Depois de dois anos parado por conta da pandemia, o Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da UFSM retornou com as atividades do Grupo de Laboratórios Associados (Glass) no mês de abril. O grupo, criado em 2017, é voltado para o acompanhamento e a análise de performance de atletas e equipes confederadas de Santa Maria, e tem por objetivo tornar-se, nos próximos anos, o primeiro centro integrado de avaliação de performance do interior do Rio Grande do Sul.
O intuito do Glass é proporcionar condições adequadas de avaliação de performance às federações e confederações esportivas. A partir do acompanhamento das equipes feito pelo Grupo, é possível identificar problemas de desempenho dos atletas avaliados e formas de melhorar essas questões, por meio das expertises de quatro esferas do CEFD: fisiologia, bioquímica, biomecânica e cineantropometria.
De forma prática, o Glass organizou cronogramas específicos para cada equipe, de acordo com as datas de campeonatos que elas disputam. A partir disso, serão feitas avaliações semanais até o final de 2022. No momento, o Glass está monitorando equipes de futebol americano, vôlei, canoagem, atletismo, futsal e futebol de campo, entre elas o Esporte Clube Internacional de Santa Maria. O preparador físico do Inter SM, Pedro Henrique Forgiarini, relata que o time não contava com nenhuma estrutura de acompanhamento do nível do Glass. Somente eram realizadas avaliações de pré-temporadas, usuais em clubes de futebol. Forgiarini espera que o projeto se expanda, para que o time possa manter a parceria com o Grupo.
Santa Maria como potencial centro de referência no esporte
O coordenador do Glass, Luiz Fernando Royes, relata que, na década de 80, a cidade era considerada um centro de referência de educação física no Brasil. Contudo, a ausência de programas de incentivo ao esporte fez com que o município perdesse esse posto ao longo dos anos.
Atualmente, existe um único laboratório de alta performance no país, localizado no Rio de Janeiro, que é mantido pelo comitê olímpico e pelo governo, de acordo com Royes. “Imagina se você é chefe de uma equipe que mora em Santa Catarina, por exemplo, e tem que deslocar todos os atletas para o Rio de Janeiro. Então, é óbvio que existe uma necessidade de ter um outro centro, por isso foi criado o Glass”, explica o coordenador.
Royes ainda destaca que mesmo com dificuldades e baixo investimento, a região central do Rio Grande do Sul conta com modalidades que sempre disputam com times grandiosos, necessitando, portanto, de um acompanhamento qualificado. Por tais questões, que o Grupo de Laboratórios Associados se desenvolveu, conectando laboratórios que, até então, trabalhavam de forma isolada. O Grupo acredita ser possível auxiliar na promoção de atletas e equipes da região central do estado, descentralizando o processo de descoberta de novos talentos esportivos dos grandes centros brasileiros.
As quatro áreas que compõe o Glass
Bioquímica: É a área responsável por analisar os biomarcadores que permitem elaborar treinamentos físicos específicos para o corpo de cada atleta, além de ser capaz de fornecer dados que demonstram se o esportista está cansado, ou se pode vir a desenvolver lesões. Para realizar tais observações, é coletada uma amostra de sangue ou saliva do atleta, que possibilita observar marcadores de estresse inflamatório e de overtraining, por exemplo. As análises são feitas no laboratório de bioquímica da UFSM.
Cineantropometria: Esse campo de atividades, executadas no LABCINE da UFSM, dá parâmetros acerca da composição corporal do esportista, como a espessura de fibras e o composto de líquidos, aspectos que permitem determinar se o atleta está em um macrociclo de treinamento, por exemplo.
Biomecânica: Área voltada para o estudo do movimento e da força do atleta, estimando como a relação entre esses dois aspectos pode melhorar o desempenho do profissional. O laboratório (LABIOMEC) desse setor pode ser comparado com os melhores do país.
Fisiologia: Analisa como o atleta está em relação a parâmetros biofisiológicos, que estudam frequência cardíaca, pressão arterial e capacidade máxima de captação de oxigênio, por exemplo. Tais atividades são realizadas no laboratório de fisiologia do exercício da UFSM.
Por meio de todas essas análises, as equipes passam a deter o histórico completo de cada atleta, conseguindo, desse modo, trabalhar para que ele atinja seu potencial máximo, enquanto esportista.
O futuro do Glass
Aprovado em 2017 junto ao Ministério do Esporte (atual Ministério da Cidadania), o programa ainda não havia conseguido chegar à execução prática, devido ao atraso na aquisição de equipamentos e à chegada da pandemia de Covid-19, em março de 2020. Por isso, o projeto, que seria finalizado em meados de 2022, teve seu prazo de execução prolongado até o final de 2023, ganhando mais um ano e meio para cumprir as metas estipuladas.
No momento, o Glass já está com 90% dos equipamentos de avaliação comprados, por meio do recurso financeiro aprovado pelo antigo Ministério do Esporte. O valor corresponde a R$ 3.122 000,00.
Segundo o coordenador do Glass, o projeto já está em contato com o Ministério da Cidadania para que sejam elaborados outros programas que deem procedimento à avaliação de atletas de alto rendimento confederados, quando a vigência do Glass finalizar em 2023. Projeta-se também que, no futuro, outros laboratórios sejam agregados pelo Grupo, tornando a avaliação de performance ainda mais completa.
Texto: Laurent Keller, acadêmica de jornalismo, bolsista da Agência de Notícias da UFSM
Imagens: Ana Alícia Flores, acadêmica de Desenho Industrial, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista da Agência de Notícias