que é feito o monitoramento da quantidade de visitas feitas diárias, e se a doença está se espalhando”, conta Alencar. Deste modo, as equipes remotas analisam os dados e coordenam as equipes que estão a campo. Com os dados que recebeu, o software também gera relatórios, que são submetidos inclusive à análise de órgãos internacionais.
O professor destacou que o Colégio oferece cursos com foco na área rural, especialmente no manejo da produção agrícola e animal, demonstrando a relevância do laboratório apontar soluções na área. Além disso, ressaltou a colaboração com a Universidade da Carolina do Norte (dos EUA) e o apoio de uma equipe especializada em estatística epidemiológica no processo de desenvolvimento do software. “A gente tem um trabalho colaborativo com a Universidade da Carolina do Norte e um apoio muito grande de uma área estatística de epidemiologistas de lá que entende a dinâmica do espalhamento da doença. Então, esse trabalho em conjunto com eles favorece o nosso entendimento e aumenta a nossa expertise”, ressalta Alencar.
Apesar de o vírus ainda manter-se presente apenas em áreas silvestres do estado, é preciso manter a atenção para o surgimento de novos focos. Contar com a tecnologia aliada à pesquisa para possíveis novas detecções é um dos objetivos deste trabalho desenvolvido por professores e estudantes do laboratório, propondo uma abordagem diferenciada para compreender a propagação do vírus e controlar sua disseminação.
Lumac: ambiente prático para o ensino-aprendizagem
Embora seja um laboratório vinculado à ciência da computação, o Lumac promove um ambiente multidisciplinar para o desenvolvimento de produtos relacionados à saúde e ao controle de doenças, demonstrando um compromisso com abordagens integrativas na pesquisa científica. Em atividade desde 2017, o laboratório desenvolve projetos de pesquisa, inovação, ensino e extensão com a participação de docentes, técnicos e alunos de graduação e pós-graduação.
Envolvendo estudantes de cursos do Colégio Politécnico e da UFSM, o laboratório já atuou no desenvolvimento de mais de três projetos e tem uma profícua relação com órgãos governamentais, auxiliando no aspecto sanitário de controle de doenças no meio agrícola, além de atuar em áreas de inteligência artificial e gerenciamento de processos e negócios.
Com informações da Assessoria de Comunicação do Colégio Politécnico