Uma das duas únicas equipes universitárias brasileiras a serem classificadas para o torneio RoboCup é da UFSM: o projeto Brazilian United Team for Intelligent Automation (BUTIA Bots) foi classificado para a categoria RoboCup@Home, na Open Platform League, na qual as equipes constroem seus próprios robôs. No desenvolvimento da máquina, a Taura Bots da UFSM trabalhou junto com a equipe da Universidade de Rio Grande (FURG), a FBOT, desde 2018.
Fundada em 1993, a RoboCup é reconhecida como um dos maiores eventos de disputa de robôs do mundo e envolve cerca de três mil participantes de mais de 100 países por ano. No início, o torneio envolvia basicamente categorias de robôs capazes de jogar futebol como humanos. Contudo, ao longo dos anos, novas divisões foram feitas, voltadas, por exemplo, para resgates, indústrias ou casas, como é o caso da segmentação Home, incluída na competição em 2006, na qual o projeto BUTIA Bots participará. Nela, o foco é desenvolver robôs capazes de solucionar problemas domésticos em ambientes complexos, como uma casa, diferente de categorias de futebol, por exemplo, em que o espaço físico é simplificado.
Nessa categoria, 11 times foram classificados para a competição: dois da China, dois da Alemanha, um da Malásia, um do Reino Unido, dois da Tailândia, um do Japão e dois do Brasil (o BUTIA Bots e um time do Centro Universitário FEI de São Paulo). Para avançar no torneio, os times precisam primeiro superar três tarefas de nível 1 (mais simples), como levar o lixo para fora de casa. Posteriormente, as equipes mais bem pontuadas devem realizar tarefas do nível 2 (mais complexas), como servir um café da manhã completo. Como a RoboCup de 2022 é a primeira competição internacional em que os times FBOT e Taura Bots participam, a meta é, basicamente, tentar chegar ao nível 2 da disputa.
O docente do Centro de Ciências da Computação da FURG e um dos coordenadores do projeto, Rodrigo Guerra, que já atuou na UFSM, explica que, devido ao local familiar em que está inserido, o robô da categoria Home deve apresentar boa aparência e comunicação, além de ser capaz de interagir com seres humanos sem risco de ferir alguém ou danificar o dispositivo. De acordo com o padrão da categoria, o robô BUTIA Bots inclui câmeras, rodas para locomoção, torso e braço aptos a realizarem atividades de manipulação, rosto com sensores e motores para movimentar mandíbula e olhos e computadores responsáveis pelo processamento dos dados, por meio de algoritmos habilitados a seguirem comandos, tomarem decisões e executarem tarefas. Na construção do equipamento, a UFSM contribuiu com o rosto e o braço, enquanto a FURG colaborou, principalmente, com a navegação e o controle.
Parceria entre UFSM e FURG
De acordo com o outro coordenador do projeto e professor do Centro de Ciências Computacionais da FURG Paulo Drews, por causa das dificuldades de participar sozinho de um torneio internacional, como a RoboCup, as equipes da UFSM e da FURG atuam juntas desde 2018, já tendo disputado em conjunto competições brasileiras e virtuais.
Em decorrência da distância física, para o desenvolvimento do projeto que irá para Tailândia, especificamente, os alunos se organizavam através de reuniões online e softwares compartilhados. Como aporte financeiro, o robô foi construído a partir de US$ 5 mil ganhos em edital da própria RoboCup em 2017, junto de materiais reciclados de disputas anteriores, de ambas as universidades.
Por consequência da carência de investimentos nas universidades públicas, os alunos da UFSM participantes do projeto não comparecerão ao torneio, somente integrantes da FURG, que receberam bolsas do Programa de Formação de Recursos Humanos para o Setor de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (PRH-ANP).
Rodrigo Guerra lamenta a situação, porque considera competições como essa importantes para que os estudantes formem redes de contatos, iniciem suas carreiras e apreendam novas ideias. Em sua visão, eventos internacionais da grandeza da RoboCup ’‘ajudam a entender nossas capacidades no contexto global para, assim, buscar nosso papel no contexto local”. O professor ainda destaca que, se o Brasil capacitasse seus jovens para o desenvolvimento de projetos tecnológicos, muitos negócios poderiam ser gerados e, assim, mudar a configuração econômica do país.
Texto: Laurent Keller, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Divulgação
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista