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6° Nei Day celebrou a memória do ícone do movimento negro de Santa Maria

Atividade integrou o Novembro Negro, com organização da UFSM



foto colorida horizontal com pessoas perfiladas na abertura do evento. Uma senhora fala ao microfone
Evento foi realizado na tarde de terça-feira (15)

Na terça-feira (15), ocorreu a 6ª edição do Nei Day, evento criado para homenagear Vilnes Gonçalves Flores Jr, conhecido popularmente como Nei d’Ogum Segundo Isadora Bispo, integrante do Coletivo Ará Dudu, responsável pela organização, o evento foi criado para não deixar a data de seu aniversário “passar em branco, mas em preto”. A celebração reuniu grande público na Praça dos Bombeiros. Entre os presentes, alguns nomes importantes no movimento, como a vereadora Maria Rita Py Dutra, o vereador Valdir Oliveira, e a presidenta do Ará Dudu, Carmem Lúcia, conhecida como Baiana, que utilizou o espaço de fala para fazer a denúncia de casos de intolerância religiosa e ataques a terreiros que têm acontecido na cidade.

O evento teve diversas atividades em sua programação: homenagem ao Dia da Umbanda, pelo Centro Afro Umbandista Xangô e Oxum; apresentação de drag queens, A Bixa da Noite – Weruska Gamela Penosa; Vera Garcia e Grupo Cadência Bonita do Samba; apresentação teatral “80 tiros”, por Gustavo Rocha, o Afro Guga; slam feminino de MC Leti e Justina Monteiro; A voz e poema das mulheres negras, por Louise da Silveira e Esther Farias; venda de ecobags Nei d’Ogum, pelo Grupo Gepa; empreendedoras negras da feira Feito por Mulheres; exposição de fotos de Dartanhan Figueiredo. Houve animação da Escola de Samba Arco-íris, Capoeira de Rua Berimbau, DJ Kau e Pagode do Choco.

O Nei Day se tornou uma data comemorativa – 15 de novembro – no Calendário Oficial de Eventos do Município. A decisão foi tomada na Câmara de Vereadores de Santa Maria no dia 8 de novembro, e o argumento utilizado pelos votantes favoráveis foi de que Nei ainda é um grande ator social de Santa Maria e deve ser reconhecido como tal.

Esta edição foi organizada pela Associação de Arte e Cultura Negra Ará Dudu, que é um dos projetos integrantes da Incubadora Social da UFSM.

foto colorida horizontal em que uma moça de costas, com turbante roxo na cabeça, aprecia fotos grandes em P&B em que o homenageado fala ao microfone
Exposição de fotos foi uma das atrações da programação

Nei D’Ogum

Vilnes Gonçalves Flores Jr, o Nei D’Ogum, nasceu em Santa Maria, em 15 de novembro de 1963, data em que hoje se comemora o Nei Day, em alusão ao seu aniversário. Durante sua vida, foi protagonista de diversas lutas sociais em Santa Maria, militou pelo direito de ser aquilo que ele mesmo era: negro, membro da comunidade LGBT, morador de periferia e praticante de religião de matriz africana. Passou por muitas profissões, com guia turístico, auxiliar de fabricante de picolés e sorvetes, vendedor no comércio, auxiliar de pedreiro, garçom, consultor político e produtor cultural.

Sua afinidade com a cultura fica clara em seu extenso currículo. Por 8 anos, foi o Coordenador do Núcleo de Ações Culturais e Educativas do Museu Treze de Maio. Também foi bailarino do Grupo de Dança Afro Agbara Dudu e foi coordenador do Colegiado de Culturas Populares da Secretaria Estadual de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. Foi secretário-geral da Associação das Escolas de Samba de Santa Maria e vice-presidente da Escola de Samba Arco Íris, era padrinho do Coletivo de Resistência Artística Periférica (CO-RAP). Idealizou o Festival Municipal de Artes Negras (FESMAN), o Concurso Beleza do Ébano e aMuamba. Participou da organização de várias edições de Paradas Livres na cidade e fez parte da Coordenação Geral do Coletivo Voe. Além disso, também foi um dos fundadores do Coletivo Ará Dudu. Em 2014, recebeu o Prêmio Diversidade RS, na categoria Cultura Negra, em Porto Alegre. Aos 40 anos, ingressou no curso de Artes Cênicas da UFSM, pelo sistema de cotas raciais. 

Nei era praticante de religião de matriz africana, da Comunidade de Terreiro Ilê Axé Ossanha Agué, e foi articulador da 1ª Conferência Municipal e Regional dos Povos de Terreiro. 

Ele era morador do Loteamento Cipriano Rocha e foi um dos fundadores da Associação Comunitária do Loteamento Cipriano Rocha, do qual também foi secretário-geral. Passou 20 anos ao lado do companheiro, Ricardo Souza, conhecido como Babalossain De Agué. Nei D’Ogum faleceu na noite de 23 de agosto de 2017. 

Mais sobre a sua história e ativismo podem ser encontrados no documentário PPP (2016), dirigido por Diego Tafarel. 

Foto colorida horizontal com pessoas conversando e olhando as fotos expostas em murais na praça
Programação segue até o final de novembro

Mês da Consciência Negra da UFSM

O Nei Day faz parte da programação de Mês da Consciência Negra da UFSM. No domingo (13), foi feito lançamento da Exposição de Rua “Histórias da gente: vidas LGBTQIA+ no RS – Nei D’Ogum”, no Centro de Artes de Letras (CAL) da UFSM. A exposição apresentou artes da artista trans Priscila Fróes, acompanhados de biografias de personalidades LGBTQIA+ do Rio Grande do Sul. Também foi feito um passeio guiado “Territórios de Nei D’Ogum”, que levou o público a locais importantes na história do ativista, e incluiu falas de amigos próximos a eles.

Para conferir as próximas atividades do Mês da Consciência Negra, confira a programação completa.

Texto e fotos: Ana Laura Iwai, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista

 

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