Nesta terça-feira (03), ocorreu o 3ª Dia do Campo, promovido pelo projeto Advanced Farm 360. Na Área Nova do Colégio Politécnico, reuniram-se estudantes, membros do projeto, docentes, empresas incubadas e empresas privadas, a fim de dialogar sobre tecnologias que podem ser aplicadas para a agricultura com foco nas culturas de inverno.
Na oportunidade, os participantes percorreram cinco estações de trabalho. A primeira é “produção de pré-secado”. Esta etapa se refere a produção de massa seca, quando se corta a plantação para produzir feno, que pode ser destinado a animais. Desse modo, serve como um suplemento de inverno, visto que nessa estação a produção de forragem é muito baixa, devido à geada.
A outra estação é sobre “suavização do solo para implantação de sulco/camalhão”. Neste espaço foi explicado sobre o processo de suavização do solo, através de corte e aterro de partes da lavoura, para deixar a superfície nivelada. O sulco/camalhão é um sistema essencialmente de drenagem de áreas de várzea (terras baixas), mas que também permite a irrigação, para a produção de culturas de sequeiro, como soja e milho. Assim, a cultura fica sobre o camalhão (trecho mais elevado) e a água percorre o sulco (trecho menos elevado), onde é conduzida e drenada.
A terceira estação foi sobre “plantas de cobertura de inverno”. Diz respeito ao cultivo de espécies vegetais que vão proporcionar melhorias das condições químicas, físicas e biológicas do solo, como ervilhaca, nabo forrageiro, centeio, aveia branca, aveia preta e ervilha forrageira. Essas espécies são implantadas de maneira isolada ou misturada, nos períodos em que não são cultivadas espécies de grãos (como soja, milho e trigo), para o solo nunca ficar descoberto e, desta forma, ficar protegido e com plantas crescendo durante todos os meses do ano.
As demais estações são cultivares de trigo para produção de grãos e pastejo e adubação de culturas de inverno, onde foram detalhadas as informações sobre cada um desses temas. Cada uma das cinco estações aborda uma tecnologia, uma metodologia nova, ou um modo de trabalho, desenvolvidos por professores e alunos da UFSM, juntamente com empresas parceiras.
Ivan Carlos Maldaner, professor do Colégio Politécnico, destacou que o trabalho exibido no evento é feito por muitas mãos, como a direção do próprio Politécnico, bem como seus servidores, professores e acadêmicos. Esses últimos, inclusive, chegam a 50, ao totalizar bolsistas, estagiários e voluntários, o que demonstra o impacto do projeto. Além disso, Ivan ressalta a parceria público-privada que permite ao Advanced Farm ter acesso a mais tecnologias. Neste 3ª Dia de Campo, as empresas apoiadoras foram: Itaimbé Máquinas, Massey Ferguson, Mara Tecnologia, Yara Fertilizantes, Raix, Biotrigo Genética, Biotrigo Nutrição Animal, OR sementes, Embrapa Trigo e Cespol. Por fim, ele também agradeceu aos membros do Parque de Inovação, Ciência e Tecnologia (InovaTec), aos representantes das startups Farm 360 e G2W, vinculadas à Pulsar Incubadora Tecnológica da UFSM, à Pró-Reitoria de Inovação (Proinova), ao curso de Mestrado Profissional em Agricultura de Precisão da UFSM, e aos produtores rurais. O docente acredita que o evento só tem esta grandiosidade por conta das parcerias realizadas.
Por sua vez, a professora Magda Monego, diretora do Departamento de Pesquisa e Extensão (Depe) do Colégio Politécnico, exaltou a força do Dia do Campo, que reuniu cerca de 250 pessoas em sua última edição, realizada em abril. Ela também citou o reconhecimento que o Advanced Farm vem recebendo, como uma reportagem do Globo Rural e o prêmio Futuro da Terra. Magda igualmente lembrou que a agricultura está enraizada na história do Colégio, visto que este costumava se chamar Colégio Agrícola de Santa Maria. Com isso, a docente aproveitou o momento para divulgar as inscrições do processo seletivo do Politécnico, assim como todos os benefícios de estudar na Instituição, como capacitação para o mercado de trabalho, ações afirmativas e estrutura.
Uma troca de oportunidades
O professor Marcelo Farias, também do Colégio Politécnico, conta que a parceria público-privada é fundamental para o funcionamento do projeto. Ele explica que os trabalhos e experimentos são conduzidos pelos professores e alunos da UFSM em conjunto com as empresas, as quais fornecem diversos suportes, como material, bolsas, tecnologia, insumos e máquinas. “Esse projeto tomou a dimensão que tomou por conta dessa parceria”, afirma. Marcelo acrescenta que as empresas procuram a Advanced Farm por conta de toda a divulgação que recebem para a marca. Além disso, elas estão em busca de mão-de-obra, visto que os alunos atuantes no projeto já têm contato com os empregadores e podem se inserir no mercado de trabalho. “Todos que saem daqui saem muito bem empregados. Uns voltam para casa, outros vão para cooperativas, concurso público ou empresas. Então eles estão em uma vitrine, eles saem muito bem colocados para trabalhar”, compartilha Marcelo, que revela que alunos de outros centros da UFSM, como Centro de Ciências Rurais (CCR), o Centro de Tecnologia (CT) e o Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM) também podem participar.
O caráter de extensão rural
Essa transferência de tecnologia chega no produtor rural, o que vai ao encontro dos pilares da UFSM – ensino, pesquisa, extensão e inovação. O Dia do Campo é realizado justamente para divulgar o que vem sendo feito para este produtor, que é a ponta da cadeia e quem vai usar a tecnologia para além da própria Universidade, conta Marcelo. “É uma extensão rural da pesquisa que é feita aqui dentro. O Dia de Campo é baseado nos dados coletados na UFSM pelos alunos”, complementa.
Marcelo comenta que no último Dia de Campo realizado, 40% do público era de produtores rurais, convidados pelo projeto ou pelas empresas, a fim de demonstrar uma nova ferramenta, uma tecnologia, uma variedade e forma de trabalho com a máquina do campo. Ademais, a tecnologia do Advanced Farm é acessível a diversos segmentos de produtores rurais, continua Marcelo. Isso quer dizer que há tecnologia pensada e acessível desde o pequeno produtor.
Nesse sentido, o professor explica que os alunos também são o público da ação. “Há várias turmas do Técnico em Agricultura, Técnico em Agricultura de Precisão, Técnico em Agropecuária, de Agronomia, de Zootecnia, que acabam buscando essas tecnologias para usarem também em casa, porque muitos são filhos de agricultores e vinculados a pequenas propriedades”, expõe o professor.
Advanced Farm 360
O projeto, existente desde 2020, tem o objetivo de desenvolver ações de ensino, pesquisa e extensão na área da Agricultura de Precisão, em parceria com empresas do setor agrícola. O nome “Advanced Farm” remete às tecnologias empregadas pela área. Já o número “360” indica a ideia de ciclo, seja das culturas anuais de grãos ou da própria agricultura de precisão. As atividades do projeto estão concentradas na Área Nova do Colégio Politécnico da UFSM e contam com a parceria de outras Unidades de Ensino da UFSM.
A iniciativa é vinculada, também, ao InovaTec UFSM Parque Tecnológico e a Incubadora Pulsar. A equipe do Parque e do Advanced Farm estão trabalhando em conjunto para transformar o projeto em um Living Lab do Agro, tornando o espaço um grande ambiente para testes, experimentação e validação de soluções inovadoras, com o objetivo de aumentar a produtividade e sustentabilidade na área da agricultura e pecuária, por meio da cocriação e da inovação aberta.
Texto: Gabrielle Pillon, estudante de jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Ana Alicia Flores, estudante de desenho industrial e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista