Na última sexta-feira (19), a Universidade Federal de Santa Maria promoveu o evento “UFSM Divulga Ciência: como aproximar conhecimento científico e sociedade”. O evento marcou o pré-lançamento do Guia de Divulgação Científica, celebrou os 10 anos da Revista Arco e discutiu sobre a importância de disseminar novos saberes desenvolvidos pela ciência. Para contribuir com o diálogo, a atividade contou com a presença do biólogo e youtuber Pirula, que juntou centenas de pessoas para ouvi-lo no Auditório Wilson Aita, localizado no Centro de Tecnologia (CT) da Universidade.
Conhecido como Pirula, apelido que ganhou durante a faculdade, Paulo Nascimento é doutor em Zoologia pela Universidade de São Paulo (USP), com ênfase em Paleontologia, e criador do Canal do Pirulla, voltado a falar sobre ciências, religião e evolução no YouTube, onde hoje possui mais de um milhão de inscritos. Desde 2006, o paleontólogo atua na plataforma produzindo vídeos em que discute temas como criacionismo, vacinação e ciência brasileira em linguagem acessível e de forma descontraída, com o intuito de atingir um público que não está habituado a consumir conteúdos científicos.
Ao encontro do objetivo do seu canal, Pirula criou em 2016, em conjunto com outros influenciadores científicos brasileiros, o selo de qualidade colaborativo Science Vlogs Brasil, garantindo que determinados produtos midiáticos contenham informação de qualidade, confiável e relevante, a fim de combater a onda de pseudociência e desinformação que tem tomado conta das plataformas virtuais.
A comunicação como novo pilar da ciência
Durante sua fala, o paleontólogo abordou sobre a necessidade de que cientistas aprendam a divulgar seus estudos, tanto para outros pesquisadores quanto para a sociedade em geral, além de explicar formas de fazer essa divulgação, porque, segundo ele, a ciência só faz sentido quando é compartilhada com os outros, uma vez que ela afeta a vida de toda a população.
Somado a isso, o pesquisador afirma que, apesar de as desinformações existirem desde sempre, o avanço das mídias comunicacionais tornou sua disseminação muito mais rápida e de difícil identificação de quais conteúdos falam fatos verídicos e quais apresentam mentiras. Como exemplo, Pirula cita o caso das fake news contadas a respeito da vacinação contra a Covid-19 durante a pandemia. Por isso, ‘’entender a ciência é necessário para evitar vieses cognitivos [interpretações erradas]’’, explica o youtuber. Assim, é preciso que os cientistas se dediquem mais a divulgar seus estudos de forma popular, o que pode ser feito por meio de documentários, palestras, livros, plataformas na internet e jornalismo científico.
A UFSM, bem como as demais universidades federais, tem papel fundamental nessa discussão, já que é nesses ambientes que se produz a maior parcela da ciência brasileira. Para se ter uma ideia, de acordo com o relatório de 2018 da Clarivate Analytics para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), 99% da produção científica do Brasil é feita nas universidades públicas (federais e estaduais). Pensando nisso, a Revista Arco deve lançar ainda em maio o seu Guia de Divulgação Científica, onde haverá instruções sobre como um pesquisador deve se portar ao fornecer uma entrevista, como escrever um texto divulgando pesquisa de forma acessível a pessoas leigas no assunto e considerando aspectos jornalísticos, como o que pode ser considerado pauta, dentre outras dicas.
10 anos da Revista Arco
O evento também comemorou os 10 anos da Revista Arco, com exposições de algumas matérias produzidas ao longo deste período. A Arco é uma publicação de jornalismo científico e cultural da UFSM, e terá sua 13ª edição impressa lançada ainda neste ano. O objetivo da revista é transmitir conhecimento para que não fiquem restritos à academia.
Luciane Treulieb, jornalista responsável pela revista, esteve presente no evento e comenta que a Arco teve como inspiração a revista de jornalismo científico Darcy, da Universidade de Brasília (UnB) e conta que a primeira ideia de nome para a revista é que fosse “Marianinho”, em homenagem a Mariano da Rocha Filho, fundador da Universidade. No entanto, Arco pareceu representar mais a ligação entre a comunidade e a UFSM. No ano passado, o site da revista teve um milhão de acessos. “O que estamos fazendo é de interesse público”, comenta Luciane.
A Arco teve início apenas no modelo impresso e depois passou para o digital. De acordo com Luciane, atualmente a revista está passando por um processo de transformação, pois o objetivo é que a produção de jornalismo científico da Universidade não fique restrita apenas à revista, mas seja uma prática de diversos setores de comunicação.
Perspectiva do público
Com o auditório lotado, a expectativa do público estava alta para ver o Pirula. A estudante Fernanda Quadros conta que foi ao evento na intenção de absorver tudo que o youtuber tinha para acrescentar sobre divulgação científica, ciência e outros temas que o biólogo trata. “O humor e a espontaneidade com que o Pirula explica temas complexos e que precisam ser discutidos sempre me agradam muito, e no evento não foi diferente. A forma clara com que ele salienta a questão da necessidade da ciência e da divulgação dos conhecimentos é admirável e, com certeza, de muito valor para toda a comunidade, seja acadêmica ou não”, relata Fernanda.
O professor dos cursos de Comunicação Social da UFSM Maurício Fanfa também comenta que foi ao evento por já conhecer e ser fã do youtuber. “O que eu mais gostei foi ver o Pirula comentando sobre os aspectos mais práticos da rotina dele de percepções pessoais que ele teve enquanto criador de conteúdo, especialmente no sentido de coisas que ele percebeu durante a carreira dele e que se relacionam com experiências que também temos,” conta Maurício. Além disso, o professor também comenta sobre a importância da divulgação científica: “ela é muito motivadora para o tipo de pensamento que a gente deve incentivar na Universidade. Muito se falou hoje [no evento] sobre divulgação científica para públicos amplos, mas falo para públicos universitários, nós mesmos devemos valorizar um pouco mais esse pensamento o máximo possível. Acho que isso sempre é bom porque motiva a gente a seguir fazendo isso. Ver que a gente está fazendo coisas legais”.
Também participaram do evento o reitor da UFSM, Luciano Schuch, a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Cristina Nogueira, o pró-reitor de Planejamento, Rafael Lazarri e o coordenador de Comunicação Social, Maurício Dias. A palestra está disponível no YouTube, no canal da UFSM.
Texto: Laurent Keller e Gabriel Escobar, acadêmicos de Jornalismo, bolsistas da Agência de Notícias
Fotos: Ana Alicia Flores, acadêmica de Desenho Industrial
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista