Nesta segunda-feira (20), foi celebrado o Dia Mundial do Refugiado. Na UFSM, a data foi marcada por dois eventos, em frente ao Restaurante Universitário I e no auditório da Reitoria. Os eventos foram organizados pelo Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional (Migraidh) e a Cátedra Sérgio Vieira de Mello da UFSM, em homenagem e reconhecimento da luta dos refugiados, além de dar visibilidade a essa causa dentro dos muros da universidade.
O primeiro evento contou com a presença de estudantes mobilizados, representantes de grupos refugiados, representantes da Seção Sindical do ANDES-SN na Universidade Federal de Santa Maria (SEDUFSM), representantes do Migraidh e do Diretório Central dos Estudantes da UFSM (DCE). De acordo com a coordenadora do Migraidh, Giuliana Redin, a intenção da primeira fase do ato foi conscientizar os estudantes sobre essa causa: “a luta por reconhecimento é um dos principais desafios dos refugiados”, afirmou.
Em frente ao RU, o grupo falou sobre a presença e os desafios do migrante refugiado dentro da universidade. Para Redin, “vinte de junho é um dia que celebra a luta e a resistência dessa população que é obrigada a se deslocar forçosamente para refazer a sua vida vida em outro lugar”. Ela também enfatizou a necessidade de colocar a UFSM no meio dessa luta, porque a universidade é um reflexo da sociedade, portanto, deve ser um local que dialogue sobre a acolhida.
O estudante de psicologia, membro do Migraidh e refugiado, Esmel Luc, também discursou no espaço, relembrando a importância de uma universidade que busca a internacionalização. Além disso, fez um apelo aos estudantes que cruzavam pelo espaço, trazendo para a reflexão o futuro dos estudantes universitários, que muitas vezes imaginam-se fazendo mestrados e doutorados fora do Brasil, mas esquecem-se de que essa situação os coloca como migrantes: “Falar de migração é para todos, ninguém sabe até onde vai chegar um dia. A gente sonha e a gente chega em muitos lugares”. Já Redin relembrou que, no decorrer da história, os migrantes foram colocados como “bodes expiatórios” para todas as mazelas sociais que é preciso uma formação universitária que se coloque eticamente ao lado desse grupo social tantas vezes esquecido.
Já na Reitoria, estudantes migrantes relataram sobre suas experiências pessoais dentro da UFSM. O estudante do curso de Medicina, Haroon Ali, falou sobre a falta de visibilidade desse grupo social dentro da universidade: “Deveríamos aproveitar esses intercâmbios culturais dentro da universidade, promover de verdade essas interações culturais” Além disso, o evento contou também com a palestra, via Google Meet, do atuante nacional da Cátedra Sérgio Vieira de Mello junto à Agência da ONU para Refugiados, ACNUR, Wiliam Laureano. Ele apresentou a importância do espaço criado dentro da universidade e do trabalho da Cátedra em difundir iniciativas de educação, pesquisa e principalmente da extensão.
No encerramento das atividades, foram apresentados pequenos curtas de animação sobre a temática, seguido de um debate entre os estudantes sobre a acolhida e o papel da universidade com esse cuidado humano. O estudante de Relações Internacionais e membro do Migraidh, Douglas Welter Reichert, ressaltou também a importância da visão humanizada desse processo de inserção social do migrante: “Quando você atravessa uma fronteira, atravessa para outro mundo, precisa dar nome a tudo de novo. E como eu digo como me sinto se não tem palavra para isso?”. Por último, a coordenadora do Migraidh, reafirmou o papel fundamental que o Migraidh tem de enxergar além dos números e estabelecer um apoio fundamental de inserção social desse grupo.
O acolhimento na UFSM:
De acordo com a ACNUR, o número de pessoas deslocadas por violência, guerra e abusos de direitos humanos chegou a 89,3 milhões no último ano. Na região central do Rio Grande do Sul, A Polícia Federal estima que na região central do Rio Grande do Sul, esse número é de 1.300. Na UFSM, são cinquenta ingressos através da da Política de Ingresso de Imigrantes e Refugiados. Instituído em 2013, o Migraidh é o principal órgão atuante na área de acolhimento dentro da universidade. Em 2015, o órgão aprovou o plano de trabalho para convênio com a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, uma parceria da ONU.
Atualmente o Migraidh funciona como um coletivo onde atuam pesquisadores, professores, estudantes e técnicos de diversas áreas do conhecimento, além de atores sociais, migrantes e refugiados. O grupo fornece o trabalho de assistência integral aos migrantes, através do atendimento jurídico e documental, atendimento psicossocial, juntamente ao Núcleo de Psicanálise da UFSM, encaminhamentos para serviços públicos, inserção laboral e ensino da língua portuguesa, além da produção do conhecimento em direitos humanos e ativismo político.
A componente do Migraidh e Cátedra, Marília Ravanello, ressaltou a importância de divulgar o papel do grupo além da universidade “Se você conhece algum migrante, fale sobre o nosso grupo, podemos ajudá-los em todas as funções que oferecemos”. Eles lembram que além das fronteiras físicas que os migrantes enfrentam, eles deixam para trás boa parte de sua história e são inseridos em uma cultura totalmente nova. O papel do Migraidh é, também, potencializar essa resistência e fortalecer os três pilares da educação universitária: pesquisa, ensino e extensão.
Reportagem e fotos: Ana Luiza Dutra, bolsista de Jornalismo
Edição: Davi Pereira