Contando com o apoio da UFSM, o Centro de Microscopia e Microanálise (CMM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) adquiriu dois novos microscópios eletrônicos de transmissão, equipamentos de última geração que começaram a ser fabricados no início deste ano pela empresa Jeol, do Japão, em um investimento total de R$ 12,492 milhões. A compra dos dois novos microscópios do CMM foi realizada por meio de uma chamada pública lançada em 2016 pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A previsão é de que os novos equipamentos sejam entregues para a Ufrgs entre março e abril de 2023. Com isso, os dois microscópios eletrônicos de transmissão que estão atualmente no CMM serão doados para a UFSM.
Essa chamada pública foi aberta para o recebimento de propostas de apoio para centros nacionais de infraestrutura científica e tecnológica de caráter multiusuário, ou seja, que atendam as necessidades de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, que atuem em diferentes instituições. O objetivo principal da chamada era a aquisição, manutenção e operação de equipamentos de média e grande complexidade. Além de microscópios eletrônicos de transmissão, o edital possibilitava a compra de equipamentos como citômetros de fluxo, difratômetros de raios x, espectrômetros de massa, microscópios confocais, microscópios de excitação por dois fótons, microscópios de força atômica, aparelhos de ressonância magnética nuclear, sistemas de cromatografia gasosa, sistemas de cromatografia líquida de alta eficiência com detector eletroquímico e ultramicrótomos.
O convite para a UFSM participar da chamada pública junto com a Ufrgs partiu do professor Paulo Fichtner, coordenador do projeto de modernização do CMM. Ele fez a proposta para o líder do Laboratório de Magnetismo e Materiais Magnéticos (LMMM) da UFSM, Lucio Strazzabosco Dorneles, que é também o chefe do Núcleo de Propriedade Intelectual da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (Agittec).
Como a UFSM atualmente não conta com essa tecnologia, quando alunos ou professores da instituição – das diferentes áreas do conhecimento, como a biologia, física, engenharias, medicina, odontologia e geociências, entre outras – precisam analisar amostras em microscópios desse tipo, precisam enviá-las para a Ufrgs, a Universidade Federal de Santa Catarina ou alguma outra universidade que os disponibilize. Inclusive alunos do Programa de Pós-Graduação em Física da UFSM já produziram teses e dissertações com base em amostras analisadas nos microscópios eletrônicos de transmissão da Ufrgs. Embora não possua ainda esse tipo de microscópio, a UFSM conta em sua estrutura com outras técnicas de alta resolução, como microscopia de força atômica e microscopia eletrônica de varredura.
O professor Lucio Dorneles explica que, na microscopia eletrônica de transmissão, as amostras a serem analisadas precisam passar por uma preparação delicada e complexa antes de ser submetidas aos microscópios. É necessária uma amostra ultrafina, cuja obtenção é possível por diferentes métodos, sendo a medição de sua espessura possível somente na casa dos micrômetros ou até nanômetros (unidades de medida equivalentes, respectivamente, a um milésimo e a um milionésimo de milímetro).
Na microscopia eletrônica de transmissão, um feixe de elétrons é transmitido sobre uma amostra ultrafina, e a fração do feixe que a atravessa é coletada abaixo, compondo o sinal formador da imagem. Na análise de materiais inorgânicos, é possível observar, por exemplo, o posicionamento dos átomos que os compõem. Em materiais orgânicos, como tecidos celulares, o microscópio eletrônico de transmissão possibilita inclusive a visualização da estrutura interna das células.
Características – Ambos da marca Jeol, os dois modelos que serão instalados na UFSM no ano que vem são o JEM 1200 ExII (imagem ao lado) e o JEM 2010 (imagem acima). O primeiro pode alcançar uma resolução de linha de 0,45 nanômetro e uma resolução de ponto de 0,20 nanômetro; no segundo, a resolução de linha é de 0,25 nanômetro e a de ponto é de 0,14 nanômetro. Quanto à capacidade de ampliação, no primeiro ela é de 500 mil vezes e, no segundo, de 1,5 milhão de vezes.
Atualmente nenhum dos dois microscópios está em funcionamento. O professor da Ufrgs Paulo Fichtner afirma que ambos estão em ótimo estado operacional, porém estão desligados em razão de periféricos que precisam de conserto (no-break, no caso do JEM 2010, e bomba de vácuo mecânica, quanto ao JEM 1200 ExII).
Apesar de se tratar de equipamentos com mais de 25 anos de existência (os microscópios foram fabricados em 1995 e entregues para a Ufrgs em 1996), o professor Lucio acredita que – como se trata de uma doação e de uma tecnologia que a UFSM atualmente não possui – os microscópios serão benéficos para as pesquisas desenvolvidas na universidade, contribuindo para a produção de teses e dissertações em diferentes programas de pós-graduação. Na opinião dele, o manuseio dos microscópios eletrônicos de transmissão pelos pesquisadores, professores e acadêmicos resultará na obtenção de know-how pela UFSM, o que capacitará a instituição para a compra de equipamentos novos no futuro.
Texto: Lucas Casali