A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) anunciou, dia 20 de janeiro, nove ganhadoras da quarta edição do prêmio Carolina Bori – Ciência e Mulher. Dentre 446 pesquisadoras de todo o Brasil, a estudante de Letras (Licenciatura Português e suas Literaturas) da UFSM, Alessandra Stefanello, conquistou a premiação na categoria “Meninas na Ciência”, na área de Humanidades, com o trabalho Um outro olhar para a língua: a posse da terra e o direito à propriedade. A cerimônia de entrega do troféu acontecerá em 10 de fevereiro, em alusão ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.
Alessandra conta estar emocionada com a premiação porque seu tema de pesquisa representa, além de uma escolha acadêmica, “uma posição política e um recorte da minha realidade. A história da terra me atravessa e me constitui, enquanto filha de agricultores familiares”, expõe a aluna de Letras. Seu trabalho de análise da língua é resultado de pesquisas feitas durante toda a graduação, em que analisou discursivamente a história da terra e de sua distribuição no território brasileiro. Para ela, tal objeto de estudo estabelece diálogo entre a linguística e as demais áreas do conhecimento, “como a história da terra, a geografia humana e a sociologia materialista que permitem, por sua vez, descentralizar o sujeito e questionar a versão de história vigente”, explica Alessandra.
Para a orientadora, a professora Amanda Scherer, do Departamento de Letras Clássicas e Linguística da UFSM, “seu tema de pesquisa é de fundamental importância para a área das humanidades, pois, além de compreender a constituição e formulação do discurso que envolve a questão da terra, põe em diálogo o campo de conhecimento da análise de discurso com outros campos de conhecimento das humanidades, tais como a história da terra, a geografia humana, a sociologia da propriedade, que permitem, por sua vez, descentralizar o sujeito e questionar a versão de história vigente”, explica.
Somado ao prêmio, as vencedoras devem ganhar uma visita guiada ao Museu do Ipiranga, em São Paulo (SP), além das passagens aéreas e diárias para a formalidade presencial, também na capital paulista, e para a 75ª Reunião Anual, a ser realizada em Curitiba (PR). Para quem deseja acompanhar a cerimônia, a SBPC transmitirá o evento em seu canal no YouTube, às 15 horas do dia 10 de fevereiro.
Incentivo às cientistas brasileiras
Carregando o nome da primeira presidente mulher da SBCP, o prêmio Carolina Bori, criado em 2019, tem como intuito homenagear pesquisadoras brasileiras consolidadas, e estimular futuras cientistas a se lançarem ao campo científico nacional. Nesse sentido, a premiação seleciona pesquisas que apresentam criatividade, aplicação do método científico e potencial de contribuição com o futuro da ciência, como é o caso do trabalho de Alessandra.
Ao todo, houveram indicações de 446 candidatas, oriundas de 233 instituições de ensino do país, para disputar três premiações do ensino médio e seis da graduação. Escolhidas por uma comissão julgadora, a premiação divide-se entre nível médio (126 inscritas) e mais três áreas do conhecimento da área superior: Biológicas e Saúde (126 inscritas), Engenharias, Exatas e Ciências da Terra (103 inscritas) e Humanidades (91 inscritas). Para além das vencedoras, foram concedidas também nove menções honrosas, sendo três do ensino médio e seis da graduação.
Para constituir a comissão julgadora, foram selecionados sete membros da comunidade científica de diferentes áreas do conhecimento: Fernanda Sobral, vice-presidente da SBPC; Miriam Grossi, Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos e Francilene Procópio Garcia, diretoras da entidade; Maria Vargas, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC); Vanderlan Bolzani, presidente da Aciesp, conselheira da SBPC e criadora do prêmio quando era vice-presidente da entidade; e Fernanda Werneck, pesquisadora titular e coordenadora do Programa de Coleções Científicas e Biológicas e Curadora da Coleção de Anfíbios e Répteis do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
A vice-presidente comemora que, nesta edição, ocorreu um aumento de 55% nas indicações para a premiação, em relação à segunda, que recebeu 286 participantes: ‘”essa quantidade mostra a mobilização das meninas em torno da ciência e, pela qualidade dos trabalhos, podemos vislumbrar trajetórias brilhantes neste setor.”
Motivação para seguir na ciência
Depois de conquistar o prêmio Carolina Bori, a estudante da UFSM pretende dar continuidade ao seu trabalho de pesquisa no mestrado da UNICAMP, e seguir participando de novas premiações. “Ganhar uma premiação de tamanho prestígio me motiva a seguir na ciência, a continuar na área das Humanidades, mais especificamente, das Letras, e a marcar o lugar social da luta pela terra”, relata Alessandra.
Texto: Laurent Keller, acadêmica de jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Imagens: Arquivo pessoal