Como você imagina a lavoura do amanhã? Para o Grupo de Pesquisa em Arroz e Uso Alternativo de Várzea (GPai) da UFSM, a resposta está no uso de novas tecnologias para a rotação de culturas em áreas de arroz. Esse foi o tema do encontro que reuniu prefeitos, secretários de agricultura e empresas da região central do estado na Área Didático-Experimental de Várzea da UFSM durante a manhã ensolarada desta segunda-feira (23).
O GPai foi criado em 1993 pelo professor Enio Marchesan e atualmente é composto por 12 alunos. No grupo, os estudantes buscam identificar, pesquisar e transferir tecnologias para o uso intensivo e sustentável das áreas de várzea, trabalhando desde a teoria até a prática, feita no espaço da Várzea. A mestranda em Agronomia Rafaela Leopoldina Silva Nunes comenta a importância de compartilhar os estudos desenvolvidos no grupo com a comunidade: “hoje nós fazemos experimentos tanto aqui (no campus), como em algumas propriedades próximas. Visamos o pequeno produtor rural, de forma que eles também façam essa rotação de culturas e busquem outras alternativas de renda”, comenta.
No evento, foram discutidas problemáticas como as chuvas escassas e espaçadas, que têm prejudicado economicamente a região central do Rio Grande do Sul nos últimos anos. Para reduzir os danos, os municípios têm decretado situação de emergência para conseguir o auxílio do governo estadual e federal. O professor Enio explica que é fundamental identificar e oferecer suporte aos produtores afetados. “Em muitos casos, eles não conseguem acessar as tecnologias disponíveis. Com isso, eles perdem e a renda dos municípios também fica menor”, observa.
Por isso, o evento contou com a participação de representantes de diversos municípios da região, como Agudo, Cacequi, Formigueiro, Júlio de Castilhos, Mata, Nova Palma e São Vicente do Sul, para discutir formas de viabilizar o uso de tecnologias para a rotação de culturas, especialmente para pequenos e médios produtores. “A rotação de cultura busca potencializar essas áreas, porque, além do arroz, temos a soja, temos o milho e outros cultivos de plantas que nós acreditamos ser a lavoura do amanhã”, destaca o professor Enio. Para que esse movimento seja possível, ele destaca que é necessário adequar as áreas para receber esse cultivo. Por isso, o evento reuniu prefeitos e secretários da agricultura para estabelecer uma ação conjunta, com a criação de infraestrutura para que esses produtores consigam acessar as tecnologias.
Durante a visita na Área Didático-Experimental de Várzea da UFSM, Marchesan falou sobre os processos, erros e acertos do trabalho executado, além de soluções para demandas reais dos produtores de cada região. Após, os representantes se reuniram junto ao professor para discutir o futuro das lavouras e as possíveis soluções para que os problemas enfrentados nos municípios – como a escassez de água, a perda nas produções, os manejos errados nas plantações e a falta de cuidado com o solo – sejam minimizados. Na ocasião, sugeriu-se a elaboração de um plano de ação, que conta com quatro etapas: criação de um projeto técnico bem elaborado para a região, busca de parcerias públicas e privadas, plano para a preservação da água e a capacitação de profissionais que possam chegar até as propriedades rurais.
A iniciativa teve a parceria do Departamento de Fitotecnia da UFSM e da Associação dos Municípios da Região Central do Estado (AMCentro), que abrange 33 municípios. O diretor do Centro de Ciências Rurais (CCR), professor Alessandro Dal’Col Lúcio, reitera que a parceria com os municípios e o setor privado é uma via de mão dupla. “Nós recebemos as demandas da comunidade e trabalhamos dentro dos grupos de pesquisa para dar o retorno com resultados práticos. Assim, colabora-se com a formação dos alunos que no futuro vão prestar esse tipo de assistência”, afirma. O diretor da AMCentro e também prefeito de São Vicente do Sul, Fernando da Rosa Pahim, explica que o objetivo da parceria firmada com a universidade é levar conhecimento técnico aos produtores da região: “É um caminho bem difícil porque os produtores estão acostumados com um jeito de manejo. Mas através do conhecimento técnico é possível melhorar a realidade de cada município da região”, observa. O empresário Carlos Costa Beber, que também auxiliou na organização do evento, ressaltou que dificilmente o pequeno produtor terá chance se não conseguir utilizar as tecnologias disponíveis. Segundo ele, as empresas públicas e privadas precisam estar envolvidas socialmente com a comunidade.
Situações regionais – Além de apresentar novas tecnologias desenvolvidas na Várzea da UFSM e compartilhar conhecimentos técnicos, o momento também foi de observar as realidades de cada município da região. São Vicente do Sul, por exemplo, tem na soja e no arroz as suas principais fontes de renda no campo, com 39 mil e 11 mil hectares plantados, respectivamente. O Secretário de Agricultura, Lidiandro Pozzebon, destaca que o município enfrenta prejuízos causados pela estiagem. Para ele, o evento auxilia os produtores ao apresentar novas técnicas de manejo que possibilitam uma produção mais eficiente e benéfica para as famílias da zona rural diante desse cenário.
O prefeito de Formigueiro, Jocelvio Gonçalves Cardoso, também falou sobre a preocupação com a estiagem no município. Para o gestor, é essencial trabalhar em um projeto permanente de irrigação, por meio de parcerias com outros municípios e instituições, para garantir a renda das famílias. “Nós já contamos com insumos e tecnologias. Hoje, o que nos falta para manter 100% da produtividade é a irrigação”, destaca.
O mesmo cenário pode ser observado em Agudo, que tem como característica a agricultura familiar. O prefeito Luís Henrique Kittel destaca que os agricultores do município, que tem como principal fonte de renda o arroz, possuem o desafio de fazer uma lavoura que gere lucro e rentabilidade. “E a UFSM está aqui para isso, com todos os seus professores, alunos e estudos, para auxiliar na produção de safras mais eficientes”, afirma. O prefeito ainda destaca que, a partir de vínculos com outros municípios e o auxílio da universidade, os agricultores são beneficiados a médio e longo prazo.
Tecnologias que aproximam – A aproximação da UFSM com os municípios da região central foi destaque nas manifestações das autoridades presentes no evento. Para o reitor da UFSM, Luciano Schuch, essas iniciativas compartilham com a comunidade o conhecimento produzido na instituição. “A UFSM só é forte quando o conhecimento gerado dentro dos nossos laboratórios, pelos nossos estudantes e pesquisadores, colabora com o desenvolvimento das cidades. Assim, a nossa universidade se faz presente no desenvolvimento econômico e social da região”, afirma Schuch, que também destacou a parceria com o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) e o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
Além de apresentar o conhecimento técnico desenvolvido na Várzea, outras iniciativas da UFSM foram destaque durante a manhã. Após a visita de campo, representantes da G2W Sistemas, startup que está na Pulsar Incubadora Tecnológica, apresentaram os produtos e as soluções desenvolvidas para a agricultura de precisão. A empresa busca auxiliar produtores rurais por meio de tecnologias da engenharia aeroespacial e militar. O professor Marchesan destaca que esse conjunto de iniciativas faz com que a produção não fique restrita apenas ao trabalho científico. Para ele, é preciso se integrar à sociedade através de pessoas que possam levar o conhecimento produzido na instituição. “Esse é o papel da universidade: identificar as necessidades do meio, trazer para cá e buscar resolvê-las”, completa.
Texto: Letícia Klusener e Thais Immig, acadêmicas de Jornalismo
Fotos: Ana Alicia Flores, acadêmica de Desenho Industrial
Edição: Lucas Casali