No último domingo (24), a Polifeira do Agricultor comemora o seu 5º aniversário. Trata-se de um projeto de feira livre, inspirado nos circuitos curtos de produção e consumo de alimentos do município de Santiago (RS), que o seu coordenador, professor Gustavo Pinto da Silva, desenvolvia quando elaborava seus estudos de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da UFSM. Apoiada pela Reitoria da UFSM e pela direção do Colégio Politécnico, a Polifeira do Agricultor nasceu como um projeto de extensão com o objetivo de aproximar a produção local e regional do consumidor, colocando o alimento como um tema que pudesse ser tratado de forma transversal por diferentes áreas do conhecimento.
Na Polifeira, os agricultores podem comercializar somente produtos de produção própria e conhecida, por isso recebem assistência técnica de estudantes da UFSM e suas produções são monitoradas pelo Laboratório de Análise de Pesticidas de Alimentos. Para a coordenação do projeto, integrada por técnicos e docentes do Colégio Politécnico e de outros departamentos da UFSM, a feira é apenas parte de um conjunto muito maior de trabalho que trata da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. O agricultor muda as práticas, o estudante aprende, o professor repensa a aula, o futuro profissional modifica sua maneira de ver os alimentos e o pesquisador repensa seus objetos de estudo.
O resultado não poderia ser melhor: nesses cinco anos, já foi contabilizada a movimentação de aproximadamente R$ 4 milhões por meio da feira livre, um valor que beneficia aproximadamente 30 famílias, provenientes de 11 municípios diferentes. Toda essa venda é monitorada por boletins de vendas, os quais geram informações para pesquisas futuras. O monitoramento tem coordenação do professor Daniel Lichtnow, da área de informática do Colégio Politécnico da UFSM. “Quando há uma queda de vendas de um agricultor, é hora de verificar o que está acontecendo e cabe à equipe de campo fazer a verificação”, afirma o professor. Assim, sempre é feita uma análise minuciosa dos resultados e cabe ao técnico em agropecuária Raviel Dickel, juntamente com estudantes e outros docentes presentes no projeto, realizar visitas nas propriedades rurais, observar como podem ajudar na melhoria dos processos produtivos e até mesmo buscar produtos com maior valor agregado.
Essa experiência, que conjuga uma série de ações especializadas, tensiona os gestores dos municípios de origem dos feirantes, já que, invariavelmente, os agricultores entendem que algo pode ser feito para promover o fortalecimento da agricultura familiar.
Projetos parceiros – Dentre os diferentes projetos que a Polifeira desenvolve está o Projeto Ovos Coloniais da Região Centro, no qual um conjunto de agricultores promove a produção de ovos de galinhas livres de gaiola, com acesso a piquetes de pastagens, apoiados pelo Serviço de Inspeção Municipal da Prefeitura Municipal de Santa Maria. Ao todo, passam pelo entreposto do Colégio Politécnico aproximadamente 1.500 dúzias de ovos por semana, que são comercializados principalmente na Polifeira, mas também em outras feiras livres, supermercados e padarias. Outro projeto que se destaca é o de arroz sem o uso de defensivos agrícolas, uma ação do Grupo de Pesquisas de Arroz Irrigado da UFSM que busca alternativas para a produção na agricultura familiar e do qual a Polifeira do Agricultor tem sido parceira há 3 anos. Segundo o professor Gustavo Pinto, esses projetos integram ações que também visam a repensar a questão do abastecimento regional: “é inadmissível que, com tantas famílias de agricultores precisando de trabalho e renda e com tantas possibilidades de produção, nossa região continue a importar quase tudo que está nas prateleiras dos supermercados”.
Inspiração para novas iniciativas – Em todas essas ações, segundo Cristiano Dotto, coorientador da Polifeira, o componente mais importante é a formação de recursos humanos. Já passaram mais de 30 alunos pelo projeto de extensão, muitos deles saindo das atividades de bolsista diretamente para empregos em suas áreas. Esse é o caso, por exemplo, de Flávia Magrini, estudante de Agropecuária e ex-bolsista de assistência técnica, que hoje atua na Cooperativa de Produção e Desenvolvimento Rural dos Agricultores Familiares de Santa Maria (Coopercedro) e afirma: “trabalhar como bolsista na Polifeira do Colégio Politécnico da UFSM se mostrou uma oportunidade inovadora. Estar perto do produtor desde a hora do cultivo até a venda do produto é um observatório de experiências muito vasto.” É igualmente o caso da estudante de Gestão Ambiental Camila Costa, também ex-bolsista de assistência técnica, que depois da experiência na Polifeira passou a produzir morangos e comercializar no modelo de entregas domiciliares.
Outra forma de explorar os conhecimentos obtidos na feira é o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos integrados à Polifeira do Agricultor. Muitas pesquisas desenvolvidas na UFSM têm a Polifeira como objeto de estudo. Como exemplo, está a dissertação de mestrado de autoria do pós-graduando em Direito Claiton Ilha, que se inspirou na Polifeira do Agricultor para estudar o direito à alimentação a partir de experiências locais, trabalho que será lançado como livro nos próximos dias.
O resultado também inspira prefeituras municipais, universidades e organizações de assistência técnica, que têm vindo conhecer a Polifeira do Agricultor para aprender com a experiência. O que mais chama atenção tem sido o monitoramento de resíduos de pesticidas nos alimentos, já que em cinco anos foram avaliados mais de mil alimentos, obtendo-se, em 2021, um percentual de alimentos com algum resíduo menor que 1%. “Quando algum problema ocorre, temos que verificar por que ele ocorreu e quais medidas temos que tomar para mitigar esses problemas”, reforça o técnico Raviel Dickel. O desafio é construir processos de transição agroecológica dentro das condições em que os agricultores operam. A maioria deles é de produtores convencionais e as alternativas sugeridas buscam encontrar opções tecnológicas que respeitem o meio ambiente, preservem os recursos naturais e não contaminem os consumidores.
Comunicação – Todo o trabalho conta também com um grande esforço na área da comunicação. Ao longo do tempo, bolsistas da Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Desenho Industrial estão a pensar como fazer essas informações chegarem aos consumidores. O grande desafio é minimizar o clima de ansiedade pública que a população sente sobre os alimentos que consomem. A comunicação, por meio das redes sociais e também nas relações interpessoais, tem promovido informações que buscam esclarecer sobre alimentação e consumo. Por trás de todo esse trabalho, existe também um batalhão de servidores da UFSM, estudantes e até mesmo consumidores que espontaneamente ajudam nesse processo. Aos poucos, as pessoas estão mudando a forma de tomar decisões alimentares, e o trabalho da Polifeira do Agricultor é chamar atenção para alguns aspectos que por vezes podem ser pouco considerados.
O sucesso da feira tem sido tanto que, desde o começo de abril, ela também está sendo realizada dentro do Shopping Praça Nova. Dentro dessa ação articulada com o shopping, participam agricultores dos municípios de Nova Esperança do Sul, Santa Maria, Tupanciretã, Agudo e São Martinho da Serra. O objetivo, segundo o professor Roberson Macedo, coordenador da feira em questão, é que sejam criados novos espaços de apoio aos agricultores e também oportunidades para que eles estejam mais próximos dos consumidores. A direção do shopping não só reconhece o trabalho da Polifeira do Agricultor como também está disposta a colaborar com o desenvolvimento da agricultura familiar da região centro.
Uma semana de comemorações – Para comemorar seu aniversário, a Polifeira abriu um edital de seleção para novos feirantes, com o propósito de aumentar a diversidade da feira e criar novas oportunidades para os agricultores familiares. As inscrições estarão abertas até esta terça-feira (25). Acessando o edital (disponível na página do Colégio Politécnico), os interessados podem também conhecer detalhes do regulamento de participação e do projeto como um todo.
Além disso, nesta quinta-feira (28), das 13h às 17h30min, será oferecido um bolo de 1 metro de comprimento para o público visitante da feira, que será realizada próximo ao Planetário. Concomitante a essa comemoração, haverá feiras de forma contínua no Shopping Praça Nova e na Avenida Roraima. Os horários podem ser consultados abaixo:
– Polifeira do Agricultor no Shopping Praça Nova: segundo e quarto domingo de cada mês, das 14h às 20h;
– Polifeira do Agricultor na Avenida Roraima: todas as terças-feiras, entre Faixa Velha e a Faixa Nova de Camobi, das 7h às 12h30min;
– Polifeira do Agricultor no campus sede da UFSM: todas as quintas-feiras no Largo do Planetário, das 13h às 17h30min.
Outras informações constam na página da Polifeira no Instagram.
Texto: Assessoria de Comunicação do Colégio Politécnico