Na manhã de quinta-feira (12), aconteceu o evento de lançamento da Redeitec Bioinsumos – RS. A Rede de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Bioinsumos do Rio Grande do Sul tem o propósito de desenvolver os processos de produção, formulação e aplicação de bioinsumos multifuncionais nos cultivos agrícolas gaúchos, visando a substituição gradual de fertilizantes, fungicidas químicos e agrotóxicos.
Hoje, a utilização de agrotóxicos é um tema que gera muito debate e questionamentos sobre o impacto de tais produtos na saúde da população no mundo inteiro. Nesta perspectiva, o propósito do grupo é acelerar e acompanhar a adoção dos bioinsumos, recursos e tecnologias de origem vegetal, animal ou microbiana que podem substituir ou reduzir o uso de defensivos químicos tradicionais no agronegócio brasileiro.
A criação da Rede está baseada no conceito de indústria 4.0, com a entrada de matéria prima e saída do produto, sem intervenção entre as etapas. Márcio Mazutti, coordenador do projeto na UFSM explica que a Rede objetiva entregar para a agricultura gaúcha produtos amigos do ambiente, reduzindo os custos de produção e a evasão de divisas, desenvolvendo tecnologias locais e treinamento de pessoas para atender à crescente demanda por alimentos mais saudáveis. “Tradicionalmente, as universidades desenvolvem com excelência pesquisas científicas com impacto potencial no mercado, mas com um nível de maturação tecnológica muito baixo, o que dificulta a transferência ao setor produtivo. A partir da infraestrutura de equipamentos e pessoal da Redeitec será possível entregar produtos ao mercado com alto nível de maturação tecnológica”, explica Mazutti.
O projeto, que possui sede na UFSM, concorreu em uma seleção da Fundação de Amparo à pesquisa do Estado do RS e, dentre os mais de 100 inscritos, a Reditec foi uma das 14 selecionadas, e deverá receber recursos da Fundação para desenvolvimento e consolidação da Iniciativa. A ação ainda conta com o apoio da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (Agittec), do Parque de Inovação, Ciência e Tecnologia da UFSM e da empresa Bioagreen, startup incubada na UFSM. Também é composta por 34 pesquisadores de 12 Instituições de Ensino Superior do estado do Rio Grande do Sul: UFSM, URI, UFRGS, UFPEL, UCS, UNIPAMPA, UPF, IFF, IFRS, UERGS, UNICRUZ e UNIJUÍ, e 12 empresas parceiras (startups e empresas consolidadas) ligadas à pesquisa, produção, desenvolvimento, avaliação e a comercialização de bioinsumos ou de equipamentos para sua aplicação.
Lançamento da Reditec
Durante a solenidade de lançamento do Redeitec Bioinsumos – RS, o reitor da UFSM, Luciano Schuch, falou sobre a importância, não só desta Rede, mas da inovação tecnológica nas universidades, que, junto a institutos, geram quase 90% da tecnologia produzida no país. Ainda lembrou que há três áreas prioritárias nos desenvolvimentos dos parques tecnológicos: agrotecnologia, bioinsumos e Foodtec.
Tiago Marchesan, diretor do Centro de Tecnologia da UFSM agradeceu ao projeto por quebrar paradigmas, ou “muros”, que existem entre as unidades de ensino, ao unir os Centros de Ciências Rurais e de Tecnologia em uma única pesquisa. “A sociedade tem cada vez mais a necessidade deste conhecimento transversal que a universidade é capaz de produzir e entregar com muita qualidade”, afirma ele. Sandro Medeiros, diretor do Centro de Ciências Rurais (CCR), falou sobre a importância desse tipo de pesquisa, que acaba levando o conhecimento para a sociedade, com grande repercussão social, tanto na questão de segurança alimentar, quanto na qualidade dos alimentos, que se tornam mais saudáveis com a diminuição do uso de produtos químicos. Também destacou a questão econômica, já que existe um retorno à universidade.
Em seguida, o evento contou com a apresentação do Redeitec Bioinsumos, feita pelos coordenadores do projeto, Márcio Mazutti, professor do Departamento de Engenharia Química, e Jerson Guedes, professor do Departamento de Defesa Fitossanitária da UFSM. Jerson Guedes iniciou a apresentação falando sobre a história da Rede e lembrou que os estudos nesta área são feitos por pesquisadores do CCR há mais de 30 anos. Ele destacou que bioinsumos é um tema emergente, tanto pela crise dos fertilizantes, decorrente da guerra no Leste Europeu, quanto pela curva de crescimento da população, que exige mais investimentos em formas sustentáveis de produção para garantir a segurança alimentar do mundo.
Márcio Mazutti apresentou especificidades técnicas da Redeitec, que funciona sobre três pilares. O primeiro deles é a aplicação de novas tecnologias para maximizar a produção em processos tradicionais de cultivos, que não sofrem inovações há décadas. O segundo são as novas tecnologias de formulação de bioprodutos, que hoje ainda são questionados no mercado, por sua baixa durabilidade em prateleiras. O terceiro é a tecnologia de aplicação, já que esses produtos têm sido utilizados sob a mesma ótica que produtos químicos.
Atualmente, segundo Mazutti, a etapa de transferência de tecnologias possui dificuldades, mas um dos maiores legados que esse projeto deixará para a UFSM está na infraestrutura de transferência de tecnologias que propiciará a entrega de produtos ao mercado com TRL (Nível de Maturidade Tecnológica) 6 ou 7, e dessa forma, as empresas terão uma segurança técnica muito maior para fazer investimentos.
Após a apresentação, foi realizada a palestra “Programa Nacional de Bioinsumos: bases para a agropecuária sustentável”, ministrada pela inspetora federal Valéria Burmeister Martins, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Também estiveram presentes no lançamento Maria Daniele Dutra, superintendente do Parque de Inovação, Ciência e Tecnologia da UFSM; Daniel Bernardon, diretor da Agittec; Jairo Carbonari, representante do MAPA/RS; Engenheiro Agrônomo Alencar Rugeri, representante da Emater/RS.
Texto: Ana Laura Iwai e Mariane da Silva
Fotos: Ana Laura Iwai
Edição: Mariana Henriques