Quem vê as manhãs agitadas, cheias de carros, motos e ônibus que cruzam a Avenida Roraima para entrar na UFSM, pode não saber que, dentro da Universidade, também é possível encontrar a paz e o sossego do campo. Acordar antes do sol nascer, estar no campo assim que ele começa a surgir e sair apenas ao anoitecer é a rotina de João Vicente do Amaral Colpo, de 70 anos, 50 deles dedicados à Universidade Federal de Santa Maria. Desde o dia 1º de janeiro de 1973 o servidor trabalha no setor de agropecuária do Laboratório de Fitotecnia da UFSM.
João e outros servidores do setor plantam, manejam e colhem culturas diversas como trigo, soja, milho, arroz e até flores como girassol, utilizadas principalmente na área de pesquisa em uma espaço de aproximadamente 25 hectares. Há também hortas com verduras e legumes como couve, beterraba, cenoura, além de temperos que são utilizados em atividades de ensino dos cursos de Centro de Ciências Rurais (CCR).
Há meio século no Departamento de Fitotecnia, João é o funcionário mais velho do setor. Ele iniciou sua carreira na época em que a Universidade começava a se estabelecer em Camobi, por conta disso, trabalhos que hoje são realizados com maquinário de última geração como arar, gradear e roçar a terra, eram feitos manualmente. “Naquela época era tudo braçal. Nós tínhamos junta de bois, arado e capinadeira que estão até hoje guardados como lembrança”.
Com meio século de carreira, João viu a chegada de todos os seus colegas, entre eles, Joel Dias (58) que também possui uma longa trajetória dentro da universidade. “Nós temos mais de 30 anos de convivência e nos damos muito bem. Quando eu cheguei ele já estava aqui há muito tempo e essa experiência me ajudou bastante”, lembra Joel.
Mesmo com tanto tempo de convivência, até o colega ficou surpreso com os anos de relação entre o servidor e a UFSM, digna de bodas de ouro. “Sabia que ele estava aqui há bastante tempo, mas não sabia que era tanto. Fiquei sabendo por conta da repercussão que teve. Com certeza é algo raro, porque normalmente as pessoas não ficam tanto tempo assim, ainda mais no mesmo local”, afirma o colega.
Neste tempo o servidor também acompanhou a trajetória de inúmeros alunos. Alguns desses se tornaram professores e voltaram a encontrá-lo, agora como colegas. “Vi muitos alunos que se tornaram professores e que se aposentaram antes de mim (risos)”. João conta que até hoje muitos professores novos que encontra já são velhos conhecidos seus da época de estudante.
Após testemunhar tantas mudanças e evoluções em 50 anos, um dos maiores orgulhos de seu João é uma coisa que sempre se manteve igual: a relação com colegas, docentes e estudantes. “Sempre me dei bem com todo mundo porque aqui nos tratamos como família, independente de quem seja”, enfatiza. A boa relação e o amor pelo trabalho que ele descreve como “algo que faz bem para a saúde” o motivam a continuar.
Entre as alegrias e desafios de uma história que já dura mais de 50 anos, João se sente “faceiro” em poder continuar a fazer parte da história da UFSM. “A universidade é uma relíquia que muitas pessoas não dão valor. Se não existisse a Universidade em Santa Maria, nós não teríamos empregos. Além disso, nós temos filhos e netos que têm a oportunidade de estudar aqui de graça e com qualidade”, finaliza.
Vídeo
Para saber um pouco mais sobre a relação entre João e a UFSM, veja o seu depoimento abaixo:
Texto, fotos e vídeo: Bernardo Silva, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista