Estudos vinculados à UFSM avaliaram o uso de aditivos à base de plantas no desempenho produtivo de frangos de corte e matrizes de poedeiras. Os aditivos utilizados nas pesquisas foram os extratos das plantas Quillaja saponaria, Yucca schidigera e taninos provenientes da acácia negra (Acacia mearnsii). Em frangos de corte, o objetivo foi avaliar um aditivo natural para obter uma melhor saúde intestinal, contribuindo de forma positiva com os custos de produção através da maior eficiência produtiva e melhorando a qualidade da carne. Na produção de matrizes poedeiras, as pesquisas objetivaram avaliar os efeitos dos aditivos sobre a produção de ovos, qualidade da casca, proteção contra microrganismos, número de ovos sujos na produção e parâmetros de incubação.
Os aditivos atuam na saúde das aves e, consequentemente, permitem que elas possam produzir melhor. A professora e pesquisadora do Departamento de Zootecnia da UFSM, Catarina Stefanello, diz que “é cada vez mais importante trabalhar com aditivos naturais, que não geram resíduos em carne e ovos e que possibilitam comercializar os produtos da avicultura para diferentes mercados e em mercados em que há restrição quanto ao uso de antimicrobianos não-naturais”.
A professora relata que, para os consumidores, os aditivos naturais, através das suas propriedades antioxidantes, podem melhorar a qualidade da carne de frango, diminuindo a oxidação lipídica, o que está relacionado com a manutenção da qualidade da carne durante o armazenamento. Já para os produtores, uma menor umidade das excretas das aves pode proporcionar maior reutilização da cama aviária, que, associada a outros controles de manejo, visa a reduzir custos.
Resultados positivos
Os resultados dos estudos mostram que as saponinas e polifenóis da Quillaja e da Yucca resultaram em melhor desempenho produtivo de frangos de corte criados até os 3 kg de peso vivo. “O aditivo natural melhorou a integridade do intestino, aumentou a altura das vilosidades intestinais e a digestibilidade dos nutrientes, o que favoreceu a melhoria da eficiência alimentar”, afirma Catarina. Para matrizes de poedeiras na fase de produção de ovos, o aditivo de Quillaja e Yucca melhorou a conversão alimentar e reduziu o percentual de ovos descartados – trincados, sujos, sem casca ou com defeitos.
“Foi observado que as excretas das aves ficaram mais secas e menos ovos sujos foram produzidos quando as galinhas receberam ração com 250 g/tonelada do aditivo. Além disso, o aditivo atuou melhorando a qualidade da casca dos ovos, o percentual, espessura e resistência da casca, aumentando o aproveitamento dos ovos obtidos na produção das galinhas. Também identificamos melhoria na integridade das cutículas das cascas dos ovos das aves, o que representa maior proteção contra a presença de bactérias que podem prejudicar a eclosão dos ovos, e melhorou os chamados parâmetros de incubação, que incluem a redução da quantidade de ovos contaminados e da mortalidade embrionária”, relata a professora.
Também foram avaliados níveis crescentes (0 a 900 g/tonelada de ração) de um tanino comercial adicionado nas rações para frangos de corte, o que resultou em aumento do ganho de peso e melhor conversão alimentar. “O tanino melhorou o aproveitamento da proteína da ração, a integridade do intestino e a altura das vilosidades intestinais. Adicionalmente, os taninos diminuíram a oxidação lipídica da carne de coxas de frangos que foram armazenadas congeladas por seis meses. Os melhores resultados de ganho de peso e eficiência alimentar dos frangos foram observados com a utilização de, em média, 310 a 444 g/tonelada de tanino na ração, respectivamente”, afirma.
Parceria deu início aos estudos na UFSM
Os estudos surgiram através da parceria entre a UFSM, empresas e agroindústrias da área avícola. A professora conta que cada vez mais a Universidade tem se tornando referência na área, contribuindo com o agronegócio brasileiro através das pesquisas inovadoras acerca de aditivos para aves. “A pesquisa com taninos foi uma das primeiras pesquisas realizadas em maior escala estudando este tipo de tanino para frangos de corte no Brasil. E o estudo dos extratos multi-herbais rendeu a primeira publicação presente na literatura mundial avaliando este aditivo para matrizes avícolas”, conta Catarina.
Ao final das pesquisas, foram publicados três artigos científicos em revistas internacionais: “Effects of a proprietary blend of Quillaja and Yucca on growth performance, nutrient digestibility, and intestinal measurements of broilers”; “Assessments of productive performance, eggshell quality, excreta moisture, and incubation traits of laying breeder hens fed a proprietary blend of Quillaja and Yucca“; e “Effects of Acacia mearnsii tannins on growth performance, footpad dermatitis, nutrient digestibility, intestinal permeability, and meat quality of broiler chickens”. Também houve apresentações orais em eventos nacionais e internacionais e foram publicadas reportagens que levaram o nome da UFSM para leitores de todo o Brasil.
Motivação para as pesquisas
Catarina destaca que a indústria de rações animal, a partir dos conhecimentos sobre as propriedades que os taninos, as saponinas e os compostos fenólicos exercem nas plantas, passou a elaborar aditivos contendo extratos. Esses produtos buscam aproveitar essas propriedades antimicrobianas, os compostos antioxidantes e os polifenóis naturais que são extraídos. No caso dos taninos, o excesso em alimentos e ingredientes tem sido considerado ao longo dos anos como um fator antinutricional para aves, pois podem interferir na digestão. Entretanto, efeitos positivos passaram a ser observados quando os taninos estão presentes em pequenas quantidades na alimentação animal, e isso vem motivando as pesquisas na UFSM.
Além da professora e pesquisadora Catarina Stefanello e das empresas parceiras, fizeram parte das pesquisas os doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia Yuri Katagiri Dalmoro e Otoniel Félix de Souza, e os mestrandos em Zootecnia Guilherme Librelotto de Godoy, Bárbara Moreira dos Santos (in memoriam) e Carine Beatriz Adams. Alunos de graduação em Zootecnia e Medicina Veterinária também participaram dos estudos e foram contemplados com bolsas de pesquisa.
Saiba mais sobre as plantas utilizadas:
Quillaja e Yucca
A Quillaja saponaria é uma árvore originária do Chile, cuja casca do tronco é rica em saponinas, e a Yucca schidigera é uma planta nativa dos desertos do sudoeste dos Estados Unidos e norte do México. Nas plantas, as saponinas e os compostos polifenólicos atuam naturalmente prevenindo o ataque de insetos e a invasão por patógenos. Devido às suas propriedades químicas, os extratos dessas plantas têm sido muito utilizados pela indústria farmacêutica, em sabões e detergentes, shampoos, cosméticos, vacinas e refrigerantes. Também são utilizados como aditivos em rações para animais de companhia, objetivando reduzir o odor das fezes, e por fim, como aditivo em ração para animais de produção.
Taninos de acácia negra
A acácia negra (Acacia mearnsii) é uma árvore utilizada em diversos segmentos da indústria, principalmente visando a produção de taninos e a exportação de madeira. Essa planta se destaca na produção de taninos, pois o extrato obtido de sua casca apresenta qualidade superior a outras árvores com características semelhantes, tornando-se a principal fonte de extração de taninos vegetais do mundo. É originária da Austrália e muito cultivada em vários países, especialmente no Brasil e no continente africano devido seu rápido crescimento e sua madeira de qualidade, com potencial para produção de lenha e carvão. No Brasil, o cultivo se concentra na região Sul, principalmente no Rio Grande do Sul.
Os taninos são caracterizados como metabólitos secundários, atuando como mecanismo de defesa das plantas, com proteção contra possíveis ataques de predadores, patógenos e condições adversas. Os tecidos que contém estes metabólitos, como folhas, frutos e casca, apresentam uma das principais características dos taninos: a adstringência. O sabor adstringente das folhas e frutos visa evitar seu consumo por animais através da interação entre os polifenóis e as proteínas salivares, causando uma redução na lubrificação e evitando que plantas em crescimento sofram danos. Isso pode interferir no consumo dos animais, entretanto para aves, isso parece não ter efeito, visto que as aves apresentam menor número de papilas gustativas em sua boca quando comparadas com outros animais.
Texto: Gabriela Leandro, acadêmica de Jornalismo e voluntária da Agência de Notícias
Foto: Divulgação
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista