Graduada, mestre e doutora em Física, Marina Bianchin teve, praticamente, toda sua formação em escola pública. Formou-se em fevereiro de 2016; no mestrado em 2018; e no doutorado em 2022. Em outubro de 2022, iniciou pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em Irvine, nos Estados Unidos. Atualmente trabalha com dados do telescópio espacial James Webb de galáxias luminosas no infravermelho. Sua aproximação com a área da pesquisa se deu em 2012, no primeiro ano da graduação quando foi contemplada com uma uma bolsa de Iniciação Científica.
Marina nasceu e cresceu em Marau, no norte do Rio Grande do Sul. Seus pais não têm formação acadêmica superior, “meu pai é agricultor e minha mãe atualmente é aposentada, mas foi auxiliar de enfermagem por quase 30 anos. Na família apenas duas tias fizeram licenciatura, e são professoras na rede estadual, e dois tios têm formação em contabilidade, mas ninguém atua no meio acadêmico”, diz. Ela conta que mesmo estando em um lugar para se dedicar aos estudos, morar longe – e sozinha – estava muito fora do esperado, ainda assim, recebeu apoio, principalmente, de sua mãe.
Marina tem interesses variados, “adoro gatos e atualmente moro com a minha gata (Rita) de 9 anos, uma senhora rabugenta que foi confundida com um coelho pela fiscalização do aeroporto. Gosto de fazer trabalhos manuais como tricô e crochê, heranças da minha família, e já fiz roupas para mim e um par de meias para uma amiga. Descobri há pouco tempo que adoro viajar sem tanto planejamento… sair andando pelos lugares e ser surpreendida com o que se encontra”, conta. Marina escuta bastante música, “ultimamente mais MPB porque é uma forma de me reconectar com o Brasil morando fora.” Ainda, adora cozinhar e diz que pão-de-queijo é aprovado pelos estadunidenses.
Com sua tese intitulada “Molecular and ionized gas kinematics in seyfert and qso hosts”, em português “Cinemática do gás molecular e ionizado em galáxias Seyfert e QSOs”, defendida em 2022 (sob a orientação do professor Rogemar Riffel), Marina recebeu a indicação à primeira edição do Prêmio Tese UFSM 2023, representando o Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE).
A Agência de Notícias, vinculada à Coordenadoria de Comunicação Social, conversou com Marina para saber um pouco mais sobre a pesquisa:
Você poderia explicar a sua tese e como surgiu o tema de pesquisa?
Uma das principais perguntas da astrofísica moderna é: como as galáxias evoluem? Galáxias têm entre dezenas de milhões a trilhões estrelas. A maioria delas possui um buraco negro supermassivo central (BNS). Quando o BNS está capturando matéria (gás e estrelas) ocorre a liberação de radiação e ventos de partículas, os quais influenciam a evolução da galáxia. Utilizando telescópios modernos, determinamos as propriedades físicas destes ventos em múltiplas fases gasosas, o que é fundamental para responder à pergunta acima. Foram realizadas diversas atividades de extensão abordando assuntos da tese, destacando-se o projeto aprovado para telescópio James Webb, liderado pela UFSM.
A ideia deste tema surgiu através de várias conversas com o meu orientador. Eu já tinha experiência com observações e análise de dados de galáxias ativas no infravermelho e gostaria de voltar para essa área depois de ter estudado aglomerados estelares durante o mestrado. Existem muitas questões em aberto sobre evolução de galáxias e do universo em geral, e estudar como o gás se move e se ele pode ser ejetado da galáxia podendo influenciar a formação de novas estrelas soava interessante para mim e meu orientador. Então, conjuntamente, optamos por este assunto.
Como foi o processo de produção e qual a maior dificuldade enfrentada?
Longo e tortuoso — como acredito que a produção de todas as teses seja — e permeado por uma pandemia. Felizmente tive apoio de amigos, do meu orientador, e da companhia da minha gata.
Considero que a maior dificuldade foi a reestruturação de algumas partes do projeto. Devido a problemas técnicos e à pandemia, várias observações com o telescópio Gemini foram canceladas fazendo com que eu tivesse que mudar um pouco o projeto e optar por alternativas para obter mais dados. Felizmente isso acabou abrindo portas para colaborações internacionais que mantenho atualmente.
Um fato interessante é que apesar do meu trabalho ser entendido como experimental, nunca realmente realizei uma observação utilizada na minha tese. Isso é cada vez mais comum na astronomia atual, onde astrônomos residentes realizam observações para grandes levantamentos ou projetos individuais. A ideia de que astrônomos passam a noite toda acordados realizando observações nem sempre é verdadeira.
Ao que você credita a escolha da sua tese para representar o centro?
Acredito que alguns fatores possam ter contribuído para a escolha da minha tese. O tema do trabalho, a evolução das galáxias, é de grande relevância na astrofísica atual. No entanto, acredito que as teses de colegas dos outros PPGs do CCNE, e da própria física, também abordam temas atuais e relevantes para as suas respectivas áreas. O fato de eu ter escrito a tese em inglês e ter incluído os artigos como capítulos da tese e trazendo uma contextualização de toda a amostra ao final pode ter feito a diferença.
O que concorrer ao prêmio representa para você e qual a importância que você vê em premiações como essa?
Concorrer ao prêmio representa o reconhecimento do meu trabalho pelo Programa de Pós-Graduação em Física e o Centro Ciências Naturais e Exatas. É também uma honra muito grande ser indicada para representar o Centro no qual se deu toda a minha formação acadêmica de nível superior.
Essas premiações são importantes pois reconhecem o trabalho desenvolvido por estudantes da universidade que, principalmente nos últimos anos, não eram a categoria mais valorizada. A divulgação que essas premiações recebem também contribui para mostrar à sociedade o que é feito dentro da universidade e isso pode aproximar mais pessoas dela.
Texto: Gabriela Leandro, estudante de Jornalismo e voluntária da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista
Arte gráfica: Daniel Michelon De Carli