A produção agrícola do Paraguai tem aumentado de forma significativa. Este aumento se deve, em grande parte, à expansão da área cultivada e crescimento na produtividade. No entanto, apesar da adoção de práticas e estratégias de produção, os rendimentos médios no Paraguai são inferiores aos obtidos em países como Argentina e Brasil, o que sugere que há espaço para aumentar os rendimentos em nível nacional.
Essas percepções são apresentadas pelo professor de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria Alencar Júnior Zanon, um dos coordenadores do GYGA-Paraguai, um projeto que visa aumentar a produção sustentável de alimentos naquele país, a partir de um estudo sobre as características da produtividade local.
O objetivo da iniciativa é fornecer evidências científicas que possam ajudar o Paraguai a cumprir suas metas de produção agrícola por meio da intensificação dos atuais sistemas de produção. Zanon explica que para aumentar a produção de alimentos com um impacto ambiental mínimo, “é preciso determinar o potencial de produtividade, ou seja, o quanto se pode produzir, a partir disso determinar o quanto que os produtores estão produzindo, e identificar a chamada lacuna. Sabendo a lacuna, determinamos as causas ou os fatores de manejo que estão impedindo os produtores de colherem mais” explica.
Para isso, o grupo responsável pelo projeto faz uso do Global Yield Gap Atlas (GYGA) que é um banco de dados agronômicos que abrange 15 principais culturas alimentares em 70 países da América, Europa, Ásia, África e Oceania. O objetivo do GYGA é determinar o quanto é possível produzir de alimentos em cada hectare agricultável ao redor do mundo e identificar as regiões mais promissoras para investimentos em desenvolvimento agrícola e tecnologia, a partir de 5 variáveis de análise: diferença de rendimento e rendimento real e potencial; produtividade real e potencial da água; exigência de nutrientes reais e mínimos; dados subjacentes sobre os sistemas meteorológicos, de solo e de cultivo; zonas climáticas e domínios de extrapolação de tecnologia.
No caso da América do Sul, o Atlas foi concluído apenas para as principais culturas agrícolas da Argentina, Brasil e Uruguai. E a proposta apresentada agora visa estender os benefícios do GYGA ao Paraguai, a partir de três aspectos principais:
1) estimar o rendimento potencial de soja, milho e trigo sob sistemas de produção de sequeiro e a variabilidade de rendimento associada ao clima;
2) mapear as lacunas de produtividade das culturas de soja, milho e trigo;
3) determinar as causas das lacunas de desempenho.
Assim, conforme os resultados, os dados podem ser destinados para pesquisa e tomada de decisões para que o investimento de recursos tenha melhores resultados. Além do processo de identificar o potencial de produção agrícola de determinado país, o projeto busca, também, através destes resultados, investimentos para a produção.
Lançamento do GYGA-Paraguai
No início do mês (04/07 e 05/07) o professor Alencar, junto dos professores Patricio Grassini e Juan Pablo Monzon da Universidade de Nebraska-Lincoln (EUA) e da Professora Maria Soledad Armoa da Universidade Nacional de Assunção (Paraguai), esteve presente no Paraguai para a apresentação do projeto e da metodologia de execução. Além disso, o aluno do Programa de Pós-Graduação da Agronomia da UFSM Eduardo Lago e o aluno da Agronomia da UFSM Marcos Dallanora estão integrados na iniciativa.
A estimativa é de que o projeto se desenvolva em três anos, com duas etapas. A primeira é a determinação do potencial e das lacunas de produtividade, determinando o quanto é possível produzir de soja, de trigo e de milho em toda área agricultável do Paraguai. A segunda é a capacitação de profissionais para a continuidade da iniciativa. O objetivo é capacitar pesquisadores, técnicos e profissionais paraguaios em áreas-chave como modelagem de culturas, análise de dados espaciais e determinação de brechas de rendimento, o que garantirá a sustentabilidade da iniciativa após os três anos iniciais do projeto.
Alencar Zanon destaca que o projeto GYGA-Paraguai já foi apresentado a universidades, ministérios, empresas privadas e associações de agricultores durante reuniões na Universidade Nacional de Assunção, em novembro de 2021. Os participantes de todos os setores manifestaram interesse e apoio à iniciativa, ressaltando o impacto potencial, não apenas para aumentar a produção agropecuária em nível local, mas também contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas nacionais e internacionais e orientar investimentos nos setores público e privado.
Para o coordenador da iniciativa na Universidade, para a UFSM, participar de um projeto desta grandeza, com expressividade internacional, é de extrema relevância e coloca a Instituição em um patamar alto de relevância no assunto. “Participar deste projeto é estar inserido naquilo que há de mais sólido do ponto de vista de ciência. Este é um projeto global que envolve, atualmente, setenta países e a gente representa o Brasil em um projeto feito no Paraguai. É com o conhecimento que temos em Santa Maria e desenvolvemos na UFSM que podemos atuar com um projeto no exterior. Isso nos coloca em outro nível, que é difícil de ser alcançado. Estamos em um município no centro do Rio Grande do Sul, no Brasil, desenvolvendo projetos fora do país. Isto é muito complexo e demanda muito dos pesquisadores, ao mesmo tempo em que é um reconhecimento do trabalho que a gente vem fazendo nos últimos anos”, finaliza Zanon.
Texto: Letícia Klusener, estudante de jornalismo, voluntária da Agência de Notícias
Foto: Arquivo pessoal de Alencar Zanon
Edição: Mariana Henriques, jornalista